UMA VILA PASSADA

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No Amapá, fenômeno “terras caídas” varre vila do mapa no Arquipélago do Bailique

ComComunidades do Arquipélago do Bailique, na Foz do Amazonas, são impactadas com mais intensidade pelo fenômeno “terra caída“. (Foto: Domiciano Gomes)





Para líder comunitário, situação no arquipélago não pode ser classificada só como um fenômeno natural, mas também consequência da ação do homem. As construções das usinas hidrelétricas no Rio Araguari e a criação de búfalos que levou ao assoreamento e desvio do manancial são apontadas como causas para desastre ambiental.


Domiciano Gomes*
dos varadouros de Macapá

Das 57 comunidades que integram o Distrito de Bailique, uma já não existe mais. Trata-se da vila Cubana, uma das mais antigas do arquipélago onde cerca de 40 casas , tipo palafitas em madeira, ocupavam as margens de um dos canais da região. Em razão do fenômeno conhecido como terras caídas, responsável pela erosão e destruição de diversas regiões do arquipélago, os moradores foram perdendo suas casas e, de uma hora para outra, todas as 40 residências foram destruídas pelo desbarrancamento das margens do Rio Amazonas, provocado pela força violenta da maré.

No local nenhuma casa foi reconstruída – como geralmente ocorre – e todas as famílias de ribeirinhos que residiam na vila se deslocaram para a cidade ou para outras comunidades, buscando fugir da realidade que atinge todos os moradores do arquipélago.

Segundo levantamento da Defesa Civil Estadual de 2019, cerca de 1.000 famílias já tiveram suas casas destruídas em todo o arquipélago, resultando na saída forçada de mais de 20% da população do distrito. Como o dado encontra-se defasado e desde então o número de casas atingidas só tem aumentado, os números atuais certamente são bem maiores.

Além do desbarrancamento das margens do Rio Amazonas, a salinização é outro grave problema para os moradores e que também tem impactado na produção de alimentos e, consequentemente, na saída de mais famílias das vilas do distrito Segundo o líder comunitário Paulo Rocha, até o momento as vilas mais atingidas foram Progresso, Macedônia, Ponta da Esperança, Camatatuba e São Pedro.



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Para o líder comunitário, a situação no arquipélago não pode ser classificada como um fenômeno, mas sim como consequência da ação do homem. Paulo atribui os graves danos sociais e ambientais no arquipélago às construções das hidrelétricas no Rio Araguari e a criação de búfalos que levou ao assoreamento e desvio do referido rio.

“Desde a construção da primeira hidrelétrica, a Coaracy Nunes, nós observamos mudanças, porém com a construção de outras três, veio o impacto, associado ao desvio do rio pelos criadores de búfalos na região. No momento somos nós que estamos sofrendo as consequências, mas o problema só se agrava e, se nada for feito, a conta vai chegar para mais gente”, desabafa Rocha.

Imagens em vídeo realizadas pelos moradores mostram canais assoreados onde antes havia água em abundância, hoje os moradores caminham no leito dos rios empurrando as embarcações.





*Reportagem publicada originalmente no site ConectAmapá e compartilhada pelo autor com Varadouro.




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