10 coisas que aprendi em 4 anos de Cruzeiro do Sul

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Nascida às margens do rio Juruá, Cruzeiro do Sul completa neste 28 de setembro 120 anos (Foto: Paulo Henrique Costa)




Por Leonísia Moura
desde os varadouros de CZS


1 – O tempo pode mudar radicalmente a qualquer momento, não se confie na ferocidade do calor e esteja preparada: carregue um guarda-chuva e um agasalho consigo.

2 – A palavra “mesmo” – ou melhor, mermu – não é usada da mesma forma que no resto do país (o charme está na entonação diferenciada).

3 – A interjeição “hun” possui uma multidão de significados no dialeto juruaense, depende do contexto, da entonação e do olhar. Porque pra quem bem entende nenhum pedaço de palavra se faz necessário, a comunicação se realiza pelos poros.

4 – Não existe amizade verdadeira sem arenga muita.

5 – Você ainda não comeu a melhor farofa do mundo se ela não foi feita com farinha cruzeirense (e devo acrescentar que minha comida favorita é farofa desde que me entendo por gente).

6 – Cobras gigantes podem habitar subsolos de igrejas e têm sono pesado, mas convém andar em passos leves.

7 – Baixaria é coisa boa e vai bem no café da manhã.

8 – Rios são caminhos e destinos. Instrumentos e entidades. Milagres e terrores. Rios são emaranhados de poéticas ambivalentes que constituem o viver, a memória e o porvir.

9 – Existe uma relação íntima entre balsas e política.

10 – Os tempos podem mudar radicalmente a qualquer momento e não há nada que nos prepare para as reviravoltas da vida, mas o encontro com a solidariedade e o bom humor de um(a) cruzeirense é algo com que certamente podemos contar para atravessar as tempestades (inclusive as literais).


Neste dia em que celebramos a existência de Cruzeiro do Sul, faço questão de demarcar a imensa gratidão que tenho por este cantinho de Amazônia no mundo. Cidade que me ofertou a oportunidade de aprender a ser professora e que já me deu alguns dos melhores momentos de minha vida.\

Ei, princesinha do Juruá, te vejo perdendo teus traços de cidade pequena, se esticando aos céus em alvenaria e antenas, cuspindo fumaça e entupindo tuas veias de automóveis. Neste teu aniversário, te desejo que além dos problemas de cidade grande, você também receba a parte boa do chão que sofre de urbanização crônica: organização coletiva que exerce controle social junto ao poder público; mais investimento e maior planejamento em políticas habitacionais, culturais e de mobilidade urbana; mais equipamentos públicos para exercer o direito ao lazer e do atendimento de saúde etc. etc. etc.

Que como população que te habita, a gente aprenda cada vez mais a crescer olhando pro rio (tomando de empréstimo as palavras de Jaycelene Brasil) quer dizer, que a gente aprenda a se olhar, gostando do que vê e reunindo energia e coragem pra mudar o que não gosta, tendo a confiança de que o nosso parâmetro somos nós mesmas, que nosso espelho é o rio – não como Narciso, mas como Oxum.

Que amemos e protejamos a diversidade humana, a diversidade de crenças, de saberes e das outras formas de vida que fazem da Floresta uma floresta. Que sigamos escrevendo histórias sobre a carne desta cidade com a tinta ofertada pelos ossos do Tempo.

Viva Cruzeiro do Sul! Viva a aniversariante!

Viva a gente que nela habita e trabalha, derramando seu suor sobre ela e fazendo dela o que ela é: nossa casa.

Entre a floresta e o concreto, CZS (como é mais conhecida por sua sigla) torna-se o principal centro urbano da Bacia do Rio Juruá (Foto: Paulo Henrique Costa)


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