Leandro Chaves
dos varadouros de Rio Branco
Uma nota de repúdio assinada por sete organizações do movimento negro acreano insinua que o senador bolsonarista Márcio Bittar, do União Brasil, agiu de forma racista ao votar a favor de uma emenda para acabar com as cotas raciais e para pessoas com deficiência em institutos e universidades federais. A emenda é de autoria do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem o parlamentar acreano é aliado de primeira linha. O documento considera “inadmissível” que um senador eleito por um estado onde sete em cada dez pessoas se autodeclaram pretas ou pardas (classificadas como negras pelo IBGE) se posicione contra as cotas raciais.
“Inadmissível, porém perfeitamente ‘compreensível’ por inúmeros motivos, sendo certamente um dos principais o racismo. O racista não é só aquele que ofende, que joga uma banana no estádio, que xinga, mas é também aquele que oportunamente assina embaixo com o sistema opressor”, diz a nota.
As entidades defendem que as cotas precisam continuar a existir porque o país “tem uma dívida histórica com a população negra”. No Brasil, afrodescendentes viveram quase 400 anos sob um violento regime de escravidão, que deixou, até hoje, profundas cicatrizes sociais. A ideia das cotas, portanto, seria romper com esses grilhões estruturais.
“Entender isso é fundamental para que pessoas como o senador Márcio Bittar percebam seu lugar de privilégio e, a partir desse lugar, lutem por políticas de ações afirmativas que se baseiem no princípio da equidade e da justiça social, levando em conta principalmente a distância de oportunidades educacionais perpetuadas pelo racismo”, continua. A nota cita ainda uma frase da célebre filósofa negra brasileira Djamila Ribeiro: “Ser contra as cotas raciais é concordar com a perpetuação do racismo”.
Criadas no governo da ex-presidente Dilma Roussef (PT), as cotas raciais completaram 10 anos e, conforme determina a lei, precisaram ser revisadas, ocasião em que 24 senadores de direita aproveitaram para fazer suas investidas contra a política, por meio de emendas. Nenhuma delas foi aprovada. Márcio Bittar foi o único senador do Acre a apoiar o fim das cotas.
Após uma década, as cotas raciais mudaram a cara e a cor das universidades e institutos federais por todo o Brasil, proporcionando ascensão educacional, profissional e social de toda uma geração de jovens negros e periféricos, hoje inseridos no mercado de trabalho em profissões historicamente ocupadas por pessoas brancas. (Reportagem publicada em A Gazeta do Acre)
Leia a íntegra da nota
No nosso Estado, onde mais de 70% da população se autodeclara preta ou parda, ou seja, negra segundo os critérios do IBGE e do Estatuto da Igualdade Racial, é inadmissível que um de nossos representantes em Brasília posicione-se contra as Cotas Raciais. Inadmissível, porém perfeitamente “compreensível” por inúmeros motivos, sendo certamente um dos principais o RACISMO.
O racista não é só aquele que ofende, que joga uma banana no estádio, que xinga, mas é também aquele que oportunamente assina embaixo com o sistema opressor, deixando de dar oportunidades a quem sofreu quase quatrocentos anos de escravidão e continua sofrendo suas consequências.
Somente uma pessoa que não compreende a situação de vulnerabilidade da população negra, principalmente do (a) jovem negro (a), pode ser contra as COTAS. Como diz Djamila Ribeiro – filósofa, escritora e feminista hegra: “ser contra as cotas raciais é concordar com a perpetuação do racismo”
É “compreensível” ainda porque certamente essa pessoa nunca passou fome a ponto de ir à escola por causa da “merenda”, nunca foi a pé porque não tinha o dinheiro da passagem, nunca foi excluído das atividade festivas da escola porque “não tinha perfil adequado”, nunca foi o único a pegar “bacú” da polícia, nunca teve que abandonar os estudos para ajudar no sustento da família, dentre outras situações de discriminação.
COTAS raciais existem e precisam continuar existindo porque o Brasil tem uma dívida histórica com a população negra, e entender isso é fundamental para que pessoas como o Senador Márcio Bittar percebam seu lugar de privilégio e, a partir desse lugar, lutem por políticas de ações afirmativas que se baseiem no princípio da equidade e da justiça social, levando em conta principalmente a distância de oportunidades educacionais perpetuadas pelo racismo.
ASSINAM ESTA NOTA:
Fórum Permanente de Educação Étnico -Racial do Estado do Acre – FPEER
Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial do Acre – COEPIR
Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial – COMPIR
Associação de Mulheres Negras – AMN
União de Negras e Negros pela igualdade – UNEGRO
Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas – NEABI
Federação das Religiões de Matriz Africana do Acre – FEREMAAC