Por Taís Nascimento*
Fome, sede, desnutrição são alguns dos prejuízos e transtornos ocasionados pela severa seca que enfrenta a Amazônia. Além da morte de peixes em razão das altas temperaturas que acabam “cozinhando” dezenas deles, ali, no seu habitat natural.
Mas por que não choca? Por que não há uma grande comoção como quando fenômenos naturais (não tão naturais assim) ocorrem em outros estados, principalmente, Sul e Sudeste?
O relato dos moradores e de profissionais que trabalham em locais de difícil acesso, cujo acesso se dá somente pelo rio ou por meio aéreo, destacam a situação precária em que vivem. Entretanto, a voz é abafada e, no momento, a guerra no quintal do vizinho (não tão vizinho assim) é mais atrativel do que o próprio quintal.
A seca é silenciosa, seus tanques de guerra e armas esvaziam-se aos poucos, e a vida é tirada lentamente, dia após dia, gota após gota, fazendo com que o entorno esqueça do que acontece embaixo do nariz, porque o fim é silencioso e abafado.
No Juruá, no extremo ocidente, duas crianças morreram nos últimos dias, vítimas das consequências da seca, porque o consumo de água não tratável as fizeram contrair uma doença diarreica aguda (DDA), conhecida como diarreia. A enfermidade gera desidratação, e unida a falta do líquido potável, destina os seres à morte.
Imagine que você mora em uma localidade interiorana da Amazônia, seu sustento, sua comida é tirada do rio, mas nos últimos dias a pesca não é próspera. O que você faz? Vai ao mercado? Mas por onde, se o rio não oferece condições de navegabilidade?
Agora, imagine que seu filho, brincando de subir na árvore, caiu e quebrou a costela, perfurando algum órgão. O atendimento deve ser imediato! Mas você mora longe da cidade, precisa de um barco, mas vai demorar porque o leito do rio está baixo e as canoas encalham a cada cinco metros. Seu filho acaba morrendo.
A seca é tão perigosa e feroz quanto um ciclone, mas é silenciosa porque oprime e tortura lentamente. Os lugares vão ficando inóspitos, sem água, sem sombra, sem carne, sem peixe. A cadeia alimentar vai se destruindo, e os homens, que ficam no topo(?) o que vão comer?
Sim, povos da Amazônia e demais povos, vivem uma calamidade pública, silenciosa, mas tão letal quanto uma guerra química, gerando gases de efeito estufa e sucumbindo as cidades a um ponto de ebulição.
* Sou Taís Nascimento, natural de Eirunepé, no Amazonas, e cria das ladeiras de Cruzeiro do Sul, no Acre. Atualmente moro em Brasília. Sou jornalista por atuação profissional há nove anos, escrevendo e relatando as coisas e o modo de vida dos povos da Amazônia. Sou formada em Letras Português e especialista em Comunicação Estratégica e Marketing Político.