Povos indígenas estão entre os mais afetados pelas enchentes dos rios no Acre

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A aldeia Apiwtxa, em Marechal Thaumaturgo, foi atingida pela cheia do rio Amônia; moradias e roçados afetados (Foto: Yara Piyãko/Apiwtxa)




Dos varadouros de Cruzeiro do Sul

As comunidades indígenas em todo o Acre estão entre as mais impactadas pelas cheias dos rios registradas desde as primeiras horas de sábado, 24. As intensas chuvas que caem sobre as cabeceiras dos mananciais na fronteira com o Peru são as responsáveis pelos transbordamentos que inundam as aldeias e os bairros de maioria indígena em cidades como Jordão e Santa Rosa do Purus.

Muitas destas comunidades, aliás, ainda nem se recuperaram dos danos causados aos seus roçados e casas pelas enchentes dos últimos dois anos. Entre os povos afetados estão os Huni Kuĩ, os Manchineru, os Yaminawa, os Ashaninka, os Madijá e os Yawanawa. Há registros de aldeias afetadas desde as bacias do Alto Acre, do Alto Purus, Tarauacá/Envira, até o Alto Juruá.

A Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (Opirj) monitora para responder às enchentes na região do Juruá. Utilizando os relatos diretos de suas lideranças e as informações detalhadas do Distrito Sanitário Especial Indígena Alto Rio Juruá (DSEI ARJ), a Opirj busca apoio urgente de órgãos competentes para mitigar os efeitos das enchentes nas comunidades indígenas.

A situação na região do Juruá é de extrema urgência, com comunidades indígenas enfrentando enchentes devastadoras devido a um período prolongado de chuvas intensas. Lideranças das comunidades Kuntanawa, Ashaninka e Noke Koi relatam o avanço preocupante das águas, ameaçando aldeias inteiras e colocando em risco a vida, a segurança e a subsistência de centenas de famílias.

O rio Juruá e seus afluentes, como o rio Amônia, estão em níveis críticos, forçando o deslocamento de pessoas e a mobilização de recursos de emergência. “A natureza está nos mandando um recado, que precisamos cuidar melhor do nosso planeta. Nós, que vivemos em harmonia com a floresta, estamos sofrendo as consequências das mudanças climáticas”, afirma Francisco Piyãko, coordenador da Opirj e liderança Ashaninka

Rivelino Kuntanawa, do povo Kuntanawa em Marechal Thaumaturgo, compartilhou sua preocupação iminente: “Aqui no nosso território muita chuva também, o rio Juruá está com bastante água, aqui na nossa aldeia já falta pouco para cobrir… a previsão aqui, pelo que a gente já conhece, pode ser uma das maiores alagações.”

Edilson Rosas, liderança do povo Noke Koi, de Cruzeiro do Sul, descreveu os desafios enfrentados em sua comunidade: “Aqui na região, é chuva desde ontem… muita chuva aqui nessa hora ainda e na verdade aqui na minha terra indígena, como todo mundo sabe, que não tem rio, mas os igarapés estão todos alagados.”

A situação mais crítica está na Aldeia Apiwtxa, na Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, em Marechal Thaumaturgo. Famílias já foram acolhidas em outras áreas mais seguras e roçados atingidos. Wewito Piyãko, presidente da Associação do Povo Ashaninka, Apiwtxa, relatou a situação alarmante:

“Na Apiwtxa, muita chuva, o rio Amônia já está muito cheio e todas as famílias já estão em alerta… Para nós da aldeia já estamos preocupados porque na fronteira, lá na comunidade peruana também está chovendo muito ainda e o rio já está cheio. Já tivemos 27 roçados alagados e algumas famílias já deslocadas para áreas mais altas”

O Distrito Sanitário Especial Indígena Alto Rio Juruá (DSEI ARJ) também monitora a situação, em relatório, aponta que áreas específicas já estão sofrendo com o avanço das águas, o que impacta diretamente a vida e a moradia dos povos indígenas.

O Polo Base de Feijó alertou para a possibilidade de algumas aldeias serem atingidas pela enchente, devido ao alto nível do rio Envira. Destaca-se que a Aldeia Chico Kurumim e a Nova União, localizadas no rio Tarauacá (Jordão), estão com água sob as casas, obrigando alguns residentes a se deslocarem para áreas mais altas. Além disso, o bairro Kaxinawá na cidade de Jordão foi completamente evacuado, com os moradores abrigados em uma creche da cidade. Em Tarauacá, no rio Gregório, as aldeias Yawanawa também já foram atingidas pela inundação do manancial.


Pedidos de ajuda aos governos

Com base nesses relatos e na análise da situação fornecida pelo DSEI ARJ, a OPIRJ está convocando o apoio urgente e coordenada com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Distrito Sanitário Especial Indígena e a Secretaria do Estado de Povos Indígenas do Acre (SEPI).

O objetivo é obter apoio efetivo no monitoramento das enchentes, avaliação dos danos e na implementação de medidas de assistência às comunidades afetadas. A OPIRJ enfatiza a importância dessa colaboração interinstitucional para enfrentar a crise das enchentes. “Reforçamos esse pedido para que possamos trabalhar em união, de forma coordenada e otimizando os esforços”, diz a organização em documento enviado às instituições. (Com informações da Ascom Opirj)

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