A mais larga avenida da Amazônia será um grande bosque
Montezuma Cruz
dos varadouros de Rolim de Moura
Se a população apoiar, a mais larga avenida da Amazônia Ocidental Brasileira colocará Rolim de Moura (Zona da Mata de Rondônia) entre os mais lindos cartões postais da região. Quatro décadas atrás, esse município, distante 402 quilômetros da capital Porto Velho, devastava suas reservas de mogno, castanheira, cedro, angelim, peroba e outras árvores nobres, razão por que alguns madeireiros passaram a fazer derrubadas em terras indígenas. Onda calórica que se repetirá de agora em diante poderá ser atenuada com a reposição de árvores nobres dentro de cidades carentes de bosques e parques. Varadouro conheceu uma delas esta semana:
Os cem metros de largura e os quatro quilômetros de extensão da Avenida 25 de Agosto vêm recebendo, a cada seis meses, mudas de plantas frutíferas e ornamentais. Com extensão territorial de 1.45 mil Km² e 56,4 mil habitantes, Rolim de Moura espera mudar a imagem que a tornaria muito melancólica, não fosse a sua florada de ipês amarelo, brancos e amarelos que a tornam agradável todo ano, em junho.
A cidade foi projetada em meados dos anos 1970 pelo governo do extinto território federal, contando com a participação de profissionais da Universidade de São Paulo e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Rolim de Moura tem a ótima chance de se tornar mais acolhedora. “O centro estará totalmente florido dentro de oito a dez anos”, prevê o presidente da Aruana Ação Ambiental da Amazônia, Fabiano Gomes.
O desenvolvimento urbano pressupõe também formar áreas verdes. O secretário municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, professor Carlos Alberto de Lima, acredita nisso A Secretaria de Obras é parceira no roçado. A empresa Águas de Rolim também está sendo cativada a dar as mãos ao projeto. Um viveiro com cem mil mudas de espécies silvestres e mudas ornamentais já se encontra à disposição da comunidade.
O que tem
Até agora, voluntários da Aruana plantaram 2.300 mudas de amora, araçá-boi, açaí, brincos de índio, ingazeiras, ipês, flamboyants, jambeiros, jatobá, jequitibás pata de vaca, sibipiruna e oitis. Na Área de Proteção Permanente, a nascente do igarapé Encrenca está protegida. As águas correm por um canal até desaguarem no rio Anta, a 1,5 km.
A Aruana só tem dúvida do crescimento do jatobá e do jequitibá, apropriados a áreas não alagadas. O bosque alaga durante o inverno amazônico. A entidade não apenas contribui para melhorar a paisagem central como orienta alunos de escolas públicas a zelar pela recomposição de minúscula, porém significativa parte da floresta original. E ainda ensina a conservar nascentes de água.
“Já vimos eles sedentos e famintos, voarem de um lado a outro da avenida para beber água em postos de combustíveis”, conta Fabiano. Mesmo plantando com boa vontade e muita disposição, geralmente sob calor de 35 graus ou acima disso, os “aruanas” – como são chamados esses voluntários – ouvem manifestações de descrença e desaforos. “Pedi apoio a um dos comerciantes, e ele me perguntou: eu vou deixar isso pra quem?”, relata o ambientalista.
Uma grande árvore Fícus quase foi arrancada na esquina com a Frua Jamari. Os “aruanas” lhe abraçaram e fizeram barulho que resultou na conservação. A 50 metros do local, um comerciante de equipamentos agrícolas pretendia arrancar outra Fícus conhecida por “árvore da melancia” – debaixo dela um ambulante vende a fruta.
Conscientizar
A cem metros dessas duas árvores crescem buritis, cajueiros, jacarandá azul e oitis. Novos ipês irão florir a partir de 2024.
De 2020 para cá foram plantadas 790 mudas de árvores em escolas e nos espaços públicos da longa avenida, com apenas 10% de perdas. Mudas especiais que não se adaptam são repostas.
A Aruana elegeu como objetivo de seus projetos os elementos: água, ar, fogo e terra. “Água para nos abastecermos; ar para respirarmos bem; o combate às queimadas; e a conservação do solo. Esse mote já foi levado a seis escolas onde houve plantio de árvores e palestras ambientais.”
“Conscientizar é cada vez mais preciso, porque Rolim foi um dos municípios que mais sofreram a extração de madeira, tanto na forma legal (autorizada pelo Incra nos anos 1970) quanto abusiva e criminosamente”, alerta Fabiano.
“Aquelas derrubadas de 50% da floresta para a formação de lavouras e pastagem abriu muito rapidamente as porteiras para o futuro do concreto em lojas, escritórios, prédios públicos e particulares” – ele lembra.
A mais recente reivindicação da Aruana é no sentido de a prefeitura criar um departamento de parques e jardins especificamente para ser parceiro daqueles que cuidam das árvores plantadas.
Paralelamente, a entidade fotografa e busca demonstrar à Energisa – distribuidora de energia elétrica – a desnecessidade de podar de maneira drástica algumas árvores da avenida e de outras vias da cidade. “Horrível o que fazem, mesmo em espaços onde não há postes”, queixa-se Fabiano, mostrando um deles perto de uma loja de material de construção. A empresa informa que se depara com árvores antigas “crescendo acima da fiação dos postes” e se desculpa por ainda não ter investido em modelo que evite o radical arranquio.
Enquanto não sente acontecerem essas melhorias, a Aruana segue quase quixotescamente apelando ao comércio da Avenida 25 de Agosto para que adote uma árvore. Às 15h de 1º de dezembro de 2023 o repórter caminha a pé com Fabiano e não veem uma só pessoa sob as poucas árvores. O ambientalista aponta a quadra 1 ali próxima apelando: “Ela está pobre, perdeu espécies antigas, daí a razão da campanha de adoção de árvores; o comerciante será dono das novas árvores, um presente para seus filhos e netos.”
Segundo Fabiano, o resultado parcialmente vem dando certo. Ele exemplifica: “O odontólogo Evilson Rocha, depois de habitar Rolim por quatro décadas, foi um dos primeiros a adotar um oitizeiro, ao lado do qual mandou construir dois bancos de cimento. Rocha faleceu na semana passada, deixando esse legado aos familiares e à vizinhança que certamente se beneficiarão com a sombra da árvore.
Fabiano acredita que outros empresários adotarão mais árvores e imitarão o dentista.
O prefeito Aldair Júlio Pereira (União Brasil) costuma agora ouvi-lo, da mesma forma como já ouviu vereadores que advogam para comerciantes a derrubada de árvores na avenida. “Ele está mais sensível, se comprometeu conosco e tem sido confiante no êxito de um projeto que irá agradá-lo, e a todos os que confiam na melhora do meio ambiente nesta cidade a partir de 2024” – comenta o presidente da Aruana. Os voluntários ambientais querem trabalhar “juntos com a prefeitura” a fim de criar espaços urbanos que proporcionem à população o convívio com a natureza.