Réu e com passivo ambiental, Gladson Cameli lidera reunião de governadores pelo clima

Encontro internacional em Rio Branco acontece em momento desfavorável para governador acreano nas áreas ambiental e política. Na quarta, STJ renovou, por mais 6 meses, medidas cautelares em processo no qual ele é réu por graves crimes de corrupção. Na quinta, Mapbiomas divulgou relatório com aumento do desmatamento no Acre em 2024. Reunião terá presença de poucos líderes.
Fabio Pontes
dos varadouros de Rio Branco
Carregando um pesado passivo ambiental de desmatamento da Floresta Amazônica durante o seu primeiro mandato, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), passa a liderar, a partir da próxima segunda-feira, 19, a 15o Reunião Anual da Força-Tarefa de Clima e Florestas dos Governadores, a GCF Task-Force. O encontro acontece até o dia 23 de maio em Rio Branco e vai reunir as principais lideranças de governos subnacionais de diferentes partes do mundo cujos territórios são formados por florestas tropicais. A reunião também servirá como uma prévia para a 30o Conferência do Clima da ONU, a COP-30, a ser realizada em novembro na capital paraense, Belém.
O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), não aparece na lista oficial divulgada pelo governo entre as lideranças presentes. A ministra Marina Silva está entre as participantes da reunião, assim como de Regis Richter Alencar, governador do vizinho departamento de Pando, na Bolívia. Apesar de a GCF Task-Force reunir representantes de 43 governos subnacionais, apenas membros de 12 deles confirmaram presença no Acre.
Nesta quinta, 15, o Mapbiomas divulgou o seu Relatório Anual de Desmatamento (RAD 2024). Segundo as análises, a maior parte dos estados da Amazônia Legal apresentou redução na área desmatada, exceto Acre. Por aqui, houve aumento de 30% de floresta derrubada ao longo do ano passado.
Apesar disso, a região conhecida como Amacro – composta por Amazonas, Acre e Rondônia – registrou queda no desmatamento pelo segundo ano consecutivo; diminuição de 13% na comparação com 2023.
Anfitrião da agenda internacional em Rio Branco, Cameli ainda carrega o peso de responder por vários crimes de corrupção junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Na semana que antecede ao encontro, a Corte Especial do STJ renovou, por mais 180 dias, as medidas cautelares contra o governador acreano. Entre elas está a retenção de seu passaporte e a proibição de contato com as demais testemunhas dos processos aos quais ele responde.
Gladson de Lima Cameli virou réu após as investigações da operação Ptolomeu, deflagrada em dezembro de 2021, pela Polícia Federal, que desarticulou um dos mais graves esquemas de corrupção da história do Acre. A Procuradoria Geral da República pediu o afastamento de Cameli da função, mas a medida foi rejeitada pela ministra Nancy Andrighi, relatora dos processos no STJ.
O governador nega todas as acusações e diz que provará sua inocência.
Como Varadouro mostrou em dezembro, os quatro primeiros anos de Gladson Cameli à frente do Palácio Rio Branco registram as maiores taxas de devastação da Amazônia em terras acreanas nos últimos 16 anos. Eleito na esteira do bolsonarismo que tomou de conta do estado a partir de 2018, sua principal medida foi desmantelar as políticas de fiscalização e proteção ambiental do Acre para favorecer o agronegócio.
Aliado de carteirinha do então presidente Jair Bolsonaro (PL), Cameli seguiu à risca, por aqui, a política de “deixar a boi passada” implementada na esfera federal. Em 2019, ele afirmou, durante evento em Sena Madureira, que ninguém precisava mais pagar as multas do Imac “porque agora quem está mandando sou eu”.

A partir de 2023, com a queda do bolsonarismo, Cameli assumiu uma nova roupagem para a política ambiental, numa posição mais “ecologicamente correta” para se alinhar ao governo Lula. O governador se viu obrigado a reconstruir as políticas de proteção da Floresta Amazônica, ante a também retomada das ações por parte do governo federal – após quatro anos de pura devastação.
Desde então, o estado registra queda nas taxas de desmatamento, mas ainda insuficientes para amenizar os impactos de sua política de porteiras escancaradas para a boiada passar. Agora na presidência rotativa da força-tarefa de governadores pelo clima, Cameli tenta reposicionar o Acre no protagonismo das ações de preservação e proteção de nosso bioma.
Aos seus colegas de outras partes do mundo, fará discursos totalmente opostos ao que fazia enquanto fazia a dobradinha com Bolsonaro entre 2019 a 2022.
A reunião da GCF Task-Force
A Força-Tarefa dos Governadores para o Clima e as Florestas (GCF Task Force) é uma rede global de governadores e autoridades subnacionais de 43 governos subnacionais, de 11 países. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, está com a presença confirmada, segundo a assessoria do governo.
“Trabalhamos para apoiar e promover a liderança subnacional e a inovação política em todos os níveis de governo, desde governadores até funcionários públicos que realizam o árduo trabalho técnico e político promovendo a conservação florestal e o desenvolvimento de baixas emissões”, diz trecho de apresentação da iniciativa em seu site.
Além de Rio Branco, a reunião terá agendas nos municípios do Alto e Baixo Acre para a apresentação de iniciativas que conciliam uma produção econômica de base sustentável, com a manutenção da floresta em pé.
Lideranças que confirmaram presença:
Governador Gladson Camelí, Acre, Brasil;
Governador Clécio Luís, Amapá, Brasil;
Governador Wilson Lima, Amazonas, Brasil;
Vice-governador Otaviano Pivetta, Mato Grosso, Brasil;
Governador Regis Richter Alencar, Pando, Bolívia;
Governador Mario Aguilera Cirbián, Santa Cruz, Bolívia;
Governador Oscar Gerardo Montes Barzón, Tarija, Bolívia;
Governador Luis Francisco Ruíz Aguilar, Caquetá, Colômbia;
Prefeito André Mauricio Granda Garrido, Pastaza, Equador;
Governador Antonio Leónidas Pulgar Lucas, Huánuco, Peru;
Governador Jorge René Chávez Silvano, Loreto, Peru;
Vice-governadora Rosa Olguita Celiz Cruz, San Martin, Peru;
Manual do Governador Gambini Rupay, Ucayali, Peru;
Ministra Marina Silva, Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Brasil.