Seis meses após assumir governo, Gladson abre holding e a usa para comprar imóvel de R$ 5 milhões em SP

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Gladson Cameli tentou ocultar a comprar imóvel de luxo em na capital paulista (Foto: Neto Lucena / Secom)




A GGC Holding Ltda tem o filho do governador, uma criança de seis anos, como sócio. Para PF, empresa foi utilizada na tentativa de comprar apartamento de luxo para ocultar o verdadeiro proprietário: o chefe do Palácio Rio Branco




Fabio Pontes e Leonildo Rosas
dos varadouros de Rio Branco


Passados seis meses desde que assumiu a cadeira de governador do Acre, Gladson de Lima Cameli (PP) criou uma holding familiar com sede em Manaus, cidade onde a família Cameli mantém parte de suas empresas. Com capital inicial de R$ 10 mil, a GGC Holding Ltda tinha como sócios o governador acreano e seu único filho, o menino Guilherme Correia Cameli, que à época tinha cinco anos de idade. Gladson tinha participação de R$ 9 mil no negócio, enquanto a criança entrou com capital de R$ 1 mil.

Tendo hoje o “comércio varejista de calçados” como atividade principal, mas sem nenhum funcionário contratado, a holding foi usada em uma das três tentativas do governador acreano de comprar apartamento de alto padrão na capital paulista, avaliado em mais de R$ 5 milhões. A GGC Holding Ltda também passou a ser dona de um dos cinco carros de luxo comprados por Cameli com valores bem abaixo do praticado pelo mercado. Ambas as operações são investigadas pela Polícia Federal.

Desde a data de sua criação, em 24 de junho de 2019, a GGC Holding (a sigla é uma possível referência a Gladson e Guilherme Cameli) passou por três alterações cadastrais. Uma delas foi a mudança de sua sede, saindo da capital do Amazonas transferida para Rio Branco e, por fim, para Cruzeiro do Sul. A empresa tinha como atividade principal “holding de instituição não financeira” quando da criação.

Na terceira e última alteração registrada em seu Contrato Social, realizada já em Cruzeiro do Sul, a GGC Holding coloca como atividade principal o comércio varejista de calçados, e outras 13 atividades secundárias, que vão da construção de edifícios à venda de artesanatos, e indo até a compra e venda de imóveis.

Em setembro de 2021, quando ocorre a última alteração na empresa e a Polícia Federal avançava nas investigações sobre a vida financeira do governador, Gladson Cameli sai dos quadros societários da holding, deixando a primeira-dama, Ana Paula Correia Cameli, como sócia-majoritária. Dos R$ 10 mil de capital na abertura, agora a holding possui R$ 50 mil. Destes, R$ 49 mil são da esposa do governador, com o filho Guilherme tendo R$ 1 mil de participação.

Estas são informações levantadas junto ao inquérito da operação Ptolomeu, da Polícia Federal do Acre, remetido ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e que investiga a suposta atuação de uma organização criminosa (Orcrim) dentro do Palácio Rio Branco. O governador acreano é um dos alvos principais da investigação.

Desde a última segunda-feira, 27, o blog do Fabio Pontes e o Portal do Rosas publicam uma série de reportagens sobre o inquérito policial, cujas informações são de relevante interesse da sociedade acreana por levantar suspeitas sobre o governador do Estado.

Além da GGC Holding Ltda, Gladson Cameli também tem participação societária na Marmud Cameli & Cia Ltda, empresa de propriedade de seu pai, Eládio Messias Cameli. Sediada em Manaus, a Marmud Cameli é uma empreiteira de grande porte que tem entre seus principais clientes o governo do Amazonas. São dos lucros obtidos pela empresa familiar que o governador acreano alega vir a maior parte de seus elevados rendimentos que transitam por suas duas contas correntes investigadas pela PF.

Nas análises da Polícia Federal, realizadas a partir de uma pilha de Relatórios de Inteligência Financeira (RIF) remetidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), há uma referência à GGC Holding Ltda na tentativa da compra de um apartamento de R$ 5 milhões num dos bairros mais nobres de São Paulo. Por conta de resoluções estabelecidas pelo Coaf, as imobiliárias são obrigadas a informar ao órgão as tentativas de transações nas quais os verdadeiros compradores tentam não figurar como os reais proprietários – a famosa ocultação.



E foi o que fez a Sabiá Downtown Empreendimentos Imobiliários. Em abril de 2020, a empresa encaminhou ao Coaf as tentativas do governador acreano de comprar o apartamento na capital paulista. Ao todo foram três as tentativas. Na primeira, a GGC Holding Ltda iria configurar como compradora oficial, e a Construtora Etam Ltda, cujos donos são os irmãos e o pai de Gladson Cameli, iria complementar o pagamento da compra.

Conforme o inquérito policial, o contrato foi assinado, mas os valores não foram repassados à imobiliária, levando à anulação da venda. Numa outra tentativa, o governador e a primeira-dama iriam aparecer como os compradores. Todavia, os R$ 5 milhões não iriam sair de suas contas pessoais, mas da Construtora Rio Negro. Com sede em Manaus, a empreiteira tem como sócio Gledson de Lima Cameli, irmão do governador. “A empresa [Sabiá Downtown] informa que por não admitir esse tipo de prática recusou a proposta.”

Na terceira e última tentativa, afirma o inquérito da PF, Gladson Cameli propôs à imobiliária que a Construtora Rio Negro fosse a compradora e pagadora do apartamento. Para a Polícia Federal, ao tentar fazer o uso do nome de empresas para a compra do imóvel, o chefe do Palácio Rio Branco tentou ocultar o verdadeiro proprietário. Em seu comunicado ao Coaf, a Sabiá Downtown não deixa claro se a venda foi de fato concluída.

Em seus argumentos à ministra Nancy Andrighi, do STJ, para solicitar os mandados de busca e apreensão da operação Ptolomeu, a Polícia Federal aponta a substancial discrepância entre o valor do apartamento pretendido pelo governador acreano com seu patrimônio declarado ao Tribunal Superior Eleitoral para as eleições de 2018. À época, Cameli declarou patrimônio de R$ 2,9 milhões.

“Dessa forma, a operação envolvendo a compra do imóvel em análise, representaria uma elevação de mais de 270% do patrimônio total de Gladson de Lima Cameli; concretizada em período próximo de vinte meses”, diz trecho da representação.

O outro lado

A reportagem procurou a assessoria de imprensa do governador Gladson Cameli para comentar as denúncias que lhe são imputadas pela Polícia Federal, mas até o momento não houve retorno do e-mail enviado. Talvez por conta do feriadão prolongado decretado pelo governador, sua equipe esteja descansando.

Tão logo haja alguma manifestação, a publicaremos.

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