Seca no Madeira é quase pior do que a de 2023; carro-pipa e água mineral socorrem periferia de Porto Velho

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Montezuma Cruz
Dos varadouros de Porto Velho

Ao amanhecer de quarta-feira, a Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia (Caerd) somava 16 mil litros na lista de pedidos de distribuição de água para bairros periféricos de Porto Velho. A população de Porto Velho aproxima-se de meio milhão de habitantes. Segundo a direção da empresa, já se repete a situação de 2023: a maioria dos poços está seca. Em Espigão do Oeste, o Rio Palmeira que secou ano passado recebeu obra da primeira obra de contenção, e outra deverá ser feita, dependendo apenas da autorização da Secretaria Estadual do Desenvolvimento Ambiental.

O nível do Rio Madeira baixou sexta-feira para 2m36 (-52 cm na variação dos últimos sete dias), informa o responsável pelo Alerta Hidrológico do Serviço Geológico do Brasil, Marcus Suassuna Santos.

No Grenville, em Porto Velho, todos os poços secaram. Distribuidoras de água mineral não vencem a demanda. “Cada comerciante quer mais galões do que o outro, e a gente não pode ceder, senão alguém fica sem”, comentou com o repórter Antônio Carlos Araújo, 36, motorista de uma das empresas. Ele faz, em média, quatro entregas por dia – mais de quatrocentos galões de 20 litros cada.

Água mineral: volume de vendas triplica em Porto Velho, informam motoristas (Foto Montezuma Cruz)

Os caminhões-pipa estão entregando água entre 7h30 e 22h, às vezes estendendo esse serviço até o início da madrugada.

A Caerd está atendendo a recomendações da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, que já reconheceu o estado crítico dos rios Madeira, Purus e Iaco. A agência alertou a população a respeito da gravidade da estiagem, sugerindo ações preventivas que possam diminuir os impactos nos diversos usos da água. Se não chover o suficiente nos próximos dias, conforme prevê o Alerta Hidrológico, a ANA determinará alteração de regras do uso da água e condições de operação de reservatórios estabelecidas em outorgas emitidas.

A agência prevê o monitoramento hidrológico das bacias, e com isso adotará eventuais medidas preventivas, em articulação com diversos setores usuários de água.

No entanto, se melhorarem os níveis d’água dos rios, aproximando-se dos valores mínimos históricos, a situação melhora. Além da água para o consumo das pessoas, começam a ser prejudicadas: a navegação e a geração de energia elétrica.

O transporte aquaviário em balsas e barcos entre Porto Velho, Manicoré e Manaus (AM) há anos desempenha papel importante no desenvolvimento econômico e social da região amazônica, particularmente na hidrovia do rio Madeira. Esse item faz parte das preocupações da ANA.

Com esse cenário semelhante ao de 2023, autoridades estaduais de Rondônia “põem as barbas de molho”, no sentido mais popular da necessidade de alerta e de providências.

Rio Madeira seco em 2023, um fantasma que se repete em agosto de 2024 (Foto Assessoria de Comunicação da Prefeitura Porto Velho)

Hidrovia

O rio comanda a vida, escreveu um dia o amazonense Leandro Tocantins.

O transporte hidroviário faz Rondônia escoar cargas diversas, especialmente de origem agrícola, alimentos, combustíveis e medicamentos. Os rios são as principais vias de acesso para muitas comunidades amazônicas, permitindo o deslocamento para serviços essenciais, entre eles, os de saúde e educação”.

Ainda conforme a ANA, o Madeira (maior afluente da margem direita do Rio Amazonas) possui uma área de drenagem de 1,42 milhão de quilômetros quadrados; 43% dessa área está em território brasileiro e 57% em território estrangeiro (7,6% no Peru e 49,4% na Bolívia).

“O período chuvoso na bacia se estende normalmente de novembro a abril, enquanto o período seco se estende de maio a outubro, junho sendo um mês de transição. A chuva média anual é de 2.088mm, a vazão média de longo termo é de 34.425 metros cúbicos (34,4 milhões de litros) e a disponibilidade hídrica de 8.074m³/s em sua foz”, relata Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil de 2021, uma das mais lidas publicações da ANA no momento.

Hidrelétricas

A publicação informa que duas importantes hidrelétricas estão localizadas no rio Madeira: Jirau e Santo Antônio. Ambas operam a fio d’água – ou seja, as vazões que chegam aos seus reservatórios são praticamente iguais às que dele saem. A potência total instalada tem capacidade nominal de 7.318 megawatts, o que corresponde a 6,7% do Sistema Interligado Nacional.

“O Madeira é também importante hidrovia usada para transporte fluvial de carga e passageiros, com trecho navegável de 1.060 km entre Porto Velho (RO) e Itacoatiara (AM) e volume transportado de 6,53 milhões de toneladas em 2022, correspondendo a 9,2% do total transportado por vias interiores no Brasil”, informa a ANA.

Purus

A bacia do Purus cobre aproximadamente 368 mil mil quilômetros quadrados e se localiza dentro dos limites territoriais do Brasil e Peru, com mais de 90% de sua bacia inserida no Amazonas e no Acre.

O rio Purus nasce no território peruano nas regiões de Ucayali e Madre de Dios e entra no Brasil no município de Santa Rosa do Purus (AC). Em seu curso há extenso número de meandros e milhares de lagos distribuídos em uma gigantesca planície de alagamento. Sua foz é no rio Solimões, entre os municípios amazonenses de Anori e Beruri.

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