Rios assoreados agravam crise hídrica em Rondônia; fogo destrói mais de 72 mil ha do Parque Estadual de Guajará-Mirim

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Bombeiros reforçam o trabalho dentro do Parque Estadual de Guajará-Mirim (Foto CBMRO)

Montezuma Cruz
Dos varadouros de Porto Velho

No início da tarde cinzentíssima desta terça-feira (3), o chefe do Sistema de Alerta Hidrológico da Bacia do Rio Madeira, Marcus Suassuna Santos, avisou por e-mail: o nível do Rio Madeira baixou para 1m07cm, com variação de -31cm em uma semana. É o menor nível em 60 anos. Na Capital e no interior do Estado de Rondônia, rios assoreados caracterizam um dos piores verões em dez anos. Bombeiros espalham-se no Parque Estadual de Guajará-Mirim, para conter três focos de incêndio.

No ano passado, o nível do Rio Madeira baixou a 1m09cm, e a partir daí especialistas começaram a prever uma seca muito mais severa em 2024. Ela veio.

O Sistema de Alerta é mantido pelo Serviço Geológico do Brasil, que trabalha em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA) e a Defesa Civil (estadual e municipal), computando dados dentro da Rede Hidrometeorológica Nacional.

Desassorear rios – eis a ordem. Urgentemente é o que terá que fazer o município de Colorado do Oeste, no sul do estado, a 803 quilômetros da Capital. Já em Espigão do Oeste, a 571 Km de Porto Velho, cidade que ficou sem água em 2023, a alternativa de captação de água não é outra senão o socorro do manancial Riozinho, dado o risco de o rio Palmeiras secar novamente.

Os níveis de rios e igarapés se encontram abaixo da faixa de normalidade para este período do ano, exceto em Guajará-Mirim e Jirau-Jusante Beni, onde, milagrosamente, estão na faixa considerada normal. Os trechos de Porto Velho e Ji-Paraná apresentam o nível mais baixo no histórico para este período do ano.

Funcionária anota a situação do ponto de captação de água com baixo nível no município de Cerejeiras, em Rondônia (Foto Assessoria de Comunicação da Caerd)

No seu Plano de Urgência e Contingência, a Companhia de Águas e Saneamento Básico de Rondônia (Caerd) mobilizou caminhões-pipa que distribuem mais de 20 mil litros d’água em média por dia. As ações se estenderam aos distritos de Porto Velho.

Segundo o diretor técnico e operacional da Caerd, Lauro Fernandes, o plano de contingência visa atuar especialmente em municípios, considerados de risco extremo e grave. As cidades se abastecem dos rios onde é feita a captação de água bruta.

Pior do que em 2023

As equipes da Caerd estão temerosas com o que viram em Cerejeiras, a cerca de 600 quilômetros de Porto Velho, onde os rios Óleo e Araras perderam a vazão e lâmina d’água. “Vamos estudar a viabilidade de um ponto alternativo de captação de água, caso seja necessário suplementar o abastecimento”, comprometeu-se Fernandes.

Em Cerejeiras, na mesma região sul, a situação é semelhante: na audiência pública promovida pela prefeitura, autoridades municipais se comprometeram a não deixar torneiras secas. “Este verão pode ser pior do que o de 2023”, previu o diretor da Caerd.

No município de Ouro Preto do Oeste, a a 324 Km da Capital, a Caerd inspecionou na semana passada a obra de contenção do Rio Boa Vista, para garantir a captação e distribuição de água.

Com o nível baixíssimo de 1m07, o Rio Madeira seca, a cada dia (Foto: Milton Castelo – SecomRO)

Outras cidades gravemente afetadas pela seca em Rondônia: Parecis, Santa Luzia d’Oeste, Ministro Andreazza, Castanheiras, Teixeirópolis, Nova União e Mirante da Serra. Parecis, por exemplo, reclama a ampliação do reservatório da Estação de Tratamento de Água.

A assim, o Plano da Caerd se depara principalmente com o objetivo da limpeza e desassoreamento dos pontos de captação, contenção para elevação do nível da água, melhorias preventivas nas ETAs e nas Estações Elevatórias de Água Bruta.

Desde a semana passada, a situação de Rondônia é emergencial pelo período de 180 dias, conforme o Decreto n° 29.417, assinado pelo governador Marcos Rocha.

Fogo no Parque Estadual de Guajará-Mirim é criminoso, acusa o Ibama (Foto PrevFogo)

72 mil hectares atingidos

No período de 1° de janeiro a 19 de agosto de 2024, o estado somou 4.197 focos de incêndios em diversos municípios, e 690 em áreas de conservação estadual. A soma dos 4.887 focos é o dobro do número do ano passado. Ao todo, 107,2 mil hectares de floresta foram destruídos.

A decisão foi tomada pelo Comitê Estadual de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais. Dois meses atrás o fumaceiro começava a espalhar-se pelo estado. Porto Velho, com área de 34 mil km², tem atualmente o pior calor de sua história recente.

Imagens de satélite dizem tudo a respeito desses focos de calor. A comprovação de incêndios criminosos é clara. Guarnições do Corpo de Bombeiros Militar de Rondônia retornaram ao Parque Estadual de Guajará-Mirim. Segundo o CB, já foram atingidos aproximadamente 72 mil hectares, na média espantosa de até 3 mil hectares/dia.

“A Operação Temporã deu mais robustez aos resultados”, comenta nota distribuída pela Comunicação Social do governo.

A mesma nota fala em “redução drástica” no domingo, com a média de 1 mil hectares/dia devastado pelas chamas, embora a realidade seja crítica nas cidades cobertas pela fumaça, de uma ponta a outra no estado.

Nenhum preso

Nova frente de trabalho anuncia trabalhar “para prender causadores dos incêndios ilegais”, mas até o momento ninguém foi identificado para ouvir a voz de prisão.

Exército Brasileiro, Ibama e ao Ministério Público Estadual estão em missão de socorro.

A Operação Temporã mobilizou cerca de trezentos homens no domingo passado, reforçando a atuação dentro da extensão do Parque Estadual de Guajará-Mirim. Na segunda-feira (2) três focos ativos eram combatidos.

Em 2018, aviões modelo C-130 Hércules da Força Aérea Brasileira jogaram água sobre os incêndios em Rondônia, utilizando o volume de cinco tanques e dois tubos que se projetam pela porta traseira do avião. Cada avião desse pode carregar até 12 mil litros de água.

Naquele ano, os bombeiros concentraram sua ação principalmente nos municípios de Porto Velho, Buritis, Candeias do Jamari, Cujubim, Nova Mamoré, e Machadinho d’Oeste.

“Atualmente há um lugar invadido chamado Terra Prometida, onde a cada ação de nossas equipes aparece mais fogo nas circunvizinhanças”, lamentou o titular do órgão, César Luiz Guimarães em um programa de rádio na segunda-feira.

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