Pesquisadores identificaram eventos climáticos extremos no Acre a partir de 2010

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Em 2023, a capital do Acre foi atingida por uma enchente e uma seca históricas; desde 2010 os dois fenômenos passaram a acontecer com mais frequência e intensidade (Foto: Juan Diaz)



Dos varadouros de Porto Velho

O ano de 2010 pode ter sido um ponto de virada para a ocorrência de eventos climáticos extremos no estado do Acre. É o que aponta artigo publicado nesta terça (21) na revista “Perspectives in Ecology and Conservation”. O estudo, uma parceria entre a Universidade Federal do Acre (Ufac), a Universidade Estadual do Ceará (UECE), o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o centro de pesquisas americano Woodwell Climate, sugere que o estado pode ser uma das regiões brasileiras mais afetadas pelos eventos climáticos extremos.

A fim de quantificar a frequência de inundações, secas, crises hídricas e incêndios florestais no Acre, além de identificar suas causas e impactos, os pesquisadores examinaram uma série de estudos publicados entre 1987 e 2023, bem como decretos estaduais e municipais relacionados a alertas climáticos e ambientais emitidos no mesmo período. Os dados mostram que a região enfrentou 254 eventos climáticos extremos nos últimos 36 anos e que, desde 2010, há uma tendência constante de aumento na frequência e na intensidade dessas ocorrências.

“A partir de 2010, vemos uma quebra, uma ruptura do padrão que se mostrava até então”, destaca Sonaira Silva, pesquisadora da Ufac, no Campus Floresta, em Cruzeiro do Sul, e uma das autoras do estudo. Até 2004, os registros indicavam a ocorrência de, em média, um evento extremo por ano nas cidades acreanas. No entanto, desde então e, principalmente, após 2010, dois ou mais eventos têm sido registrados com frequência no mesmo ano em um mesmo município. “Esse é o padrão que está se mostrando para o futuro; o ambiente não está conseguindo se regenerar depois de cada evento e, a cada ano, está mais frágil”, explica Sonaira.

Segundo o artigo, 60% das ocorrências enfrentadas pelos cidadãos acreanos no período analisado foram caracterizadas como incêndios florestais ou queimadas em áreas desmatadas, enquanto 33% foram inundações e 6% crises hídricas. “Geralmente as pessoas mais afetadas são aquelas que estão em áreas de risco, pessoas mais pobres e com menos estrutura”, destaca a pesquisadora da Ufac.

As perdas econômicas em larga escala também são alarmantes: registros do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres do Brasil mostram que, entre 2000 e 2015, de todos os 27 estados brasileiros, o Acre teve o maior custo financeiro por evento: o prejuízo estimado é de mais de 15 milhões de reais a cada crise.

Os estudiosos também identificaram tendências e semelhanças nas áreas mais atingidas pelos eventos. A capital Rio Branco e o município de Cruzeiro do Sul, duas das áreas mais populosas do estado, são os principais locais afetados. “As regiões que têm menos floresta são aquelas em que os eventos climáticos mais ocorrem, mas o prejuízo está por todos os lados”, diz Sonaira Silva.

Para a pesquisadora, as alternativas para mitigar a situação são recompor a vegetação nativa, adaptar as cidades para modelos mais sustentáveis e inteligentes, criar políticas e cumprir legislações ambientais. “Ao que tudo indica, os eventos extremos vão continuar não só ocorrendo, mas aumentando. Pretendemos continuar olhando isso muito de perto para tentar ajudar na tomada de decisões que podem mudar esse cenário”, conclui a autora. (As informações são da Agência Bori)

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