Nos recantos da memória, como joias reluzentes guardadas em um baú de saudades, repousam os carnavais de antigamente. Como lâmpadas mágicas, eles nos transportam de volta aos anos dourados, quando Rio Branco era palco de uma festa sem igual, repleta de cores, ritmos e alegria sem fim.
Era nos anos 80 e 90 que as ruas da capital acreana se enchiam de vida, preparando-se para receber foliões ávidos por diversão. As opções de lazer eram vastas, e cada clube se tornava um universo à parte, pronto para acolher os que buscavam extravasar alegria. O baile Vermelho e Preto, no clube do Juventus, e o Vermelho e Branco, no Clube do Rio Branco, eram os grandes baluartes da tradição, onde a música pulsava em sintonia com os corações dos foliões.
Mas não se limitava a isso a festança. Os clubes do 15, Vasco da Gama, Nosso Clube, Internacional, Clube Atlético Acreano, Afeletro, todos se vestiam de cores e luzes, prontos para receber os que buscavam celebração. E, é claro, não podemos esquecer do mais famoso de todos: o carnaval popular em frente à Prefeitura de Rio Branco, onde a noite se estendia até as primeiras luzes do amanhecer.
Era um verdadeiro espetáculo de democracia da alegria, onde todos eram bem-vindos para dançar ao som das marchinhas tradicionais e dos ritmos regionais, sem distinção. Os desfiles das escolas de samba e dos blocos dos sujos eram como capítulos emocionantes de uma grande epopeia carnavalesca, onde as ruas se enchiam de cores e movimento, e os olhos brilhavam com cada passo dado sob os acordes da batucada.
Mas, o mais especial desses carnavais, era a atmosfera de paz e harmonia que pairava sobre cada rua, cada clube, cada folião. Não havia violência, não havia frescuras, apenas alegria genuína compartilhada entre famílias inteiras, que se uniam para celebrar a vida e a tradição.
Hoje, olhando para trás, é inevitável sentir uma pontinha de saudade por aqueles tempos que parecem ter sido roubados pelo vento da mudança. Os carnavais de antigamente eram como um conto de fadas vivido em meio à realidade, onde a magia da festa transformava as ruas em verdadeiros palcos de encanto.
Mas mesmo que os tempos tenham mudado, e os carnavais de hoje sejam diferentes, uma coisa é certa: a lembrança desses tempos áureos permanecerá sempre viva em nossos corações, como uma chama eterna que ilumina o caminho de volta para os dias de glória, onde a folia reinava soberana e o amor pela tradição nos unia em uma só batida de tambor.
Nascido nos seringais de Xapuri, Pitter Lucena é jornalista e escritor. Deu os primeiros passos nos varadouros das letras no início da década de 80, quando estudou Teologia dentro do projeto das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica no Acre. Em 1985 entrou para o mundo do jornalismo. Trabalhou como repórter nos jornais Folha do Acre, O Rio Branco, A Gazeta e A Tribuna, além das emissoras de TV. Em 2003 ganhou o prêmio de jornalismo José Chalub Leite por reportagens sobre o esquadrão da morte no Acre. É bacharel em Comunicação Social, jornalismo, pelo Instituto de Educação Superior de Brasília – Iesb.
pitter.lucena@gmail.com