Novos guardiões da floresta na fronteira amazônica

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Experiências bem-sucedidas de educação ambiental em Pando


São oito da manhã e os comunitários convocados pelo presidente da aldeia chegam à escola do vilarejo Dos Palmas. Esta será uma reunião extraordinária para eleger dois líderes, um homem e uma mulher, que participarão do Programa de Formação de Ecolíderes Comunitários do Projeto Ecominga.

Como é costume nas comunidades amazônicas, as famílias vão acompanhadas de seus filhos, e se cumprimentam alegremente enquanto chegam ao local da reunião. É domingo, dia de descanso e uma partida de futebol à tarde. Os técnicos da equipe acadêmica do Projeto Ecominga se preparam para iniciar a metodologia de escolha dos futuros ecolíderes.

Ao longo da semana anterior, a coordenação da Ecominga realizou reuniões com a Câmara Municipal e o prefeito do município de Gonzalo Moreno, localizado no departamento de Pando, na Bolívia, para buscar o apoio das autoridades locais para a realização deste processo inovador de formação comunitária., com igualdade absoluta de género. Convênios foram assinados e, assim, formalmente, a Ecominga poderá realizar atividades em Dos Palmas e outras nove comunidades do município.

Os comunitários já ocuparam os seus lugares e estão a ouvir atentamente a introdução feita por um técnico do programa. O objetivo da atividade – explica-se a eles – é a eleição de alunos para o Programa de Formação de Líderes Comunitários com o apoio da comunidade, no reconhecimento de duas pessoas – um homem e uma mulher – com qualidades e valores de liderança.

Em seguida, cada um dos participantes adultos é solicitado a colocar um cartão com os números a partir do primeiro em local visível em suas roupas, até que todos os participantes estejam completos. Ainda sem entender o motivo, fazem isso em meio a risadas e a brincadeiras que descontraem o clima e geram confiança entre todos.

No topo do quadro da sala de aula foi colocado um cartaz onde se lêem as seguintes qualidades: confiável, comprometido, respeitável, perseverante, bom representante, responsável e dinâmico. Para cada uma destas virtudes, havia duas caixas vazias, uma para homens e outra para mulheres. Cada um dos participantes recebe ainda uma folha de papel com o mesmo conteúdo e um lápis.

A seguir, o facilitador do encontro inicia uma rodada de perguntas: se você tivesse que viajar por vários dias, a quem você confiaria o cuidado da sua casa e dos seus animais? Quando ocorre uma emergência na comunidade, quem você delegaria para se deslocar até a capital do município para solicitar ajuda? Quando você tem problemas em casa, a quem você recorre para pedir conselhos?…

Os participantes marcam no papel, depois de se olharem, o número que corresponde a uma mulher ou a um homem, com muita seriedade e, às vezes, depois de pensarem muito no assunto.
No final do exercício, todos preencheram as caixas com os números que correspondem às suas preferências. Esses dados são exibidos no cartaz para alvoroço dos presentes. Já temos os vencedores, aqueles que obtiveram mais votos de confiança da comunidade.

A dupla eleita, uma mulher e um homem, levanta-se, identifica-se e é declarada escolhida por maioria para participar no Programa de Formação de Ecolíderes Comunitários do Projeto de Ecodesenvolvimento e Saúde Ambiental Ecominga.

Esta nova forma de eleger líderes comunitários carismáticos repete-se, nos finais de semana seguintes, em dez comunidades do município. Algum tempo depois, vinte participantes se reúnem na Unidade Acadêmica Las Piedras da Universidade Amazônica de Pando, para iniciar sua formação.

Entre eles estão mães que frequentam com os seus filhos pequenos, mulheres muito jovens que ainda não concluíram os estudos secundários, jovens agricultores e líderes adultos das suas aldeias ou comunidades. A universidade não exigirá que tenham estudos escolares completos e, no final do programa, lhes será concedido o título de técnicos superiores em ecodesenvolvimento e saúde ambiental.

Todos são líderes, e têm a responsabilidade de transmitir novos conhecimentos às suas comunidades, após um frutífero diálogo de conhecimentos com os membros da equipe acadêmica. Também apresentarão propostas de projetos de ecodesenvolvimento às autoridades municipais para avaliação e, quando apropriado, financiamento.

Propostas que surgem do consenso comunitário após longos processos de construção de demandas em reuniões de grupos. No ano seguinte, após formar um Comitê de Representantes de Ecolíderes comunitários, o Projeto Ecominga passou a atuar no município de Porto Rico, também de Pando, e finalmente para o município de Porvenir, adjacente a Cobija, a capital do departamento.

Assim, após sete anos de planejamento e execução, a experiência Ecominga, em Pando, culminou com mais de trinta ecolíderes capacitados e três professores da equipe acadêmica com o grau de Especialistas em Educação Ambiental concedido pela Universidade de Quebec, em Montreal, no Canadá.

Para alcançar esta conquista da educação ambiental não formal, foram construídos os seguintes componentes fundamentais do projeto:

1) Desenvolvimento profissional de equipes docentes universitárias, por meio de especializações, concedidas pela Universidade de Quebec.

2) Formação de ecolíderes (assessores comunitários), através do desenvolvimento de um currículo universitário gratuito de mais de 500 horas em dez módulos de formação.

3) Geração e implementação de um centro de recursos pedagógicos nos municípios.

4) Formação de uma rede de colaboradores, em nível local, com autoridades departamentais e municipais, organizações não governamentais e movimentos sociais.

Seguindo a metodologia de investigação-ação, a Ecominga teve como áreas de intervenção a promoção da saúde humana e do ambiente natural, a gestão adequada dos ecossistemas, promovendo a implementação de sistemas agrossilvipastoris, a introdução do etno-ecoturismo como avaliação paisagística do ambiente e, por último, como área prioritária e geradora de tudo isso, o desenvolvimento de talentos locais, indígenas e camponeses, no campo da educação ambiental não formal.

O objetivo deste projeto participativo e horizontal foi promover a implementação das decisões culturais próprias das comunidades, produzindo bens para satisfazer as necessidades de todos, preservando os equilíbrios ecológicos fundamentais e tornando estes processos compatíveis com as diferentes culturas amazônicas da região trinacional MAP: Madre de Dios (Peru), Acre (Brasil) e Pando (Bolívia).

Embora o projeto tenha sido concluído após sete anos de execução, a Ecominga é atualmente uma Plataforma Interinstitucional, no âmbito amazônico, para fortalecer e difundir esta experiência de sucesso. Neste contexto, o objetivo da Plataforma Ecominga é contribuir para o ecodesenvolvimento comunitário e a saúde ambiental das populações menos favorecidas do Sudoeste Amazônico, prestando especial atenção à equidade social e de gênero e à interculturalidade na região.

Para isso, promove-se o reforço das capacidades das estruturas comunitárias dos municípios, apoiando iniciativas comunitárias para o uso adequado da água e segurança alimentar, baseada na utilização integral dos recursos florestais.

Este e outros projetos comunitários de educação ambiental, aplicados em Madre de Dios, Acre e Pando e apoiados pela Iniciativa MAP, como El Bosque de los Niños e Cuidando el Agua del Planeta da Região Trinacional MAP, mostram a esperança que depositamos em nossos descendentes, e os irmãos moradores desta floresta que queremos defender, face à acumulação predatória de capital e os seus impactos na crise climática.

Guillermo Rioja-Ballivián é antropólogo social, é professor na Universidade Amazônica de Pando e membro da iniciativa MAP, que reúne pesquisadores e acadêmicos da tríplice fronteira MAP: Madre de Dios (Peru), Acre (Brasil) e Pando (Bolívia).




Texto original em Espanhol


Experiencia exitosa de educación ambiental comunitaria en Pando

Son las ocho de la mañana y a la escuelita de Dos Palmas van llegando los comunarios convocados por el presidente de la aldea. Esta será una reunión extraordinaria para elegir a dos líderes, un hombre y una mujer, que participarán en el Programa de Formación de Ecolíderes Comunitarios del Proyecto Ecominga.

Como es costumbre en las comunidades amazónicas, las familias van con sus niños y alegremente se saludan mientras ingresan en el recinto. Es domingo, día de descanso y juego de fútbol en la tarde. Los técnicos del equipo académico se preparan para iniciar la metodología de elección de los futuros ecolíderes.

Durante toda la semana anterior la coordinación de Ecominga ha realizado reuniones con el Concejo Municipal y el alcalde del Municipio Gonzalo Moreno, situado en el Departamento Pando en Bolivia, para buscar el apoyo de las autoridades a la realización de este novedoso proceso de formación de comunarios, con absoluta equidad de género. Se han firmado convenios y de esta manera, formalmente, Ecominga puede realizar actividades en Dos Palmas y otras nueve comunidades del municipio.
Ya los comunarios han tomado asiento y escuchan atentamente la introducción dada por un técnico del programa.

El objetivo de la actividad – se les explica – es la elección de estudiantes para el Programa de Formación de Líderes Comunitarios con el apoyo de la comunidad, en el reconocimiento de dos personas – un hombre y una mujer – con cualidades y valores de liderazgo.

A continuación, se pide a cada uno de los participantes adultos que coloque en un lugar visible de su vestimenta una cartulina con los números desde el uno, hasta completar a todos los asistentes. Todavía sin entender el motivo, lo hacen en medio de risas y bromas que distienden el ambiente y generan confianza entre todos.

Se ha situado encima de la pizarra del aula un afiche donde se leen las siguientes cualidades: confiable, comprometido, respetable, perseverante, buen representante, responsable y dinámico, con dos casillas vacías, una para los hombres y otra para las mujeres. Cada uno de los participantes recibe también una hoja de papel con el mismo contenido y un lápiz.

Seguidamente, el facilitador de la reunión inicia una ronda de preguntas: ¿si ustedes tuvieran que viajar por varios días, a quién encargarían el cuidado de su casa y sus animalitos?; cuando hay una emergencia en la comunidad ¿a quién delegarían para trasladarse hasta la capital del municipio para solicitar ayuda?; cuando tienen problemas en el hogar ¿a quién acuden por consejo?…

Los participantes van marcando en el papel, después de mirarse entre ellos, el número que corresponde a una mujer o un hombre, con gran seriedad y a veces después de pensarlo largamente.

Al final del ejercicio todos tienen llenadas las casillas con los números que corresponden a sus preferencias. Estos datos son vaciados en el afiche con algarabía de los concurrentes. Ya se tiene a los ganadores, los que han conseguido más votos de confianza por parte de la comunidad. Estos dos, una mujer y un hombre se paran, se identifican y son declarados elegidos por mayoría para participar en el Programa de Formación de Ecolíderes Comunitarios del Proyecto Ecominga de Ecodesarrollo y Salud Ambiental.

Esta novedosa manera de elegir a los líderes carismáticos comunitarios se repite, en los siguientes fines de semana, en diez comunidades del municipio.

Un tiempo después, veinte participantes se reúnen en la Unidad Académica Las Piedras de la Universidad Amazónica de Pando, para iniciar su formación. Entre ellos se encuentran madres que asisten con sus pequeños hijos, mujeres muy jóvenes que aún no han concluido sus estudios secundarios, jóvenes campesinos y adultos dirigentes de sus aldeas o comunidades. La universidad no les pedirá como requisito el haber concluido estudios escolares y al fin del programa les otorgará el título de técnicos superiores en ecodesarrollo y salud ambiental.

Todos son líderes y tienen la responsabilidad de transmitir nuevos conocimientos a sus comunidades, después de un fructífero diálogo de saberes con los miembros del equipo académico. También llevarán a las autoridades municipales propuestas de proyectos de ecodesarrollo para su evaluación y, en su caso, financiamiento. Propuestas que surgen del consenso comunal después de largos procesos de construcción de demandas en grupos de encuentro.

Al siguiente año, después de dejar formado un Comité de Representantes de Ecolíderes comunitarios, el Proyecto Ecominga se trasladó al Municipio de Puerto Rico, también de Pando y por fin al municipio de Porvenir, colindante con el Municipio de Cobija donde se encuentra la capital del departamento.

Así, después de siete años de planificación y ejecución, la experiencia Ecominga en Pando culminó con más de treinta ecolíderes formados y tres docentes del equipo académico con el grado de Especialistas en Educación Ambiental otorgado por la Universidad de Quebec en Montreal de Canadá.

Para conseguir este logro de educación ambiental no formal, se construyeron los siguientes componentes fundamentales del proyecto:

1) Desarrollo profesional de equipos docentes universitarios, a través de especializaciones, otorgadas por la Universidad de Quebec en Montreal, Canadá2)

2) Formación de ecolíderes (orientadores comunitarios), mediante el desarrollo de una currícula universitaria libre de más de 500 horas pizarrón en diez módulos de formación.

3) Generación e implementación de un centro de recursos pedagógicos en los municipios.

4) Conformación de una red de colaboradores, a nivel local, con autoridades departamentales y municipales, organizaciones no gubernamentales y movimientos sociales.

Siguiendo la metodología de la investigación – acción, Ecominga tuvo como áreas de intervención la promoción de la salud humana y del entorno natural, el manejo adecuado de ecosistemas promoviendo la implementación de sistemas agrosilvopastoriles, la introducción del etnoecoturismo como valoración paisajística del entorno y al fin, como área prioritaria y generadora de todo lo anterior, el desarrollo de talentos locales, indígenas y campesinos, en el ámbito de la educación ambiental no formal.

El objetivo de este proyecto participativo y horizontal fue el de promover que las decisiones culturales propias sean implementadas por las comunidades, produciendo bienes para la satisfacción de las necesidades de todos, conservando los equilibrios ecológicos fundamentales y compatibilizando estos procesos con las diferentes culturas amazónicas de la región trinacional MAP.

Si bien el proyecto concluyó después de siete años de ejecución, Ecominga se constituye actualmente en una Plataforma Interinstitucional, a nivel amazónico, para fortalecer y difundir esta experiencia exitosa. En este marco, la meta de la Plataforma Ecominga es contribuir al ecodesarrollo comunitario y la salud ambiental de las poblaciones menos favorecidas de la Amazonia Sudoccidental, prestando una atención especial a la equidad social y de género y a la interculturalidad. Para esto se promueve el fortalecimiento de las capacidades de las estructuras comunitarias de los municipios, apoyando las iniciativas comunitarias del uso adecuado del agua y la seguridad alimentaria, fundada en el uso integral de los recursos del bosque.

Este y otros proyectos de educación ambiental comunitaria, aplicados en Madre de Dios, Acre y Pando y apoyados por la Iniciativa MAP, como son El Bosque de los Niños y Cuidando el Agua del Planeta desde la Región Trinacional MAP, muestran la esperanza que depositamos en nuestros descendientes y en los hermanos habitantes de este bosque que queremos defender, ante en embate de la acumulación de capital depredadora y sus consecuencias en la crisis climática.


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