NA BEIRA DO RIO

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Indígenas em contexto urbano estão entre os mais vulneráveis às alagações

Indígenas acolhidos em escola do estado após suas casas terem sido atingidas pelo rio Acre; ao morar nas áreas mais baixas, eles ficam vulneráveis (Foto: José Caminha /Secom)




Na atual cheia do rio Acre, sete famílias do povo Huni Kuĩ, do Alto Rio Purus, foram as primeiras a ser retiradas de suas casas no bairro da Base pela Defesa Civil. Ao vir para as cidades com poucos recursos financeiros, acabam por alugar casas nas regiões mais vulneráveis – tanto do ponto de vista das enchentes quanto social.


Fabio Pontes
dos varadouros de Rio Branco

Ao deixar suas aldeias em busca de melhores condições de vida nos principais centros urbanos do estado, muitos indígenas acabam por encontrar uma realidade totalmente diferente. Com pouco ou nenhum acesso à renda, muitos acabam morando nas periferias de cidades como Rio Branco, Cruzeiro do Sul ou Brasiléia. Além de problemas como a violência, as populações indígenas em contexto urbano também ficam vulneráveis aos problemas das alagações que atingem as cidades acreanas com cada vez mais intensidade e frequência.

E os moradores das periferias – geralmente localizadas nas áreas mais baixas das cidades – são os mais expostos a ter suas casas invadidas pelas águas. Foi o que aconteceu no último domingo, 9, quando o rio Acre atingiu as primeiras casas na Base, tradicional bairro na região central de Rio Branco e o primeiro a ser atingido pelas inundações.

Naquele momento, sete famílias do povo Huni Kuĩ (totalizando 32 pessoas) precisaram ser retiradas de suas casas pela Defesa Civil. Elas foram levadas para a Escola Madre Hildebranda da Pra, no bairro Cidade Nova. Elas vieram de aldeias do Alto Rio Purus para acompanhar os filhos jovens em seus estudos. Essa é um dos principais motivos que levam os jovens a deixar os territórios para tentar a vida no principal centro urbano do estado.

Iniciar e concluir os estudos para eles, muitas das vezes, não é fácil. O próprio deslocamento entre suas casas e o campus universitário não é fácil – nem barato. Há os custos com o transporte, alimentação e a compra de material de estudos. Muitos tentam obter uma renda a partir da venda dos artesanatos indígenas ou de medicinas como o rapé.

Com pouco dinheiro, a solução é morar em casas ou apartamentos nas áreas mais vulneráveis, onde o valor do aluguel é mais acessível. Em 2024, quando Rio Branco foi atingida pela segunda maior alagação de sua história, ao menos 50 famílias indígenas foram atingidas e levadas para escolas do governo do estado. O mesmo aconteceu com as famílias Jaminawa do bairro 28 de Maio, em Brasiléia.

Ano passado, Varadouro em reportagem conjunta com a Sumaúma – visitou a comunidade após a maior alagação da história sofrida pelo município, quando mais de 70% do perímetro urbano ficaram submersos pelo rio Acre.

A problemática também é recorrente em Santa Rosa do Purus e Jordão, dois municípios com a população de maioria indígena. Nestas cidades, há bairros inteiros formados por indígenas, como o Kaxinawa, em Jordão. Por estarem proximos às margens dos rios, suas casas acabam por ficar inundadas – uma situação recorrente nos últimos cinco anos com as grandes alagações.

Governo estima que ao menos 50 famílias indígenas dos mais diferentes povos vivam em Rio Branco – a maioria em bairros suscetíveis às enchentes (Foto: José Caminha /Secom)



Menos vulneráveis nas cidades

Todo o trabalho de acolhida e direcionamento das ações de assistência social aos indígenas afetados pelas cheias nas cidades é conduzido pela Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas (Sepi), liderada pela secretária Francisca Arara. Segundo ela, a situação de vulnerabilidade dos povos indígenas em contexto urbano está entre as principais preocupações de sua pasta.

De acordo com ela, uma parceria entre a Sepi com o Ministério dos Povos Indígenas e o Ministério das Cidades busca recursos para a construção de casas para os indígenas que venham morar ou passar um tempo em Rio Branco. Outra proposta também é a construção de uma casa de passagem para uma acolhida temporária, nos moldes do que são hoje as casas de saúde indígena – Casai.

Todavia, lembra a secretária, uma das preocupações é evitar o esvaziamento dos territórios. “Precisamos assegurar o mínimo de qualidade para aqueles que vêm à cidade de passagem para resolver um problema de documento, participar de vivências, e não deixá-los vulneráveis”, afirma Francisca Arara.

Segundo ela, a proposta é criar uma estrutura dentro da Sepi para cuidar apenas da questão dos indígenas em contexto urbano. “Eu até já pedi para que eles se reunam para escolher um nome, de um indígena que mora na cidade, para ocupar essa função.”

Secretária Francisca Arara: adaptação e enfrentamento às mudanças climáticas que impactam comunidades indígenas (Foto: José Caminha /Secom)



Em levantamento preliminar, a Sepi constatou que hoje, em Rio Branco, há 50 famílias indígenas morando em cinco diferentes bairros, a maioria expostos a enchentes – como Base, 6 de Agosto e os que formam a Baixada da Sobral. Essa quantidade é variável pela dinâmica das populações de estar em deslocamentos contínuos entre as aldeias e as cidades.

De acordo com ela, o momento das ações são de enfrentamento e adaptação às mudanças climáticas que impactam as populações indígenas em contexto urbano e nas aldeias. Nos últimos anos, os territórios também vêm sendo severamente impactados pelos eventos climáticos extremos – sejam as cheias ou as secas. Tais eventos coloca em risco a segurança alimentar e hídrica das aldeias ao ocasionar o colapso de seus roçados, criações e fonte de água potável.


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