Prefeitura de Xapuri diz que casa de Chico Mendes permanece aberta

Temor era de que a gestão do novo prefeito – aliado ao governo bolsonarista de Gladson Cameli (PP) – retomasse o processo de apagamento da memória do líder seringueiro em sua própria terra natal. Um dos primeiros atos de Cameli, ao assumir o governo em 2019, foi fechar o imóvel para visitação. Prefeitura diz que novo contrato com a família proprietária do imóvel foi realizado, o que assegura a manutenção do memorial.
Fabio Pontes
dos varadouros de Rio Branco
Após boatos espalhados pelas redes sociais de que a casa de Chico Mendes voltaria a ser fechada, a Prefeitura de Xapuri informou ao jornal Varadouro, por meio de nota oficial, que, encerradas as negociações com a família do líder seringueiro, o contrato de locação do imóvel pelo município foi renovado, o que assegura o funcionamento do espaço como um museu. De acordo com a nova gestão, a demora na renovação do contrato se deu por conta de trâmites burocráticos exigidos pela legislação.
A notícia do fechamento da casa de Chico Mendes ganhou repercussão diante das sucessivas tentativas de apagamento da história e do legado de Chico Mendes no Acre, que ocorre desde 2019 com a consolidação da velha direita ligada ao agronegócio. Além do imóvel em Xapuri, que ficou com as portas fechadas até novembro de 2023, a estátua de Chico na capital é alvo recorrente de vandalismo – como a ocorrida em fevereiro passado.
Até 2018, o contrato de aluguel da casa – bem como a sua manutenção enquanto um ponto de memória – era mantido pelo governo estadual. A partir de 2019, com a posse do bolsonarista Gladson Cameli (PP) no Executivo, o contrato foi cancelado. Durante cinco anos, a casa do acreano mais ilustre da história recente sofreu com o abandono e a deterioração. Para agravar, em 2023 e 2024 ela foi atingida pelas grandes alagações do rio Acre.
Em 2023, durante a gestão do então prefeito Bira Vasconcelos (PT), com apoio do Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a casa de Chico Mendes voltou a funcionar como memorial. Após dois mandatos consecutivos, o petista não conseguiu eleger seu sucessor.
Com o apoio da máquina estadual, Maxsuel Maia (PP) foi eleito o novo prefeito de Xapuri, acabando com a hegemonia política do PT no município, que se apresentava como tradicional campo de resistência da esquerda acreana – agora nas mãos da direita mais ligada ao agronegócio.
Assim, temia-se a retomada do processo de apagamento da memória de Chico Mendes em seu próprio município. Procurada por Varadouro, a nova gestão negou a intenção de fechar a casa do líder seringueiro, reconhecendo-a como um “dos principais patrimônios históricos e turísticos” de Xapuri.
“Diferente do que tem sido divulgado, a Prefeitura nega veementemente qualquer intenção de fechar a Casa ou suspender as visitações. Pelo contrário, sempre houve o compromisso da administração municipal em garantir a manutenção desse espaço de memória, de fundamental importância para Xapuri, para o Acre e para o Brasil”, diz a nota.
“No início deste ano, a Prefeitura iniciou tratativas com a família de Chico Mendes para a renovação do contrato de locação do imóvel. Após reuniões realizadas em janeiro, ambas as partes chegaram a um acordo sobre as cláusulas do novo contrato. No entanto, por se tratar de um processo de inexigibilidade de licitação, a tramitação legal exige um prazo médio de 60 a 90 dias para sua conclusão.”
De acordo com a prefeitura, mesmo informada dos trâmites burocráticos, a parte da família de Chico Mendes proprietária da casa decidiu fechar suas portas para visitação na semana passada. Dessa forma, diz a nota oficial, a equipe da gestão municipal agilizou todo o processo administrativo para a renovação do contrato, com a publicação do ato na edição desta sexta, 28, do Diário Oficial.
“Reafirmamos que a Casa de Chico Mendes continua aberta e disponível para visitação, à disposição de todos que desejam conhecer mais sobre o legado deste símbolo da luta pelos direitos socioambientais”, diz o documento.
Uma estátua abandonada

Enquanto isso, numa mal-cuidada Praça Povos da Floresta, na região central da capital, a estátua de Chico Mendes foi recolocada, de forma solitária e sem auspícios. Após ter seus antebraços arrancados num ato bárbaro de vandalismo, a estátua voltou ao seu lugar de origem. Todavia, sem a configuração original, que contava como uma réplica da parte frontal da casa de Chico Mendes e uma estátua de seu filho.
Esta foi a segunda vez que o monumento é vandalizado, retratando não só um ataque à imagem do líder seringueiro, mas o processo de deterioração e decadência do Centro. E isso numa região da cidade onde funciona o centro do Poder acreano, onde estão as sedes da Assembleia Legislativa e do Executivo.
De frente para a Praça Povos da Floresta, o Palácio Rio Branco está fechado para obras de revitalização. Já o local onde se encontra a homenagem permanece abandonado.