Marcos Vicentti – Catraieiro

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Nota do editor

Quando Marcos Vicentti era vivo cheguei a convidá-lo para participar de nossa seção Retratos Amazônicos. Porém, como Marcão era funcionário de carreira da Secretaria de Comunicação do Estado, talvez ele não se sentisse à vontade para colaborar com um jornal que tem uma linha editorial crítica ao atual governo, responsável pelo desmonte das políticas ambientais que levou o Acre a níveis recordes de desmatamento e queimadas.

Ao ele (e outros profissionais convidados) expor uma de suas fotografias em Varadouro, poderia ser vítima de perseguições no ambiente de trabalho. Podem ser questionados e cobrados pelo fato de contribuírem com um “jornal da oposição”, como somos aqui definidos. Eu sempre compreendi e compreendo a situação. Além do mais, Marcão era um profissional muito ocupado, demandado.

Porém, para homenagear um dos melhores repórteres-fotográficos da Amazônia, Retratos Amazônicos inicia uma série especial até o dia 18 de novembro – quando completa um mês de sua passagem – publicando algumas das obras deixadas pelo riquíssimo acervo de Marcos Vicentti. Uma obra que precisa ser estudada, protegida e exposta em alguma galeria/exposição que leve o seu nome.

Aqui nesta foto, Marcão brinda os nossos olhos com esta fotografia aérea rica em cores e que tão bem retrata o nosso cotidiano amazônico. Perfeitamente perfiladas e ancoradas na praia de um rio barrento, catraias, canoas, bajolas, agora as rabetas “descansam” após o subir ou descer das águas, numa viagem que pode durar horas, dias ou semanas. Seus donos parecem que vão demorar a voltar, pois levaram os motores com eles. Talvez estejam na cidade para ir ao banco, ao INSS, na colônia de pescadores, na prefeitura….

Cada embarcação é única – inconfundíveis. São cuidadas com muito esmero por seus donos. Nelas, é proibido entrar com os pés sujos. Retire suas sandálias, sapatos ou botas. Lave os pés com a água do rio para não carregar lama pra dentro. A pintura é um encanto a parte. São as digitais, a identidade de cada uma delas – com o nome de batismo escrito na proa. Não são só as grandes embarcações dos sete mares que carregam tais tradições. O caboclo amazônida também tem suas riquezas culturais – riqueza aprendida olhando apenas para dentro.

Logo eles voltarão para casa com as embarcações carregadas com a compra do mercado, os remédios, a botija de gás e a gasolina para passar o mês. Até o momento de subir ou descer de novo o rio rumo à cidade, onde as muitas vidas (e catraias) voltam a se encruzilhar na praia do porto.

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