Amazônia apresenta redução no registro de fogo em 2023, após quatro anos de muita devastação e poluição
Queda já pode ser outro sinal da retomada da política de proteção do bioma amazônico adotada pelo governo Lula; sob o bolsonarismo, o rastro do fogo para a região foi devastador. Com El Niño, porém, o momento ainda exige bastante cautela. Em agosto, Acre teve dois registros de incêndios florestais.
Dos Varadouros de Rio Branco
A quantidade de focos de queimadas registrados no Acre entre janeiro e agosto de 2023 está 46% abaixo do que foi detectado em igual período de 2022. O ano eleitoral é considerado um dos piores em registros de queimadas no Acre. Em oito meses, foram 3.088 focos, enquanto agora, em 2023, o número caiu para 1.648 focos. A queda é uma clara consequência da mudança dos rumos da política ambiental do país representada pela posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Presidência da República, e o alinhamento automático do governo Gladson Cameli (PP) à nova agenda de proteção da Amazônia. Durante os quatro anos de Jair Bolsonaro (PL), Cameli seguiu à risca, e colocou em prática a sua própria estratégia de “deixar a boiada passar.”
Com a reestruturação dos órgãos ambientais e a promessa do governo Lula de fazer da proteção da Floresta Amazônia uma das prioridades em sua nova passagem pelo Palácio do Planalto, tanto a taxa de desmatamento quanto a de queimadas apresentam reduções expressivas. A redução das queimadas ocorre em toda a Amazônia Legal. Enquanto que até agosto de 2022 a região registrou 61.771 focos de queimadas, até o fim do mês passado a quantidade foi de 43.728. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Apesar de ser um bolsonarista declarado – sendo um dos principais cabos eleitorais de Bolsonaro na Amazônia Legal nas eleições de 2018 e 2022 – Gladson Cameli precisou abandonar sua estratégia de fragilização da agenda ambiental adotada desde 2019. Para ele, o arcabouço de fiscalização do meio ambiente deixada pelos governos do PT travava o progresso do grande agronegócio, que, a partir de seu governo, foi vendido como o carro-chefe da economia local.
Desde a eleição de Lula, porém, o governador acreano passa por uma espécie de “metamorfose ecológica”, mas deixa como herança maldita de seu primeiro mandato níveis recordes de derrubada e fogo no Acre. Com o PT retomando a Presidência, o bolsonarista não teve outra opção a não ser rezar na nova cartilha ambiental do governo federal.
Mesmo com a redução das queimadas por conta da reestruturação governamental do Brasil, o momento não é de tréguas. As condições ambientais ainda são bastante perigosas para o Acre e toda a Floresta Amazônica.
O principal fator para isso é o fenômeno climático El Niño, que reduz a quantidade de chuvas e eleva as temperaturas na região – dois fatores influenciadores para a propagação do fogo. O principal temor dos cientistas são os incêndios florestais. Com um verão amazônico rigoroso, a floresta perde sua capacidade natural de impedir a entrada das chamas para seu interior.
Segundo dados do Laboratório em Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente (Labgama), da Ufac, até o fim de agosto o Acre registrou 38.472 hectares de cicatrizes de queimadas. Feijó, Rio Branco e Tarauacá são os municípios líderes na detecção do chamado “rastro do fogo”.
Entre as unidades de conservação com cicatrizes de queimadas, a Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes continua como a líder entre as mais impactadas pelo fogo. Até o mês passado foram dois mil hectares. Em seguida está a Resex Alto Juruá, com quase 700 hectares.
Quanto a incêndios florestais, o Labgama registrou a ocorrência de dois casos em agosto: um no município de Porto Walter e outro na fronteira do Acre com o departamento boliviano de Pando.
Apesar da expressiva redução nos focos, os especialistas alertam que o momento exige cautela, já que o período das queimadas vai entrar no período mais crítico agora em setembro. As previsões meteorológicas ainda apontam um período muito quente e seco.
Segundo as projeções, a probabilidade de as temperaturas ficarem acima do normal é de 70% até novembro. Quanto às chuvas para o mesmo período, de acordo com as análises, elas podem ficar entre 40 e 50% abaixo do esperado para todo o Acre. Essas previsões também valem para toda a região amazônica.