JORNALISMO PARA AS SELVAS

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Varadouro recebe o Prêmio Chico Mendes de Resistência 2023

O editor do Varadouro, Fabio Pontes (o primeiro da esquerda para a direita) recebe o Prêmio Chico Mendes, em Xapuri (Foto: José Lucas)




Homenagem concedida pelo Comitê Chico Mendes é o reconhecimento da simbiose entre as histórias de jornal acreano com a do líder seringueiro. Nas décadas de 1970 e 1980, Varadouro foi o único veículo de comunicação do estado a dar visibilidade aos conflitos na floresta e nas cidades ocasionados pelas políticas do regime militar para a Amazônia.



Dos varadouros de Xapuri


O jornal Varadouro recebeu na noite da última sexta-feira, 15 de dezembro, o Prêmio Chico Mendes de Resistência, concedido pelo Comitê Chico Mendes. A solenidade de premiação aconteceu em Xapuri, durante a abertura da Semana Chico Mendes, que em 2023 lembra os 35 anos do assassinato do líder seringueiro, ocorrido em 22 de dezembro de 1988. Por conta da efeméride, 35 personalidades e organizações da sociedade civil que atuam em defesa da Amazônia e dos povos da floresta foram homenageados – entre eles, Varadouro.

Criado em 1977, Varadouro é um dos mais importantes veículos de comunicação do Norte. Foi o único jornal a garantir visibilidade e a denunciar as mazelas sociais ocasionadas pela política de “ocupação” da Amazônia adotada pela ditadura civil-militar brasileira (1964-1985) . No Acre, a principal consequência foi o expurgo de milhares de famílias seringueiras das suas colocações, sendo obrigadas a morar em barracos nas periferias das cidades. As que resistiam, eram mortas pelos jagunços. Milhares de hectares de floresta foram comprados pelos “paulistas”, cuja missão era derrubar a mata para, no lugar, colocar o pasto do boi.

Desamparadas pelo Estado, as famílias vinham morar nas periferias de Rio Branco e outras cidades acreanas. Invisíveis para a imprensa tradicional, estes seringueiros não tinham a quem denunciar as violências sofridas. É neste contexto que nasce o jornal das selvas, tendo como principal apoiador o então bispo da Diocese de Rio Branco, Dom Moacyr Grechi. Todas as demandas das populações extrativistas e indígenas desaguavam tanto no colo da Igreja, quanto da redação do Varadouro – composta por jornalistas, intelectuais e ativistas do movimento socioambiental acreano.


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E foi na redação do Varadouro que uma das mais importantes lideranças do movimento seringueiro encontrou espaço para expor as necessidades dos povos da floresta: Chico Mendes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri.

Vídeo: Toinho Alves comenta a relação de Chico Mendes com Varadouro



“Eu costumo comentar que as histórias do Varadouro e de Chico Mendes elas se confundem, se cruzam pelos nossos varadouros, as nossas colocações. Receber o Prêmio Chico Mendes de Resistência é um reconhecimento desta simbiose. Foram nas páginas do Varadouro que o Brasil e o mundo passaram a saber o que estava acontecendo com as populações da floresta”, diz Fabio Pontes, editor do Varadouro, e quem recebeu a premiação em nome da nova-velha redação.

Após circular entre 1977 e 1981, num total de 24 edições impressas, Varadouro ficou adormecido ao longo das últimas quatro décadas. Agora, em 2023, ante a necessidade de novamente se garantir a atenção às agressões sofridas pela floresta e suas populações, Varadouro retorna para continuar com os mesmos princípios, valores e visões: um jornalismo independente e de defesa da Amazônia.

“O Prêmio Chico Mendes é uma motivação a mais para continuarmos com o nosso trabalho. As dificuldades são muitas de colocar em prática este tipo de jornalismo na Amazônia. Queremos falar da Amazônia para a Amazônia. Queremos e vamos dialogar com o nosso território, assim como fazia aquele Varadouro dos anos 70 e 80 ”, completa Pontes.

“Este prêmio é muito importante, porque, mais de quatro décadas depois da interrupção da circulação do jornal impresso, veio agora o reconhecimento de sua luta no campo digital, tão importante quanto naquele período conturbado no final dos anos 70 e início dos 80, quando o Acre teve mais visibilidade na Amazônia e no mundo. Parabéns a todos que compõem o Varadouro com suas essências e seus compromissos com a democracia, com a floresta e com o povo amazônico”, ressalta o jornalista Montezuma Cruz, colaborador do Varadouro em Porto Velho.


A Semana Chico Mendes

Há 34 anos, o Comitê Chico Mendes realiza a Semana Chico Mendes entre 15 a 22 de dezembro. A semana abrange o dia de nascimento do líder seringueiro (15 de dezembro de 1944) e sua morte, em 22 de dezembro de 1988. A primeira semana aconteceu exatamente um ano após o crime. A Semana Chico Mendes já se tornou um dos eventos mais importantes da agenda socioambiental do país. Além da entrega do Prêmio Chico Mendes, há a realização de uma série de debates sobre a agenda social, ambiental, cultural e política da Amazônia – mais os eventos culturais.










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