Indigenista denuncia invasões à TI Uru-Eu-Wau-Wau e pede presença da Força Nacional

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Desmatamento e queimada na terra indígena Uru-Eu Wau-Wau, em Rondônia: áreas de preservação ameaçadas por projetos de lei e por invasões (Foto: Marizilda Cruppe)


Dos varadouros de Porto Velho

A ativista ambiental e indigenista Ivaneide Bandeira Cardozo, a Neidinha Suruí, coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, usou as redes sociais para denunciar novas invasões à Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau em Rondônia, e pediu a presença da Força Nacional de Segurança na região para impedir confrontos que resultem em mortes de indígenas. Em vídeo compartilhado, ela denuncia que madeireiros e grileiros continuam a invadir o território indígena, e alerta sobre os perigos de homens armados na área.

“Precisamos que os governos federal e estadual retirem os invasores da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau que essa semana sofreu uma invasão, antes que ocorra uma tragédia”, escreveu ela. Neidinha fala da necessidade da presença da Força Nacional no território “antes que aconteça uma tragédia como aconteceu na Bahia”, onde a indígena Nega Pataxó foi morta em conflito com milícias rurais e cacique foi atingido por disparos de arma de fogo no rim no início da semana.

O povo Uru-Eu-Wau-Wau permanece na lista dos mais ameaçados do Brasil. São áreas de florestas que ocupam 1.8 milhão de hectares em 12 cidades rondoniense e a maior parte do território fica em Guajará-Mirim e São Miguel do Guaporé. Terras que atiçam a cobiça de grileiros, madeireiros, garimpeiros, fazendeiros que derrubaram a floresta protegida para criar gado e vender a carne para multinacionais. A presença de exploradores de ouro também é uma agravante. É uma região de tensão constante e onde o desmatamento avança sem nenhum controle.

Com a presença de mais invasores, o medo é que se acentue a onda de violência entre grileiros e os povos da floresta. O líder indígena Ari Uru-Eu-Wau-Wau foi morto em 2020 por denunciar extração ilegal de madeira dentro da aldeia e fazia parte do grupo de monitoramento do seu povo.

Em fevereiro de 2023, a Justiça Federal determinou que a União e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) apresentassem um plano de proteção para o território Uru-Eu-Wau-Wau em conjunto com o governo de Rondônia e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O Ministério Público Federal (MPF), autor da ação judicial, argumentou que nos últimos sete anos houve avanços das invasões e desmatamentos.

Também no início do ano passado o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que a União desmonte todos as estruturas de garimpo presentes em sete TI no país, entre elas a Uru-Eu-Wau-Wau. À época, o ministro Luís Roberto Barroso sentenciou que era necessário adotar, imediatamente, “todas as medidas emergenciais necessárias à proteção da vida, da saúde e da segurança das comunidades indígenas”. Em maio daquele ano, a Força Nacional ficou na TI por 90 dias.

Também em maio de 2023, Neidinha Surui, a filha, Txai Suruí, o artista, grafiteiro e ativista Mundano e uma equipe de documentaristas que estavam em um grupo com 16 pessoas foram cercado por cerca de 50 homens por quatro horas em estrada que fica na região do PAD Burareiro no acesso do escritório da Funai, dentro da terra Uru-Eu-Wau-Wau.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Rondônia perdeu uma área equivalente a cerca de 87 km² hectares de floresta nativa em julho de 2023. A área desmatada é 422% maior do que o registrado do mês de junho do mesmo ano. Em julho do ano passado ocorreram aproximadamente 460 casos de queimadas em Rondônia, enquanto em junho foram feitos 88 registros.

No inicio do ano, o longa-metragem brasileiro “O Território”, de Alex Pritz, produzido pelo povo Uru-Eu-Wau-Wau, conquistou o Prêmio Emmy 2024 na categoria Mérito Excepcional em Documentário. O filme mostra o contexto de conflitos pela terra e denuncia assassinatos de indígenas na Amazônia rondoniense.

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