Dos varadouros de Rio Branco
Em uma das campanhas publicitárias mais esdrúxulas promovidas para enfrentar a crise das queimadas, o governo de Gladson Cameli (PP) passa o pano para o agronegócio, e responsabiliza as mulheres. Segundo a visão dos marqueteiros oficiais, as mulheres e agricultoras que colocam fogo no lixo do quintal são as responsáveis pelo caos ambiental vivido pelos acreanos. Caos sem precedentes na história recente e que persistiu até a primeira semana de outubro, quando a fumaça encobriu cidades.
Em sua mais recente campanha de “conscientização” sobre os impactos do fogo, o governo mostra uma mulher e sua filha olhando para uma floresta consumida pelas chamas. “Ela só ia limpar o quintal….”, diz o texto. Ou seja, o simples ato de colocar fogo em folhas secas ou galhos, na visão da propaganda oficial do governo, causa muito mais destruição do que as queimadas realizadas para limpar dezenas de hectares de floresta desmatada de forma ilegal para, no lugar, virar o pasto do gado. Áreas geralmente de propriedade da União, e depois griladas.
Não que a queima de lixo e entulhos não seja um problema, obviamente. Mas a campanha do governo bolsonarista passa a impressão de que a mulher e sua filha são as maiores vilãs da crise. E isso num estado já marcado pelo machismo e elevado indíce de violência contra as mulheres. A campanha publicitária foi repudiada pelo Conselho Estadual dos Direitos da Mulher.
“O conteúdo dessa propaganda fere e reflete uma postura desrespeitosa e discriminatória que não pode ser tolerada em nossa sociedade. É fato que quem mais preserva o meio ambiente são as mulheres, especialmente, as mulheres camponesas. Em contrapartida, muitos homens visam lucro por meio da destruição de nossas florestas”, diz nota emitida pela entidade. (Leia a íntegra abaixo).
“A veiculação desse material em um meio de grande visibilidade pública, como um outdoor, amplifica ainda mais o impacto negativo, atingindo as mulheres e gerando indignação em nosso conselho.” O conselho pede a imediata retirada campanha publicitária de péssimo gosto e uma retratação por parte do governo.
Esta não é a primeira vez que o governo Gladson Cameli se envolve em polêmicas por causa de suas campanhas publicitárias. Em 2022, usando recursos do Programa REM/KFW, o bolsonarista mandou espalhar outdoors enaltecendo o agronegócio com a campanha “O Acre é Agro”.
Tudo isso no momento em que o Acre vivenciava elevadas taxas de desmatamento da Amazônia e de queimadas, fruto do desmonte das políticas ambientais promovida pela dupla Gladson/Bolsonaro. A campanha causou constrangimento, e o governo precisou prestar esclarecimento aos alemães sobre a razão de usar uma verba destinada à preservação da floresta, para louvar o agronegócio.
NOTA DE INDIGNAÇÃO E ESCLARECIMENTO
O Conselho Estadual dos Direitos da Mulher – CEDIM/AC expressa, publicamente, repúdio à propaganda governamental veiculada por meio de um outdoor.
Na imagem tem uma mulher com uma criança, que durante a limpeza do quintal, em decorrência da incineração para o destino da limpeza, acabou causando uma queimada desproporcional.
O conteúdo dessa propaganda fere e reflete uma postura desrespeitosa e discriminatória que não pode ser tolerada em nossa sociedade. E fato que quem mais preserva o meio ambiente são as mulheres, especialmente, as mulheres camponesas. Em contrapartida, muitos homens visam lucro por meio da destruição de nossas florestas.
A veiculação desse material em um meio de grande visibilidade pública, como um outdoor, amplifica ainda mais o impacto negativo, atingindo as mulheres e gerando indignação em nosso conselho.
Pedimos que as autoridades competentes avaliem a situação e tomem as medidas cabíveis para evitar que mensagens como essa continuem sendo divulgadas.
Exigimos a retirada imediata da peça publicitária, bem como uma retratação pública por parte do Governo do Acre. Reiteramos nosso compromisso com a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.
Rio Branco – Acre, 14 de outubro de 2024
Conselho Estadual dos Direitos da Mulher – CEDIM/AC