GLADSON NO BANCO DOS RÉUS

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Governador do Acre presta depoimento em processo que é réu por organização criminosa

Para a Polícia Federal, Gladson Cameli é o chefe de organização criminosa criada no centro do poder acreano (Foto: Diego Gurgel / Secom)



Além de chefe de organização criminosa, STJ tornou governador réu pelos crimes de lavagem de dinheiro, peculato, corrupção ativa e passiva. Para a Polícia Federal, Cameli era o chefe de grupo montado dentro do Palácio Rio Branco para desviar recursos públicos. Ele nega todas as acusações e diz que provará sua inocência.




Fabio Pontes
dos varadouros de Rio Branco


O governador do estado do Acre, Gladson de Lima Cameli, do partido Progressistas, sentará pela primeira vez no banco dos réus para que possa se defender das graves acusações de corrupção que lhe são imputadas pela Polícia Federal e a Procuradoria Geral da República (PGR). Em 16 de dezembro de 2021, viaturas da PF ocuparam as rampas de acesso ao Palácio Rio Branco para desencadear a operação Ptolomeu, que é considerada o maior escândalo de corrupção da história política do Acre em décadas. O depoimento, que iria acontecer nesta sexta, 25, foi transferido para 5 de novembro. Os advogados alegam não ter tido acesso a um dos documentos apresentados pela denúncia.

Quase três anos depois, o governador acreano terá a oportunidade de se contrapor às provas apresentadas pela polícia e provar sua inocência – discurso que faz reiteradas vezes a cada avanço dos processos no Superior Tribunal de Justiça (STJ). O depoimento desta sexta é o primeiro entre os outros cinco processos aos quais Cameli responde STJ. Em maio, a ministra Nancy Andrighi acolheu as denúncias da PGR e, por maioria, a Corte em Brasília tornou réu o governador.

Além de chefe de organização criminosa, o governador acreano responde pelos crimes de lavagem de dinheiro, peculato, corrupção ativa e passiva. A PGR ainda pediu o afastamento de Gladson Cameli das funções de governador, o que não foi acolhido pela ministra relatora. Ao final de sua sentença, Nancy Andrighi negou o pedido “por hora”, deixando em aberto esta possibilidade no avançar do julgamento das demais ações.

Entretanto, ela renovou as medidas cautelares impostas contra Cameli, como a retenção de seu passaporte. Atualmente, para representar o Governo do Acre em agendas internacionais, Cameli precisa ter a autorização prévia da ministra.

À época, a Polícia Federal classificou o governador acreano como o suposto chefe de uma organização criminosa montada no coração do poder político local para desviar mais de R$ 800 milhões. As investigações da operação Ptolomeu foram iniciadas ainda em 2019, quando o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou “movimentações atípicas” nas contas bancárias do governador e de seus parentes – que também foram denunciados.



Entre elas estão o pagamento, em dinheiro vivo, de faturas dos cartões de crédito que chegavam a até R$ 80 mil. Além disso, a PF identificou a compra de imóveis e de carros de luxo cujos valores estão bem acima dos rendimentos oficiais declarados por Gladson Cameli.

Parte destes pagamentos, conforme a PF, também era feita com dinheiro em espécie. O uso de “dinheiro vivo” nestas operações é uma forma de despistar as autoridades financeiras, não deixando rastros nas movimentações dos sistemas bancários.

No período de um ano, já ocupando o Palácio Rio Branco, depósitos em dinheiro vivo numa das contas de Cameli superaram o total repassado pela empresa de seu pai, onde ele tem sociedade e alega vir a maior parte de seus rendimentos; Muitos dos valores eram depositados em quantias baixas numa tentativa de não chamar a atenção das autoridades.



LEIA TAMBÉM: Procuradoria denuncia governador do Acre por 5 crimes e pede seu afastamento


Esquemão Azul

Quando da deflagração da Operação Ptolomeu, em dezembro de 2021, Varadouro ainda não tinha retomado suas atividades. Todavia, este jornalista produziu uma série de reportagens investigativas a partir do inquérito de mil páginas elaborado pela Polícia Federal. O trabalho jornalístico foi feito em parceria com o colega Leonildo Rosas, do Portal dos Rosas. Fomos os dois únicos jornalistas acreanos a se debruçar sobre o processo para mostrar à sociedade as graves e robustas provas apresentadas pela PF contra o governador do Acre.

À época, as reportagens foram publicadas no blog que eu mantinha, e hoje desativado. Mas para não deixar este vasto material jornalístico esquecido, e para nossos leitores saberem o que de fato se trata a Operação Ptolomeu, Varadouro republica todas as reportagens, com as respectivas datas das publicações.


OPINIÃO: A República de Ptolomeu


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