Sobre enchentes e queimadas – crise ambiental na fronteira trinacional

Compartilhe



O Ministro do Meio Ambiente e Águas da Bolívia, Alan Lisperguer Rosales, informou na última segunda-feira (03/06/24) que 342 focos de calor foram detectados no país, com base no Sistema de Monitoramento e Informação Florestal (SIMB). A autoridade instou os municípios do país a estarem vigilantes por meio das suas unidades de risco. E a temporada das queimadas está apenas começando… Contudo, o pedido de atenção por parte das Unidades de Gestão de Risco dos Municípios é significativo, se houver a vontade política esperada.

No Brasil, o Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), aponta que o total de focos de calor durante o primeiro trimestre de 2024, em toda a Amazônia, é o maior dos últimos oito anos: são 7.861 registros entre janeiro e março, o que representa mais de 50% das notificações no país, e isto apesar de ter havido uma diminuição de 22% na compensação com 2023, face a 2022.

E em nossa região trinacional MAP*, o que está acontecendo?

Numa carta pública assinada por 17 personalidades reconhecidas na região, o mini MAP trinacional para Gestão de Riscos e Defesa Civil, da Iniciativa MAP, mostra que já no dia 11 de julho de 2023 alertou as sociedades locais que as previsões climáticas indicavam uma situação de seca mais severa do que normal, algo que realmente aconteceu.

Este grupo alerta agora que poderá ocorrer uma seca talvez mais intensa a partir do período de maio a julho de 2024. Este alerta baseia-se em previsões emitidas por instituições de investigação internacionais relevantes. As previsões indicam chuvas abaixo do normal e temperaturas acima do normal para os próximos seis meses.

Se o clima se comportar de acordo com estas previsões, dizem, prevemos problemas agudos de abastecimento de água, ondas de calor e queimadas acidentais em áreas agrícolas e incêndios florestais. Este último resultaria em elevados níveis de fumaça (poluição) com sérias implicações para a saúde humana e ambiental.

Esses prováveis ​​efeitos em nossa região trinacional MAP mostram que mesmo com a diminuição do desmatamento durante 2023 no Brasil, incêndios florestais poderão ocorrer em 2024 em florestas mais densas, que não foram anteriormente afetadas pelo desmatamento. Uma das causas disso são – como apontamos – as secas extremas na Amazônia, que são cada vez mais frequentes e intensas.

Mas não só isso. As queimadas intensas em áreas já desmatadas que ficam nas bordas de florestas mais densas e outros fatores como a atividade madeireira ilegal, a invasão de territórios indígenas não demarcados e outras atividades predatórias, tornam nossas florestas cada vez mais frágeis e indefesas diante de sua destruição.

E isto tudo dentro de um círculo vicioso cujo outro extremo são as alagações cada vez mais frequentes.


2024: ano de calamidades

Segundo reportagens jornalísticas, baseadas em relatórios oficiais, em Cobija, Pando, Bolívia, as enchentes foram devastadoras neste mês de fevereiro. O nível do Rio Acre superou o recorde histórico, chegando a 15,83 metros. Mais de 2.300 pessoas foram afetadas e impactadas, e 145 bairros e três comunidades rurais ficaram submersos.

No Acre, o evento extremo não foi menor, pois em 28 de fevereiro de 2024, o governo disponibilizou informações sobre os 17 municípios em situação de emergência no estado. No município de Brasiléia, o Rio Acre superou os níveis históricos de enchentes de 2015, resultando em 75% do município isolado. Assim, no Acre, até 28 de fevereiro, havia 20.182 pessoas desabrigadas, das quais 6.627 estavam em 70 abrigos públicos, segundo as mesmas fontes.



“As queimadas intensas em áreas já desmatadas que ficam nas bordas de florestas mais densas e outros fatores como a atividade madeireira ilegal, a invasão de territórios indígenas não demarcados e outras atividades predatórias, tornam nossas florestas cada vez mais frágeis e indefesas diante de sua destruição.”.



Da mesma forma, em 21 de fevereiro, o transbordamento dos rios Acre e Yaverija, devido a chuvas intensas, causou graves inundações em Iñapari, cidade fronteiriça trinacional da Amazônia peruana, em Madre de Dios, Peru. Nesse dia foi noticiado que a cidade estava coberta por 1,20 metro de água, o que causou graves danos a moradias, prédios, entidades públicas, escolas e outras infraestruturas.

E tudo isso sem contar as enchentes desastrosas que ocorreram em toda a Amazônia continental e em outros países sul-americanos como Uruguai, Paraguai e Argentina.

Qual é a razão pela qual estes eventos climáticos extremos se repetem com frequência e intensidade crescentes?

A resposta mais rápida é a crise climática, por vezes mal interpretada como um processo “natural” devastador, causado pelos caprichos da “Mãe Natureza”.

Existe algo por trás disso?

Vejamos

O Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) afirma, repetidamente, que as alterações climáticas são causadas pelo homem e pelas suas atividades irresponsáveis ​​na gestão perigosa da natureza. Esta atitude de acumulação irracional de capital e de um consumo extremo têm levado a impactos ambientais severos e a perdas relacionadas com a natureza e as pessoas, especialmente comunidades vulneráveis ​​que historicamente contribuem menos para as alterações climáticas e que, pelo contrário, constituem, em muitos casos, guardiãs da biodiversidade.

Uma atitude diametralmente oposta à de algumas autoridades locais, que permitem, irresponsavelmente, por qualquer motivo, a mineração não autorizada, o garimpo e outras ações ilícitas que comprometem o nosso futuro e o dos nossos filhos.

Há muito a se fazer para avançarmos na luta para mitigar as mudanças climáticas. A nível global, os nossos governos são convocados a estabelecer políticas públicas adequadas e a aplicá-las; a nível local, a adaptação com ações concretas deve ser um imperativo indesculpável.

Para isso, o mini-MAP trinacional de Gestão de Riscos e Defesa Civil, da Iniciativa MAP, na referida carta citada acima, recomenda o seguinte:

  • Preparar e implementar planos de contingência para o abastecimento de água em comunidades humanas e atividades agropecuárias, levando em conta a importância de manter os ecossistemas aquáticos.
  • Preparar e implementar planos de contingência para identificar e controlar as queimadas acidentais e provocadas, com o objetivo de apagar rapidamente os incêndios iniciais na floresta antes de sua propagação.
  • Preparar e implementar planos de contingência para reduzir os impactos de ondas de calor em populações vulneráveis, como idosos e menores, além das atividades agropecuárias.
  • Que as sociedades e instituições públicas realizem o monitoramento constante da qualidade do ar, através dos dados emitidos pelas plataformas locais (ver anexo) e satélites para implementar medidas de redução do impacto da fumaça na saúde humana e ambiental.
  • Acompanhar as previsões meteorológicas locais de curto prazo (para dias, semanas e meses), assim como elaborar mapas que prevejam as anomalias de temperatura e precipitação (consulte o Anexo). Isso é particularmente importante ao adotar medidas imediatas, dado que os incêndios apresentam uma rápida flutuação espacial e dependem de previsões e modelos de curto prazo.



Esperamos retornos favoráveis


*MAP: Sigla para Madre de Dios, no Peru, Acre, no Brasil, e Pando, na Bolívia, a região da tríplice fronteira panamazônica.



Sobre o autor:

Guillermo Rioja-Ballivián é antropólogo social, é professor na Universidade Amazônica de Pando e membro da iniciativa MAP, que reúne pesquisadores e acadêmicos da tríplice fronteira MAP: Madre de Dios (Peru), Acre (Brasil) e Pando (Bolívia).


Artigo original em espanhol

Sobre Mojado…quemado

Crisis ambiental en la frontera trinacional

El ministro de Medio Ambiente y Agua, Alan Lisperguer Rosales informó este lunes (03/06/24) que en Bolivia se reportan 342 focos de calor en base al Sistema de Monitoreo e Información de Bosques (SIMB). La autoridad instó a los municipios del país a estar atentos a través de sus unidades de riesgos. Y la temporada de quemas apenas comienza… Sin embargo, la llamada de atención a las Unidades de Gestión de Riesgos de los Municipios es significativa, si se diera la voluntad política esperada.

En Brasil, el Programa Quemas del Instituto Nacional de Investigaciones Espaciales (Inpe), apunta que el total de focos de calor durante el primer trimestre de 2024 en toda la Amazonia es el mayor de los últimos ocho años: son 7.861 registros entre enero y marzo, lo que representa más de un 50 % de las notificaciones en el país y esto a pesar que se dio una disminución del 22 % en el desmonte en 2023 con respecto al 2022.

Y en nuestra región trinacional MAP ¿Qué acontece?

En una carta pública firmada por 17 personalidades reconocidas en la región, el mini MAP trinacional de Gestión de Riesgo y Defensa Civil de la Iniciativa MAP, muestra que ya el 11 de julio de 2023 alertó a las sociedades locales que las previsiones de clima indicaban una situación de sequía más severa que lo normal, algo que efectivamente sucedió.

Este grupo advierte ahora que una sequía tal vez más intensa podría suceder iniciándose en el periodo de mayo a julio de 2024. Esta alerta está fundamentada en previsiones emitidas por relevantes instituciones de investigación internacional. Las previsiones indican ocurrencia de lluvias por debajo de lo normal y temperaturas por encima de lo normal para los próximos seis meses.

En caso de que el clima se comporte de acuerdo con estas previsiones, dicen, anticipamos problemas agudos de abastecimiento de agua, olas de calor y quemas accidentales en áreas agrícolas e incendios forestales. Estos últimos repercutirían en altos niveles de humo con implicaciones serias para la salud humana y ambiental.

Estos probables efectos en nuestra región trinacional MAP, muestran que incluso con la disminución del desmonte durante 2023 en Brasil, se pueden producir en este 2024, incendios en bosques maduros que antes no eras afectados por la deforestación. Una causa de esto es – como apuntamos -– las sequías extremas en la Amazonia, cada vez más frecuentes e intensas.

Pero no solo eso. La intensa quema en áreas ya deforestadas que están en los bordes de los bosques maduros y otros factores como la actividad maderera ilegal, el avasallamiento de los territorios indígenas sin titulación y otras actividades depredadoras humanas, hacen que nuestros bosques sean cada vez más frágiles e indefensos ante su destrucción.

Y esto dentro de un círculo vicioso cuyo otro extremo son las inundaciones cada vez más frecuentes.



2024 año calamitoso

Según fuentes periodísticas basadas en informes oficiales, en Cobija, Pando, Bolivia, las inundaciones fueros devastadoras en este febrero. El nivel del río Acre superó el récord histórico, alcanzando 15.83 metros. Más de 2,300 personas resultaron afectadas y damnificadas, y 145 barrios y tres comunidades quedaron bajo el agua.

En Acre el evento extremo no fue menor ya que el 28 de febrero de 2024, el Gobierno del Estado de Acre, Brasil, proporcionó información sobre los 17 municipios en emergencia en el estado. En el municipio de Brasiléia, el río Acre superó los niveles históricos de inundación de 2015; mientras el 75% del municipio quedó aislado. Así, en Acre, hasta el 28 de febrero, había 20.182 personas desplazadas, de las cuales, 6.627 fueron refugiadas en 70 albergues, según las mismas fuentes.

De la misma manera, el 21 de febrero, el desbordamiento de los ríos Acre y Yaverija por las intensas lluvias causaron inundaciones severas en Iñapari, la ciudad fronteriza trinacional de la Amazonia peruana, en Madre de Dios, Perú. Para ese día se informó que la ciudad se encontraba bajo 1.20 metros de agua, lo que había provocado que viviendas, edificios, entidades públicas, colegios y otras infraestructuras queden gravemente afectadas.

Y todo esto sin contabilizar las desastrosas inundaciones que se dieron en toda la Amazonia continental y otros países de Sudamérica como Uruguay, Paraguay y Argentina.

¿Cuál es la razón para que estos eventos extremos se repitan cada vez con mayor ferocidad y frecuencia?

La respuesta corta es referida a la crisis climática, a veces mal entendida como un proceso “natural” devastador, causado por los caprichos de la “madre naturaleza”.
¿Hay algo detrás de esto?

Veamos.

El Grupo Intergubernamental de Expertos sobre el Cambio Climático (IPCC por sus siglas en inglés), reiteradamente ha manifestado que el cambio climático es causado por el hombre y sus actividades irresponsables en el manejo angurriento de la naturaleza.

Esta actitud de irracional acumulación de capital y extremo consumismo, ha llevado a impactos ambientales adversos y pérdidas relacionados con la naturaleza y las personas, sobre todo las comunidades vulnerables que históricamente contribuyen menos al cambio climático y que, por el contrario, se constituyen, en muchos casos, en guardianes de la biodiversidad.

Actitud diametralmente opuesta a la de algunas autoridades locales que irresponsablemente permiten, por cualquier motivo, chaqueos no autorizados, minería ilegal y otras acciones ilícitas que comprometen nuestro futuro y el de nuestros hijos.

Hay mucho por hacer para lograr avances en la lucha de mitigación del cambio climático. A nivel global son nuestros gobiernos los llamados a establecer políticas públicas adecuadas y hacerlas cumplir; a nivel local la adaptación con acciones concretas debe ser un imperativo inexcusable.

Para esto, el mini MAP trinacional de Gestión de Riesgo y Defensa Civil de la Iniciativa MAP, en la carta antes mencionada, recomienda los siguiente:

1) Preparar e implementar planes de contingencia para el abastecimiento de agua en comunidades humanas y actividades agropecuarias, tomando en cuenta la importancia de mantener los sistemas acuáticos.

2) Preparar e implementar planes de contingencia para identificar y controlar las quemas accidentales y provocadas, con el fin de apagar rápidamente los incendios iniciales en el bosque antes de su propagación.

3) Preparar e implementar planes de contingencia para reducir los impactos de olas de calor en poblaciones vulnerables, como ser personas de tercera edad y menores, además de las actividades agropecuarias.

4) Que las sociedades e instituciones públicas realicen el monitoreo constante de la calidad del aire, a través de los datos emitidos por las plataformas locales y satélites para implementar medidas de reducción del impacto del humo en la salud humana y ambiental.

5) Seguir las previsiones meteorológicas locales a corto plazo (para días, semanas y meses), así como elaborar mapas que prevean las anomalías de temperatura y precipitación. Esto es particularmente importante al adoptar medidas inmediatas, dado que los incendios presentan una rápida fluctuación espacial y dependen de previsiones y modelos a corto plazo.

Esperamos repercusiones favorables.

Logomarca

Deixe seu comentário

VEJA MAIS