De onde eu venho – Carina Menezes

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De onde eu venho todo mundo sabe como é, mas não sabem!
De onde eu venho tem florestas e rios. Tem bichos soltos na mata, tem boi invadindo as capoeiras, tem cobra peçonhenta e tem tucandeira também.
De onde eu venho tem Samaúmas, tem restos de fornalha e de defumador. Lá já fiz bola de leite de seringueira, balão e sapato também.
De onde eu venho tem casa de paxiúda, de farinha e tapiri. Tem pescaria e peixe na sororoca – e tem boto também.
De onde eu venho tem caboquinho da mata, mãe d’água e curupira. Tem cobra grande e batedor também.
De onde eu venho tem cidades, teatros e museus. Tem medo e violência. Tem festa junina e religiosa também.
E tem uma coisa que pouco se fala, quando falam daqui.
É que tem GENTE também!
Nos barrancos dos rios, na mata fechada, no aceiro de um roçado, na beira de um fogão à lenha, tem gente!
Tem gente nas cacimbas, lavando louças no jirau, pescando cará no igarapé, tirando açaí e caçando embiara também.
Tem gente cuidando da mata e destruindo ela também. Nas cidades, nos pastos, nas aldeias e nas estradas de água também tem.
E se eles, que sabem, nos perguntassem como é viver aqui?
E se pudéssemos dizer quem somos e como queremos ser vistos?
E se nos ouvissem?
Talvez tanta gente, que tanto sabe da gente, mas que nunca passou por aqui, não tentasse falar por nós!



Autorretrato

Carina Menezes é jornalista, formada pela Universidade Federal do Acre, e graduanda em História. É natural de Marechal Thaumaturgo, no Vale do Juruá. Costuma retratar em seus textos suas vivências no seringal e as tradições dos povos da Amazônia.

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