COP-30 e G20: mas quem mesmo salvará a Amazônia?

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O encontro da Cúpula do G20 no Brasil é a consolidação da retomada do prestígio e da imagem do País diante da comunidade internacional. Durante os trágicos quatro anos do bolsonarismo, o Brasil se transformou num pária aos olhos do mundo. A política do conhecido “deixar a boiada passar” chamou a atenção global para os impactos devastadores ocasionados aos nossos biomas, em especial da Amazônia.

Não temos a menor dúvida de que a Floresta Amazônica é o maior ativo internacional brasileiro. A manutenção ou a destruição da floresta é apontada como essencial para mitigar os efeitos dos eventos climáticos extremos que atingem toda a Terra – sem exceção de continente ou de posição no ranking de países “mais desenvolvidos”.

Ao voltar ao Palácio do Planalto pela terceira vez, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reconstruiu a imagem do Brasil (e nos reposicionou no xadrez político global) usando a preservação da Floresta Amazônica e o combate às mudanças climáticas como sua principal estratégia. E os resultados estão aí: o Brasil retomou o Fundo Amazônia com novos investidores de peso. Vamos sediar a Conferência do Clima da ONU, a COP-30, em Belém. A presidência rotativa no grupo das 20 nações mais ricas, entre outros, mostram como a Amazônia tem um peso inquestionável na hora de dialogar e conversar com as grandes potências.

Enquanto um jornalista amazônida, acreano do pé rachado, podemos até dizer que isso é motivo de orgulho. Para nós, que sempre fomos marginalizados e invisibilizados aos olhos de nosso próprio País, a região amazônica ultrapassa as nossas fronteiras marítimas e sul-americanas.

Mas como sempre temos os poréns, este não é, infelizmente, o sentimento de uma grande parcela da população local. O discurso predominante por estas bandas – onde o vento faz a curva – é o de que políticas de proteção da floresta são motivo para deixar o Norte entre as regiões mais pobres e mais carentes do País, com baixos indicadores sociais e econômicos.

O que de fato somos, mas não se pode responsabilizar (única e principalmente) a manutenção da floresta como a razão para todas as nossas mazelas. Este é um discurso raso (e que vende muito bem) para justificar a transformação da floresta em pasto ou campo para a soja, onde só uma elite é beneficiada com a exportação de commodities em dólares.

A nossa classe política “conservadora”, em grande parte ligada aos interesses e ao capital do agronegócio, aponta as políticas de proteção da nossa maior riqueza natural como o motivo para os elevados níveis de pobreza que impactam a população – e a deixa vulnerável ao poderio econômico de tais grupos políticos inescrupulosos.

O debate é longo. Não pode ser tratado de forma rasa – nem por um lado (direita) e nem por outro (esquerda). De nada adianta impor políticas de preservação para a Amazônia de fora pra dentro, de cima pra baixo, sem levar em consideração as demandas de nossas comunidades – sobretudo as rurais. O festim do “Ibama voltou” não encontra auspícios entre uma boa parcela da população amazônica.

O forte conservadorismo de valores e uma elevada antipatia de nossa sociedade às políticas de proteção para a Amazônia – baseadas fortemente na repressão e aplicação de multas – não encontram eco em uma parcela expressiva dos moradores do Norte. Aqui notamos até um certo repúdio a essas políticas. Não é exagero o que afirmo. Só quem vive aqui sabe o que falo.

Tanto assim, que o bolsonarismo continua sendo a principal força política local – vide o resultado das eleições do mês passado. As forças conservadoras que culpam as ações repressoras de Ibama/ICMBio se consolidam a cada pleito eleitoral – e assim será nas próximas décadas.

Para uma população local carente de todo tipo de política que lhe assegure melhor qualidade de vida, ouvir a classe política afirmar que punir a mulher e o homem do campo por ter brocado uma área para ampliar seus roçados é o motivo para sempre estarmos mergulhados num marasmo econômico, soa como uma sinfonia.

Para nossos políticos, é muito mais fácil deixar a boiada passar, liberar o desmatamento, as queimadas e a grilagem, do que propor políticas públicas que conciliam a manutenção da Amazônia em pé com um projeto econômico sustentável capaz de proporcionar, de fato, uma justa distribuição de renda para todos, e não a concentração de capital nas mãos de pouquíssimos proporcionado pelo grande agronegócio.

Em resumo, como tenho falado sempre, está na hora de o governo Lula e seus ministros saírem do pedestal e chegarem aqui no andar de baixo. É preciso que as populações da Amazônia se vejam como protagonistas dos processos de preservação da Floresta Amazônica e não apenas meras cumpridoras de normas. É preciso que as políticas públicas cheguem na ponta – não só o fiscal do Ibama com seus fuzis e carabinas.

Este pode ser o melhor momento. Após dois anos arrumando a casa de uma herança maldita deixada por Bolsonaro, Lula precisa estar mais perto da Amazônia – e não usá-la só como uma moeda de troca na política internacional brasileira. Ou essa política do empurrar goela abaixo muda, ou continuaremos infelizmente a observar mais e mais floresta sendo transformada em pasto. E aí não teremos mais Amazônia para nos mostrar ao mundo.

O presidente Lula durante visita a comunidade ribeirinha de Tefé, no Estado do Amazonas (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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