Dos varadouros de Rio Branco
As comunidades indígenas e ribeirinhas da região oeste do estado voltaram a ser afetadas, neste fim de semana, por uma enxurrada que ocasionou o transbordamento de rios e igarapés. O desastre acontece menos de um mês após a região já ter sido afetada pela grande alagação ocorrida em todo o Acre entre o fim de fevereiro e o começo de março. Entre as comunidades mais impactadas estão as aldeias do povo Yawanawa, do rio Gregório, e Noke Ko’í, do rio Tauari, localizadas na Terra Indígena do Rio Gregório, no município de Tarauacá.
Para as lideranças Yawanawa, esta já é considerada a maior alagação da história da comunidade, deixando as famílias em situação de insegurança alimentar. A grande maioria perdeu todos os seus roçados e não teve tempo de salvar as criações de porcos e galinhas.
De acordo com a liderança Nixiwaka Yawanawa, o Bira, da aldeia Sagrada, no alto rio Gregório, o manancial começou a transbordar nas primeiras horas de sábado, 23, após uma intensa chuva que atingiu a região por 12 horas seguidas.
“De sexta para sábado começou uma chuva que começou às seis da noite e foi até as seis da manhã. Foi uma pouca chuva, quando comparamos com as enchentes anteriores. Mas quando deu umas nove horas [da manhã de sábado], o rio já estava quase no nível do barranco. Quando foi umas 10 horas já tinha passado das enchentes normais”, diz Nixiwaka Yawanawa, em entrevista ao Varadouro. “Foi tudo muito forte, muito rápido.”
“Quando a gente não tá preparado para enfrentar um acontecimento como este, se você não estiver atento, não dá tempo de salvar muita coisa. Houve um prejuízo muito grande. Tem comunidade que perdeu tudo”, afirma Nixiwaka Yawanawa. ”O mais importante é que não perdemos ninguém da nossa família, graças a Deus. Mas bens materiais, a nossa agricultura. Somos 17 comunidades, e muitas delas perderam quase toda a sua agricultura.”
Dividindo o território com os Yawanawa, com quatro aldeias no rio Gregório e duas no Tauari, os Noke Ko’í também estão seriamente impactados pela alagação. Imagens recebidas pela reportagem mostram as aldeias Noke Ko’í debaixo da água, com as casas inundadas, bem como os roçados de macaxeira e banana. As criação de galinha foram colocadas nas partes mais altas.
Segundo Eldo Shanenawa, chefe da Coordenação Regional Alto Juruá, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a instituição já tomou conhecimento da situação, e enviará cestas básicas e água mineral para as comunidades afetadas nesta segunda-feira, 25.
Levantamento feito pela Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (Opirj) indica que outros mananciais da bacia também transbordaram neste fim de semana. Entre eles estão os rios Breu e Tejo, afluentes do Juruá, no município de Marechal Thaumaturgo.
O transbordamento do Breu, inclusive, ficou acima do registrado no mês passado. Na região, as aldeias Kuntanawa e Huni Kuĩ foram impactadas. A Opirj afirma fazer o monitoramento do cenário a partir de contatos com as lideranças locais para elaborar planos de auxílio às aldeias afetadas.
LEIA TAMBÉM:
Indígenas são os que mais preservam e os que mais sofrem com crise climática, diz Marina Silva