CIDADES ESFUMAÇADAS

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Acre fecha agosto com quase 70 mil hectares de áreas queimadas

Rio Branco: 2 de setembro: a capital do Acre se transformou na capital da fumaça, resultado das queimadas fora de controle na região amazônica (Foto: Juan Diaz)



Dados são divulgados no dia em que a capital acreana e cidades vizinhas viveram o seu “dia da fumaça”, com o céu invadido pelas nuvens tóxicas formadas pelas queimadas. Segundo especialistas, a poluição é resultado não apenas dos incêndios no Acre, mas também nos estados e países vizinhos, transportada por correntes de ar.



Fabio Pontes
dos varadouros de Rio Branco


Um dia de cão. Assim podemos definir a segunda-feira, dois de setembro, para boa parte da população acreana. Os céus e a terra da capital Rio Branco e dos municípios do Vale do Acre foram invadidos pela fumaça das queimadas. Após o meio-dia, a poluição tomou conta da paisagem. Respirar ficou difícil. Toda essa fumaceira tem uma causa: as queimadas fora de controle que atingem o estado e todo o bioma amazônico. Além da fumaça “made in Acre”, o fogaréu que consome florestas e a vegetação nos estados e países vizinhos contribui para a nossa degradação ambiental.

Segundo especialistas consultados por Varadouro, o “dia da fumaça” foi ocasionado não só pelas queimadas em território acreano, como também consequência do transporte de “nuvens tóxicas” por correntes de ar. Ventos de leste para oeste e de sul para norte que traziaam uma frente fria concentraram sobre Rio Branco todo o fumaceiro que assustou os nossos olhos – e pulmões.

E os dados são assustadores. Segundo as análises do Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente (Labgama), da Ufac em Cruzeiro do Sul, até o fim de agosto o Acre registrou 68.940 hectares de cicatrizes de queimadas – ou seja, a mancha de fogo que fica na terra e é visível aos atentos olhos dos satélites. Deste total, 800 hectares são de incêndios florestais, o fogo que acontece dentro da mata fechada.

Ano após ano o Acre registra aumento nos casos de incêndios florestais. Para os cientistas, fruto das secas cada vez mais severas e prolongadas. A falta de chuva por longos períodos, aliada às temperaturas muito altas, levam a Amazônia a sofrer com o estresse hídrico. Assim, ela perde a umidade que, antes, evitava o fogo de passar das áreas de borda da mata. Aos poucos a floresta perde essa sua capacidade de se autoproteger. A vegetação seca vira um combustível potencial.

Foi o que aconteceu no sábado, 31 de agosto, no Parque Nacional da Serra do Divisor. As queimadas feitas pelos ribeirinhos para a limpeza dos roçados – uma prática tradicional neste período – fez com que o fogo saísse do controle e entrasse na mata fechada. Segundo nota emitida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o fogo queimou uma área de 10 hectares. Até ontem bombeiros, brigadistas e moradores tentavam conter as chamas com aceiros,

Os dados do Labgma apontam que as maiores áreas de incêndios florestais em 2024 ocorrem nos municípios da região leste: Porto Acre, Bujari e Brasileia. Conforme as análises, 37% das ocorrências de incêndios florestais se deram em projetos de assentamento do Incra, e 22% em unidades de conservação.

A maior cicatriz identificada pelo Labgama aconteceu dentro de uma terra pública não-destinada em Rio Branco, no limite com a Reserva Extrativista Chico Mendes: 620 hectares. A segunda, com 538 hectares, ocorreu no PA Tocantins, em Porto Acre, divisa com o Amazonas.

A transição entre agosto e setembro foi caótica para a população acreana. Além da falta de chuva e do calor acima da média, as queimadas deterioram a qualidade do ar – e da vida nestas bandas da Amazônia Ocidental. E ainda temos setembro inteiro de um verão extremo.

Até agosto, já quase 70 mil hectares de muita devastação ocasionada pelo fogo no Acre, repetindo a tendência de anos anteriores. Desde 2019 o estado convive com números altos de queimadas e incêndios florestais (Foto: Jardy Leite)





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