Bolsonaro e Cameli precisam responder por seus crimes contra a Amazônia

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A deflagração de duas importantes operações para coibir a prática sistemática de crimes ambientais na tríplice divisa Amacro (Amazonas, Acre e Rondônia), nesta semana, revela o quanto o senhor governador do Acre, Gladson de Lima Cameli, do partido Progressistas, foi omisso e até conveniente com atentados cometidos contra a mais importante floresta tropical do mundo, a Amazônia. As ações da Polícia Federal expõem que Cameli seguiu à risca a mesma política adotada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de deixar a boiada passar. Para isso, ele adotou o discurso oficial de desburocratizar e flexibilizar as regras ambientais em nome do agronegócio.

De acordo com as investigações, apenas uma fazenda foi responsável pela devastação de ao menos 600 hectares de uma área de mata protegida por lei: a Floresta Estadual (FE) do Antimary, em Sena Madureira. Como seu nome supõe, a unidade de conservação (UC) é gerenciada pelo governo estadual – e por ele deveria (em tese) ser protegida. Mas não foi o que aconteceu. A operação Terra Prometida revela muito bem a omissão criminosa do desgoverno Gladson Cameli em proteger essa estratégica área de floresta, riquíssima em biodiversidade.

A FE do Antimary está localizada na nova fronteira do desmatamento da Amazônia, no entorno da BR-364, entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Desde 2019, a UC é bastante pressionada pela invasão de madeireiros ilegais, caçadores e grileiros, colocando em risco não só a preservação ambiental da região, mas também a segurança das famílias de pequenos agricultores e extrativistas que ali vivem. E desde 2019 são notórias as denúncias de crimes cometidos contra a FE do Antimary. A torcida do Flamengo e eu já sabíamos disso.

O que o governo fez? Nada. Verdade seja dita que, num certo momento, o Batalhão de Polícia Ambiental fez algumas operações na FE do Antimary. Porém, não sabemos se por questões técnicas (falta de estrutura) ou ingerências políticas, a unidade de conservação ficou entregue às moscas – ou melhor, aos grilos. A partir daí, a boiada foi avançando (e aqui não é uma linguagem figurativa) sobre uma área que deveria estar guardada a sete chaves pelo governo estadual.

Foi preciso a atuação de uma instituição federal para conter a atuação de grupos criminosos na região, fechando a porteira para a boiada e a jagunçada. O governo diz que a ação da PF é legítima por as terras que formam a FE do Antimary ainda serem de propriedade da União. Este fato, todavia, não exclui a responsabilidade das autoridades locais, já que ela é uma unidade de conservação ESTADUAL, e pelo ESTADO deveria estar muito bem protegida.

A deflagração da Terra Prometida mostra que a omissão do desgoverno Cameli foi, no mínimo, criminosa – quiçá até cúmplice destas organizações que destroem a nossa biodiversidade. Ao deixar de combater o desmatamento da Amazônia no nosso Acre, o governo, por assim dizer, passa a agir em cumplicidade com o crime. Assim como também fez Jair Bolsonaro e seu ministro (sinistro) do Meio Ambiente, Ricardo Salles, agora formalmente um réu por seus inúmeros atentados contra a preservação da Amazônia. Portanto, Gladson Cameli deveria ser processado e responsabilizado pelos crimes ocorridos contra a nossa floresta durante os quatro primeiros anos de seu desgoverno.

Os dados do Inpe sobre o desmatamento e as queimadas mostram como o período passado foi marcado pela omissão dolosa do Palácio Rio Branco na proteção e preservação da Amazônia. Entre 2019 e 2022 o Acre registrou taxas recordes de derrubada e fogo. A partir de 2023, com a posse de Lula, estes números caíram de forma expressiva. O desgoverno Cameli teve que se readaptar ao novo momento político do país. Precisou reestruturar a política ambiental do Acre. Afinal, ele não tinha mais Bolsonaro no Planalto para salvaguardar a sua política do agronegócio. Agora traja um discurso (falso) verde. Puro oportunismo.

Pena que no Acre não temos instituições estaduais sérias e independentes para investigar e denunciar Gladson Cameli por sua omissão criminosa na esfera ambiental. Na administrativa, a operação Ptolomeu – por meio da PF, MPF e CGU – já cumpre muito bem este papel.

Provas contra ele não faltam. A começar pelo trágico discurso feito lá em Sena Madureira, em 2019, quando desmoralizou e humilhou o trabalho de agentes ambientais do Imac, afirmando que ninguém mais precisava pagar as multas do órgão “porque agora quem está mandando sou eu”.

Se no Acre pudéssemos contar com um MP Estadual independente, o governador deveria ter sido denunciado por improbidade administrativa e prevaricação. O próprio chefe do Poder Executivo, que deveria dar exemplo, ataca uma entidade da administração pública.

Gladson Cameli pode até não ir para o banco dos réus por sua omissão dolosa contra a preservação ambiental. Esperamos que o vá a partir do inquérito da operação Ptolomeu. Mas é de aguardar que, de alguma forma, ele seja punido por ter sido conveniente com aqueles que, na prática, com motosserras e tratores, fizeram de seu primeiro mandato um dos piores períodos para a proteção da Floresta Amazônica.

Ele pode até não ser julgado pela torga, mas que o eleitorado acreano possa sair desta treva na qual decidiu mergulhar, e julgar este desgoverno nas urnas. A história vai julgar Cameli – e a senhora História não costuma ser branda.


Fabio Pontes – jornalista acreano, nascido e criado pelas curvas do Aquiry
Editor-executivo do Varadouro
fabiopontes@ovaradouro.com.br
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