Até então, segunda maior cidade do Acre dependia de energia gerada em termelétricas, o que consumia seis milhões de litros de óleo diesel por ano; custos superavam os R$ 240 milhões. Em março, o povo Noke Ko’í chegou a interromper as obras por causa dos impactos dentro de seu território.
Dos varadouros de Rio Branco
O Ministério das Minas e Energia informou que desde a última segunda-feira, 16 de dezembro, a linha de transmissão (também conhecido como Linhão) que liga Rio Branco a Feijó e Cruzeiro do Sul está em operação. Assim, a segunda cidade mais populosa do Acre abandona de vez a geração de energia a partir da queima de combustível fóssil. Por décadas, a cidade teve sua eletricidade produzida em usinas termelétricas.
A construção do linhão entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul foi marcada por polêmicas ao as torres de transmissão passarem por duas terras indígenas (Campinas Katukina e Katukina Kaxinawa). Em março, os Noke Ko’í (Katukina) chegaram a interromper a construção do linhão por a empresa responsável ter derrubado samaúmas, árvores consideradas sagradas pelo povo.
À época, foi espalhada a fake news de que os indígenas teriam feito um procurador da República refém durante audiência que debatia os impactos das obras. Ao Varadouro, o procurador e as lideranças negaram todos os boatos.
Após quase dois meses de intensas negociações entre as lideranças Noke Ko’í, a construtora do empreendimento e o Ministério Público Federal, as obras foram retomadas.
A rede faz parte do programa Energias da Amazônia, que tem como principal objetivo reduzir a dependência de geração de energia a partir de óleo diesel na região amazônica, promovendo, segundo o MME, “maior eficiência e sustentabilidade no abastecimento energético”.
“Nos últimos dias, testes na LT foram realizados para avaliar a integridade e confiabilidade, que permitiu a conexão de Cruzeiro do Sul ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Essa integração representa um marco para o Acre, em especial para Cruzeiro do Sul, que passará a contar com maior segurança elétrica e uma solução mais limpa e econômica”, garante o MME.
Conhecida como uma das portas de entrada para a região do Vale do Juruá, Cruzeiro do Sul tem enfrentado desafios tidos como “significativos” no fornecimento de energia elétrica. Atualmente, cerca de 6 milhões de litros de óleo diesel são consumidos anualmente em centrais geradoras para atender à demanda local.
Essa dependência do diesel gera um alto custo financeiro e ambiental, com despesas estimadas em R$ 240 milhões por ano. Além disso, o uso de combustíveis fósseis em geradores contribui para a emissão de gases poluentes e para o impacto ambiental na região.
“A construção das torres da linha de transmissão foi realizada com as devidas autorizações do Ibama e da Funai. O traçado atravessa terras indígenas, o que foi necessário para otimizar o percurso e reduzir a extensão da linha”. garante o Ministério.
Outros municípios acreanos continuam a depender da geração de energia em usinas termelétricas, sobretudo os sem acesso via terrestre: Santa Rosa do Purus, Jordão, Porto Walter e Marechal Thaumaturgo. Para garantir eletrecidade nestes municípios, milhares de litros de diesel são transportados em embarcações. Nos meses críticos do verão, este transporte fica comprometido por causa do volume crítico dos rios.