Na Carta de Rio Branco, governadores bolsonaristas da Amazônia firmam pacto pela proteção ao bioma
A capital acreana recebeu nestes dois últimos dias o Fórum de Governadores da Amazônia Legal. Ao final do encontro, foi redigida a Carta de Rio Branco elencando uma série de propostas e compromissos por parte dos gestores estaduais em assegurar a preservação da Floresta Amazônica, além de defender a execução de projetos e políticas que assegurem o desenvolvimento econômico da região com sustentabilidade. O documento ainda fala sobre a necessidade de adoção de medidas para o enfrentamento aos eventos climáticos que afetam a população amazônida.
A Carta de Rio Branco pode ser vista como um grande avanço político regional e uma mudança de paradigma (mesmo que por conveniência) dos governadores da Amazônia Legal – uma região de eleitorado predominantemente bolsonarista. Muitos destes governadores, incluindo o anfitrião Gladson Cameli (PP), conduziram suas próprias políticas de deixar a boiada passar, liderada, entre 2019 e 2022, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A única exceção foi o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). O emedebista se apresentou como opositor à política devastadora executada por Bolsonaro e seus aliados na região Norte. Nem por isso, o Pará apresentou reduções nas taxas de desmatamento naquele fatídico período. Ainda assim, Barbalho se cacifou como importante liderança regional, assegurando a Belém a sede da Conferência do Clima da ONU de 2025, a COP-30.
Ele também é o presidente do conselho de governadores da Amazônia Legal. A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República, em 2022, provocou mudanças de posicionamento político (ainda que tímidas) entre os governadores da região. A mais notável foi a de Gladson Cameli. Após ser eleito, em 2018, com o discurso de flexibilizar as regras ambientais para fazer do agronegócio o carro-chefe da economia acreana, Cameli adota uma “pauta verde” desde 2023 – mas deixando um vasto passivo ambiental para recompor.
Na semana em que deu carta-branca para a exploração de potássio nas terras reivindicadas pelo povo Mura, o governador bolsonarista do Amazonas, Wilson Lima (União), decidiu não vir ao fórum de governadores para falar sobre sustentabilidade e respeito aos direitos dos povos indígenas. O mesmo aconteceu com o governador Marcos Rocha (União), de Rondônia. Isolado numa bolha bolsonarista, continua a conduzir sua própria política de deixar a porteira aberta para a boiada passar,
Em meio a todas estas particularidades (e peculiaridades) amazônicas, a Carta de Rio Branco é um sinal de que podemos, sim, ter boas expectativas de um novo e melhor ambiente político na Amazônia nos próximos. Mas é preciso termos cuidado: o obscurantismo representado por Jair Bolsonaro continua muitíssimo vivo e forte em nossa região. Toda vigilância é necessária.