Por Aline Lopes, Michelle Pazin, Maria Teresa Piedade, Layon Demarchi, Gisele Mori, Giuliette Mano e Jochen Schöngart.
Os eventos climáticos extremos vêm sendo um desafio nas últimas décadas para a Amazônia, um dos biomas mais importantes para a regulação do clima global. A seca que observamos nestas últimas semanas na região é, em parte, resultado das mudanças climáticas e afeta, principalmente, organismos aquáticos e populações humanas das áreas alagáveis.
O aumento da temperatura na Amazônia que compromete o regime de chuvas, ocasionando a seca, está relacionado a fenômenos climáticos como o El Niño, que aumenta as temperaturas superficiais dos oceanos. A seca é ainda agravada pela diminuição da cobertura da Floresta Amazônica devido ao desmatamento e às queimadas. Quanto menos árvores para fazer o processo de evapotranspiração, que é a geração de vapor de água para a atmosfera, menos chuva teremos e mais elevadas serão as temperaturas e o calor experimentado na região.
Os eventos extremos têm afetado as florestas alagáveis da Amazônia, também chamados de igapós e várzeas, ecossistemas únicos e importantes para a biodiversidade local. No seu curso normal, as florestas estão ligadas aos ciclos naturais de inundação dos rios, sendo que suas árvores são adaptadas para sobreviver a inundações e a secas. Como os níveis de água estão bem mais baixos do que o esperado na estação seca, os solos das florestas alagadas, antes submersos durante a maior parte do ano, estão com uma exposição prolongada.
Muitas espécies de peixes, insetos, mamíferos aquáticos e outros animais adaptados aos ciclos naturais de inundação da região enfrentam desafios para sobreviver às consequências dos eventos climáticos extremos. A seca extrema do lago Tefé, no Amazonas, levou a uma redução nos níveis de oxigênio e a um aumento de temperatura da água, que ultrapassou 39ºC, o que provocou a morte de mais de 140 botos-vermelhos e tucuxis, além de peixes.
As secas extremas trazem consequências desastrosas para a Amazônia. Como o principal meio de transporte da região são os rios, quando eles secam, municípios e comunidades inteiras ficam isoladas. Há escassez de água potável, de abastecimento de alimentos e falta de acesso a serviços básicos de saúde e educação. Além disso, a erosão dos solos na várzea coloca a vida e os bens das populações ribeirinhas em risco.
Diante deste cenário, é urgente que a comunidade internacional e os governos locais encontrem soluções para minimizar os efeitos dos eventos extremos em comunidades ribeirinhas e povos indígenas. Para além de medidas momentâneas, é preciso combater o desmatamento da floresta amazônica, restaurar as áreas degradadas, fortalecer o desenvolvimento sustentável e investir de forma contínua em educação e ciência. Somente assim será possível, a longo prazo, conservar a biodiversidade e manter os múltiplos serviços ecossistêmicos que garantem a sobrevivência das comunidades tradicionais e indígenas nesses ambientes vulneráveis.
Sobre os autores
Aline Lopes é pesquisadora do grupo de pesquisa Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (MAUA), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), e docente do Programa de Pós-graduação em Tecnologias Limpas da Unicesumar
Michelle Gil Guterres Pazin é pesquisadora do MAUA/INPA e do grupo de pesquisa Mamíferos Aquáticos Amazônicos (GPMAA), do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
Maria Teresa Fernandez Piedade é coordenadora do MAUA/INPA
Layon Oreste Demarchi é pesquisador do MAUA/INPA
Giuliette Barbosa Mano é pesquisadora do MAUA/INPA
Gisele Biem Mori é pesquisadora do MAUA/INPA
Jochen Schöngart é pesquisador do MAUA/ INPA