Fabio Pontes
dos varadouros de Rio Branco
As famílias de agricultores sem-terra do acampamento Marielle Franco, que ocupam uma área vizinha à Fazenda Palotina, no município de Lábrea, no Amazonas, voltaram a denunciar agressões cometidas por seguranças de uma empresa privada que faz a vigilância da propriedade da família Zamora. Além de agressões físicas, os camponeses afirmam que tiveram seus barracos destruídos pelos vigilantes, alegando o cumprimento de uma ordem judicial. O caso aconteceu na tarde desta quarta-feira, 18 de dezembro.
Varadouro teve acesso aos vídeos nos quais os funcionários da Bastos Vigilância dizem que estão ali para cumprir o mandado expedido por uma juíza, sem especificar o nome da magistrada ou apresentar documentos. Mandados judiciais só podem ser cumpridos pelas forças oficiais de segurança do Estado, acompanhadas de oficial de Justiça e outras autoridades.
Nas imagens, uma das moradoras questiona o “cumprimento” da sentença judicial, e pede a apresentação da ordem. Ele também indaga a não presença de servidores do judiciário. Após exigir a saída dos posseiros, os barracos são derrubados com o uso de motosserras. Num deles há presença de mulheres e crianças.
No caso, a sentença seria da juíza federal Maria Elisa Andrade, da 7o Vara Federal Ambiental de Manaus, a mesma que determinou a prisão preventiva de Sidney Sanches Zamora Filho. Conforme Varadouro mostrou na semana passada, Zamora Filho está foragido desde o começo de novembro, quando a Polícia Federal cumpriu mandados no apartamento de luxo da família Zamora, numa área nobre da capital acreana.
“Não tem papel de juíza nenhuma. O caso tá transitando na Vara Federal, mas ela não mandou tirar ninguém”, afirma uma das lideranças da ocupação. Por questão de segurança, ela pede o anonimato.
Como forma de protesto pelas agressões sofridas, os agricultores fecharam trecho da BR-317 que liga Rio Branco a Boca do Acre, bem na entrada da Fazenda Palotina. Desde o mês passado, as famílias acusam os vigilantes da Palotina de intimidação com ações violentas, proibindo o acesso deles a áreas para fazer a quebra de castanha.
Nesta época do ano os camponeses passam a fazer a coleta de castanha no interior da mata como forma de assegurar renda. Eles acusam os vigilantes de reter os sacos com as castanhas coletadas. O alto valor pago pela lata leva muitas famílias a entrar nas florestas em busca dos ouriços, criando situações de disputas e conflitos.
Desde o começo do ano as famílias do acampamento Marielle Franco denunciam a Bastos Vigilância de atuar em conjunto com os capangas da fazenda para intimidá-los. O estopim se deu no começo de março, quando os agricultores foram torturados por homens vestidos de preto que se identificavam como policiais do Bope.
A Fazenda Palotina tem a sua posse reivindicada pela família Zamora, incluíndo as áreas onde estão os sem-terra. Por sua vez, elas afirmam que a terra é de propriedade da União e já estaria em processo de transformação de assentamento pelo Incra.
O caso da Fazenda Palotina está entre as suspeitas de possível grilagem de terras públicas, que contaria com a participação de funcionários do cartório de Lábrea e do Incra no Amazonas, alvo de operações da Polícia Federal em julho.
O outro lado
Varadouro entrou em contato, por meio do Whatsapp, com Wedson Bastos, que se apresenta como sócio-proprietário da Bastos Vigilância e Segurança Privada, sediada em Rio Branco. A reportagem questionou o empresário sobre os possíveis casos de violência praticados por seus funcionários contra os camponeses, e pediu uma cópia do mandado judicial. Ainda questionou a ausência das forças policiais e de um oficial de Justiça.
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