Agricultoras de Brasiléia debatem mudanças climáticas e justiça de gênero

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Agricultoras e extrativistas do Alto Acre reunidas para debater os desafios vividos por elas no campo e na floresta (Foto: Ramon Aquim)



Dos varadouros de Rio Branco


O Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Brasileia (STR Brasileia), realizou, entre os dias 26 e 27 de outubro, uma oficina entre agricultoras e extrativistas do município para debater temas como mudanças climáticas e justiça de gênero. Além das trabalhadoras do campo, a oficina reuniu especialistas, integrantes de órgãos públicos e lideranças dos movimentos sociais, para tratar de pautas como os desafios de se viver da agricultura em tempos de crise climática e o empoderamento das mulheres numa atividade econômica onde elas passaram a assumir, ano após ano, o protagonismo.

“Essa oficina é para o empoderamento das mulheres, porque a gente tem primeiro que se empoderar para poder debater. Também vamos criar uma rede de mulheres para fortalecer as outras mulheres que estão na zona rural, nos seringais”, explicou Laiane Santos, articuladora do STR Brasiléia.

Nas últimas décadas, tem sido cada vez mais comum mulheres chefes de família na zona rural. A presença feminina na lida com a terra, com o manejo de animais de pequeno e grande porte, e também com o corte de seringa e a coleta de castanha, é recorrente em comunidades rurais, extrativistas e ribeirinhas da Amazônia.

Ao mesmo tempo, elas também são impactadas pelos efeitos das mudanças climáticas. A agricultura é uma atividade que depende diretamente do equilíbrio climático, principalmente entre as chuvas e a estiagem. Nos últimos anos, a intensificação do verão amazônico, com o aumento dos dias sucessivos sem chuvas e as altas temperaturas, tem comprometido a sobrevivência dos roçados da agricultura familiar.

No Vale do Juruá, por exemplo, as alterações climáticas são apontadas como as principais causas para a proliferação da praga do mandarová, que destrói os roçados de macaxeira e, consequentemente, a produção de farinha, principal fonte de renda para as famílias.

Quando não há secas extremas que comprometem o acesso à irrigação dos cultivos e o consumo humano de água potável, no inverno há grandes enchentes que destroem os roçados das comunidades ribeirinhas. Na última década, tanto a zona rural quanto a urbana têm sido fortemente atingidas pelas enchentes do rio Acre, como prejuízos inestimáveis para toda a população.

Outro tema debatido foi a violência de gênero. Tema mais do que necessário num estado com uma das maiores taxas de feminicídio do país. Na zona rural, onde há uma maior deficiência da resposta do poder público – seja com a polícia, delegacias, promotorias e outros – as agricultoras ficam ainda mais expostas a todo tipo de violência. Para debater o tema, representantes do Ministério Público e do Centro de Atendimento à Mulher (Ceam) foram convidadas para falar às agricultoras sobre seus direitos e como denunciar agressores.

Ao final da oficina, foi redigida uma carta para ser entregue à Prefeitura de Brasiléia com as reivindicações das trabalhadoras rurais, entre as quais estão melhorias nas condições de trafegabilidade nos ramais e a elaboração de um plano de negócios para a comercialização da produção rural “com uma composição de preço justo e equitativos para as produtoras”.

Elas também querem melhorias na oferta de serviços básicos municipais, como merenda de melhor qualidade nas escolas rurais e atendimento em saúde com a presença de profissionais especialistas, como ginecologistas. A carta, ainda, aponta a necessidade da construção de um plano de contingência por parte da prefeitura para mitigar os efeitos de eventos climáticos extremos (secas e enchentes) na zona rural de Brasiléia.





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