
A reação do governador Gladson de Lima Cameli (PP) à manifestação de jovens ativistas contra a sua política ambiental da boiada, durante o encerramento da 15o Reunião Anual da Força-Tarefa dos Governadores pelo Clima e a Florestas (GCF Task-Foce), apenas atestou o quão pequeno, desqualificado e despreparado ele é para ocupar o cargo de chefe do Poder Executivo – para azar do Acre e do povo acreano. Apesar de muitos acharem uma sorte.
O seu despreparo e a sua desqualificação nós já sabemos desde o primeiro dia em que ele colocou os pés no Palácio Rio Branco, em primeiro de janeiro de 2019. Gladson Cameli é uma pessoa com sérias limitações cognitivas e intelectuais. Tem graves dificuldades para construir um raciocínio lógico, o que se comprova durante os seus discursos de improviso. No campo da ética e da moral, é sem comentários.
Tal situação leva o Acre a enfrentar uma grave crise social, econômica e política. Temos um estado paralisado. Um estado onde a pobreza, a desigualdade e a miséria só crescem. Politicamente, o governo está encharcado em denúncias de corrupção. O próprio governador é réu no Superior Tribunal de Justiça como chefe de organização criminosa. Mas está tudo bem para nossa sociedade dita conservadora.
E todo o despreparo intelectual e emocional veio à tona no evento internacional sediado na Ufac.
Um governante (ou desgovernado?) que tanto se orgulha em se apresentar como um democrata não manda seus seguranças retirar manifestantes de um espaço público, de um evento financiado com dinheiro público, na base dos empurrões, tapas e chutes. E, sim, a ordem para retirar os jovens de dentro do auditório partiu dele. Num dos vídeos, é possível ver o momento em que, longe do microfone, ele dá a ordem a um oficial militar da sua segurança.

Antes do espetáculo do horror, da selvageria promovida pela jagunçada do governador, a reação de Gladson diante do protesto já se mostrou patética – no mínimo, esdrúxula. Ao invés de ficar em silêncio e evitar confrontos, de se autopoupar, o governador perdeu a compostura, e foi bater boca com os manifestantes. Uma meia-dúzia de gatos pingados. Os únicos corajosos dispostos a protestar numa sociedade ébria pelo fascismo. A encarar a máquina do governo.
A postura, ou melhor, a falta de postura do governador em si já revelou toda a sua pequenez para um cargo que exige tanta altivez. Para abrilhantar ainda mais o espetáculo do horror, ele fez uma daquelas dancinhas tragicômicas – para o delírio de uma plateia ensandecida formada por cargos comissionados.
E na plateia também havia autoridades do Brasil e exterior, representantes de embaixadas como Reino Unido e Noruega, cientistas e pesquisadores de diferentes partes do mundo. Uma vergonha alheia. Ainda bem que a ministra Marina Silva atrasou o voo, sendo poupada de assistir tamanho espetáculo.
Fico a imaginar o que se passou na cabeça de outros governadores ao ver um colega seu fazendo uma dancinha patética, batendo boca e debochando de um pequeno grupo de jovens manifestantes.
Em meus quase 20 anos de atuação no jornalismo político, nunca tinha presenciado algo tão deplorável. Resultado da decadência política na qual o povo acreano decidiu mergulhar a partir de 2018, elegendo figuras do nível de Gladson Cameli – e que essa mesma sociedade entorpecida pelo fascismo parece tanto se orgulhar.
Logicamente, a primeira reação dos bajuladores de plantão foi desqualificar a manifestação dos jovens ativistas. Tentaram até plantar provas de que estavam com pedras. Disseram que ali não era espaço para protesto.
Se lá não o é, onde seria?
Num dos porões da ditadura que eles tanto veneram? Nos porões só ouvimos os gritos e os gemidos dos torturados por regimes autoritários; É proibido manifestações.
A pauta do protesto foi totalmente pertinente com o evento. Os jovens desmascararam um governador que hoje se apresenta como um conservacionista ambiental, mas que durante seu primeiro mandato (2019-2022) adotou a sua própria política da “boiada das boiadas”, o que levou o Acre a níveis críticos de desmatamento da Floresta Amazônica. Apesar de muita gente fingir que nada disso aconteceu, com frequência eu refresco a nossa memória com reportagens publicadas aqui neste Varadouro.
A manifestação de uma juventude utópica, integrante de um minúsculo partido de esquerda radical, o PCBR, era legítima. Eles se manifestaram de forma pacífica. Em momento algum colocaram em risco a segurança do governador e dos demais participantes. Ao contrário, quem colocou em risco a segurança das pessoas ali presentes foram os seguranças do governador.
A reação foi desproporcional. Uma verdadeira barbárie registrada para quem quis ver. A selvageria, logicamente, foi aplaudida e comemorada por grande parte de nossa gente de bem e conservadora pelas redes sociais. Eles adoram este espetáculo do horror. É um delírio para essa gente nefasta. Eles adoram a democracia da porrada, do açoite. Graças a Deus!
Que tempos estamos vivendo, meu Acre.
Fabio Pontes é editor do Jornal Varadouro. Possui quase 20 anos de experiência dentro do jornalismo acreano-amazônico. É especialista na cobertura de temas como política, meio ambiente, populações tradicionais, mudanças climáticas e outros.
fabiopontes@ovaradouro.com.br