A crônica do desastre socioambiental

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Ecomodernismo e ambientalismo na região trinacional MAP


Definimos a crônica de desastres socioambientais como o processo de diagnóstico e avaliação de eventos climáticos extremos, causados ​​direta ou indiretamente por ações humanas (antrópicas). Esta forma de relacionar as mudanças globais provocadas pelo desenvolvimento das forças produtivas começou muito antes da elaboração do Relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, mais conhecido como “Relatório Brundtland” (1987), e que é reconhecido como um marco dos movimentos sociais ambientalistas.

Nas décadas de 50, 60 e 70, a sociedade civil, os académicos e as organizações de trabalhadores, tanto nos países industriais como nos periféricos, tomaram consciência dos danos que a actividade humana causava ao meio ambiente e, consequentemente, surgiram protestos contra a poluição causada, entre outros, por testes nucleares, vazamentos de petróleo e utilização intensiva de pesticidas.

Esses antecedentes mostram o início do que mais tarde se chamaria de “ambientalismo”, “ecomodernismo” ou “ambientalismo”, entendidos como movimentos sociais propensos à conservação da natureza e à convivência harmoniosa com ela, através do almejado desenvolvimento sustentável, limitador do crescimento da economia. e, em última análise, provocar o seu “decrescimento”, a fim de salvar o planeta do que se entende como o processo que nos levará ao colapso socioambiental, o temido “desastre”. Definamos brevemente as características destes movimentos e o seu desenvolvimento na construção social do MAP (Madre de Dios, Acre, Pando).

Ecomodernismo na região MAP

O ecomodernismo propõe um crescimento sustentável baseado no desenvolvimento de tecnologia e inovação. Desta forma, é possível – afirma esta posição – separar o desenvolvimento económico e social do impacto ambiental negativo que produz. O futuro da humanidade e do planeta dependerá, então, do desenvolvimento de formas mais avançadas de tecnologia, entre elas, e mais importante, a energia nuclear.

Sem sermos necessariamente eco-modernistas, acreditamos que é importante para a região MAP procurar uma redução significativa no desperdício de energia, optimizar o seu consumo e lançar as bases para um mundo novo e sustentável. Para isso, é necessário e imperativo alcançar a chamada “neutralidade carbónica” que consiste em emitir para a atmosfera a mesma quantidade de dióxido de carbono (CO2) de onde é retirado de diferentes formas, o que deixa um saldo zero, também denominada “pegada zero de carbono”, até o ano 2050.

A inovação tecnológica terá, então, um papel fundamental no combate à crise climática e no cumprimento das metas de redução de carbono. Dada a evidência desta realidade, devem ser urgentemente procuradas mudanças na matriz energética na região MAP.

Seguem dois exemplos iniciais do departamento de Pando nesta tentativa tecnológica de superação da crise climática, sem ignorar as iniciativas que acontecem na mesma direção no Acre e Madre de Dios, regiões irmãs de Pando:

A nove quilómetros da capital Cobija, é construída uma central solar fotovoltaica que funcionará com 17.334 painéis instalados em 11 hectares. Terá uma capacidade de geração de 5,1 megawatts (MW) que fornecerá eletricidade contínua aos municípios de Cobija, Porvenir, Filadelfia, Bella Flor e Puerto Rico.

Além disso, a usina economizará 1,8 milhão de dólares por ano no subsídio ao diesel ao reduzir seu consumo em até 1,9 milhão de litros, além de gerar energia limpa ao reduzir a emissão de cinco mil toneladas de gases de efeito estufa. Da mesma forma, na comunidade de El Sena, também em Pando, está sendo construída outra central fotovoltaica com capacidade estimada de 400 kWp, com a característica de que esta tecnologia será combinada com a energia eólica.

É importante destacar que o financiamento estatal da Empresa Nacional de Eletricidade (ENDE) para estes projetos se soma aos recursos concedidos pela Cooperação Dinamarquesa para o Desenvolvimento (DANIDA), começando, assim, no departamento de Pando, Bolívia, na região MAP, a transferência de fundos dos países desenvolvidos que, por vezes eufemisticamente, chamamos de países em desenvolvimento, como compensação pela dívida ecológica. Este processo de tecnificação ecomodernista não é uma panaceia e não será decisivo no futuro que queremos, se não se somar a outros processos de natureza mais ecológica.

Ambientalismo na região MAP

Para Grau (1985), o ambientalismo é um movimento sociopolítico e cívico que busca aplicar os conceitos da ecologia para cuidar do meio ambiente. Sem chegar ao extremo de confirmar os “direitos” da natureza – para além de uma metáfora mobilizadora – temos a certeza de que, na região trinacional do MAP, processos produtivos limitados e abrangentes, dentro da nossa Floresta Amazônica, apresentam abordagens ecológicas importantes como opções de saída para o anunciado desastre socioambiental.

Várias publicações em Pando apontam para esta opção de desenvolvimento sustentável com esta perspectiva ecológica. Vejamos, apenas a título de exemplo, dois deles: O livro Sistemas Agroflorestais na Amazônia Boliviana, editado por Vos, Vaca e Cruz (2015), mostra opções produtivas no âmbito da sustentabilidade econômica, social, cultural e política, em direção à sustentabilidade, desenvolvimento integral e sustentável, o que demonstra, na opinião dos autores, que os sistemas agroflorestais (SAF) constituem um elemento importante da agricultura familiar na Amazônia.

Esses sistemas produtivos diversificados incorporam diferentes tipos de culturas no curto, médio e longo prazo. O objetivo é recuperar áreas degradadas e desmatadas e convertê-las em áreas produtivas. A moringa, o açaí, o patauá e o cupuaçu são frutas típicas da Amazônia, com significativo potencial agroflorestal, dadas as claras possibilidades de desenvolvimento integral e sustentável e seu alto valor nutricional. Os autores do livro desenvolvem uma proposta de desenvolvimento regional e melhoria da qualidade de vida dos agricultores familiares do norte da Amazônia boliviana. Experiências semelhantes são conhecidas na região de Madre de Dios, Peru e no estado do Acre, Brasil.


Uma terceira via? Bioeconomia e economia circular.

Na discussão sobre como enfrentar o futuro desastroso na nossa região trinacional MAP, encontramos – a meio caminho entre o ecomodernismo e o ambientalismo – posições que dão conta do enorme progresso da chamada “bioeconomia” e da “economia circular”. Para Brack (2012), a biotecnologia nos oferece hoje recipientes para bebidas feitos com amido de milho, sacos à base de batata para mercados, algas marinhas para produtos cosméticos e alimentos, processos microbianos para purificar água, etc., etc.

Por outro lado, a economia circular visa a reciclagem e reutilização de produtos, reduzindo efetivamente a utilização de matérias-primas virgens e as pressões ambientais associadas.

Ambas as posições coincidem nas preocupações económicas e ambientais, na investigação e inovação, e na transição social para a sustentabilidade ecomodernista ou ecológica. No entanto, a bioeconomia não dá muita atenção ao “ecodesign”, à gestão de resíduos, à reciclagem e ao papel dos modelos de negócios inovadores, enquanto a economia circular trata principalmente a gestão da biomassa e dos biomateriais como prioridade.

Assumindo que qualquer ideia ou proposta para a melhoria sustentável da região MAP deve ser tida em consideração, temos consciência de que a sustentação do debate, do diálogo do conhecimento e da investigação-ação nestas áreas do conhecimento e da tecnologia deve, no curto prazo, prover ideias inovadoras às sociedades MAP como forma de mitigar o desastre que, claramente, está a chegar.

Guillermo Rioja-Ballivián é antropólogo social, é professor na Universidade Amazônica de Pando e membro da iniciativa MAP, que reúne pesquisadores e acadêmicos da tríplice fronteira MAP: Madre de Dios (Peru), Acre (Brasil) e Pando (Bolívia).




Texto original em espanhol



LA CRÓNICA DEL DESASTRE SOCIOAMBIENTAL
ECOMODERNISMO Y ECOLOGISMO EN LA REGION TRINACIONAL MAP


Definimos la crónica del desastre socioambiental como el proceso de diagnóstico y evaluación de eventos climáticos extremos, provocados directa o indirectamente por acciones humanas (antrópicas). Esta manera de relatar los cambios globales provocados por el desarrollo de las fuerzas productivas, se inició mucho antes de la preparación del Informe de la Comisión Mundial sobre el Medio Ambiente y el Desarrollo, más conocido como “Informe Brundtland” (1987) y que es reconocido como un hito fundacional de los movimientos sociales ambientalistas. En los años 50s, 60s y 70s, las sociedades civiles, académicas y organizaciones de trabajadores, tanto de los países industriales como de los periféricos, tomaron conciencia del daño que provocaba la actividad humana en el medio ambiente y, consecuentemente, surgieron protestas contra la contaminación provocada, entre otros, por los ensayos nucleares, los derrames de petróleo y el uso intensivo de pesticidas.

Estos antecedentes muestran el inicio de lo que posteriormente se llamarían “ecologismo”, “ecomodernismo” o “ambientalismo”, entendidos como movimientos sociales proclives a la conservación de la naturaleza y la armónica convivencia con esta a través del anhelado desarrollo sostenible, limitando el crecimiento de la economía y, en última instancia, provocando su “decrecimiento”, en aras de salvar el planeta de lo que se entiende como el proceso que nos llevará al colapso socioambiental, al temido “desastre”. Definamos brevemente las características de estos movimientos y su desarrollo en el constructo social MAP.

El ecomodernismo en la región MAP

El ecomodernismo nos propone un crecimiento sostenible basado en el desarrollo de la tecnología y la innovación. De esta manera se puede – afirma esta postura – separar el desarrollo económico y social del impacto ambiental negativo que produce. El futuro de la humanidad y el planeta dependerá, entonces, del desarrollo de formas más avanzadas de tecnología, entre ellas y de mayor importancia, la energía nuclear.

Sin ser necesariamente ecomodernistas, creemos que es importante para la región MAP buscar una reducción significativa del desperdicio de energía, optimizar su consumo y sentar las bases de un mundo nuevo y sustentable. Para eso es necesario e imperativo conseguir la llamada “neutralidad del carbono” que consiste en emitir la misma cantidad de dióxido de carbono (CO2) a la atmósfera de la que se retira por distintas vías, lo que deja un balance cero, también denominado “huella cero de carbono”, hasta el año 2050. La innovación tecnológica, entonces, desempeñará un papel clave en la lucha contra la crisis climática y el cumplimiento de los objetivos de reducción de carbono. Ante la evidencia de esta realidad, se deben buscar, con urgencia, cambios en la matriz energética en la región MAP.

A continuación, dos ejemplos iniciales en el departamento Pando en este intento tecnológico de superar la crisis climática, sin soslayar las iniciativas que en este mismo sentido se den en Acre y Madre de Dios, regiones hermanas de Pando: A nueve kilómetros de la ciudad de Cobija se construye una planta solar fotovoltaica que funcionará con 17.334 paneles instalados en 11 hectáreas. Tendrá una capacidad de generación de 5,1 megavatios (MW) que proveerán energía eléctrica continua a los municipios de Cobija, Porvenir, Filadelfia, Bella Flor y Puerto Rico.

Además, la planta ahorrará 1,8 millones de dólares al año en la subvención al diésel reduciendo su consumo hasta en 1,9 millones de litros, además de generar energía limpia al reducir la emisión de 5.000 toneladas de gases de efecto invernadero. Del mismo modo, en la comunidad El Sena, también en Pando, se construye otra planta fotovoltaica con una capacidad estimada de 400 kWp, con la característica de que se combinará esta tecnología con la eólica.

Es importante destacar que al financiamiento estatal de la Empresa Nacional de Electricidad (ENDE) para estos proyectos, se suman fondos otorgados por la Cooperación al Desarrollo de Dinamarca (DANIDA), iniciándose, así, en el departamento de Pando, Bolivia, de la región MAP, la transferencia de fondos de los países desarrollados a los que, a veces eufemísticamente, llamamos en vías de desarrollo, como resarcimiento de la deuda ecológica. Este proceso de tecnificación ecomodernista no es una panacea y no será determinante en el futuro que queremos, si no se suma a otros procesos de corte más bien ecologista.

El ecologismo en la región MAP

Para Grau (1985), el ecologismo es un movimiento sociopolítico y cívico que pretende aplicar los conceptos de la ecología al cuidado del medio ambiente. Sin caer en el extremo de confirmar los “derechos” de la naturaleza – más allá de una metáfora movilizadora – estamos seguros de que en la región trinacional MAP los procesos productivos limitados e integrales, al interior de nuestro bosque amazónico, muestran aproximaciones ecologistas importantes como opciones de salida del desastre socioambiental anunciado.

Diversas publicaciones en Pando apuntan a esta opción de desarrollo sostenible con esta perspectiva ecologista. Veamos, sólo como ejemplo, dos de ellas: El libro Sistemas Agroforestales en la Amazonia Boliviana, editado por Vos, Vaca y Cruz (2015), muestra opciones productivas en el marco de la sostenibilidad económica, social, cultural y política, hacia un desarrollo integral y sostenible, Así se demuestra, al parecer de los autores, que los sistemas agroforestales (SAF) forman un elemento importante de la producción campesina comunitaria de la Amazonia.

Estos sistemas productivos diversificados incorporan diferentes tipos de cultivos, de corto, mediano y largo plazo. La finalidad es recuperar áreas degradadas, desmontadas y convertirlas en áreas productivas.

La moringa, el asaí, el majo y el copoazú, son frutos naturales de la Amazonía con un potencial agroforestal importante dadas las claras posibilidades de desarrollo integral y sostenible y su alto valor nutricional. Los autores del libro desarrollan una propuesta de desarrollo regional y de mejoramiento de la calidad de vida de los campesinos comunitarios del norte amazónico de Bolivia. Experiencias semejantes se han conocido en la región de Madre de Dios, Perú y el estado de Acre, Brasil.

En ese mismo sentido van otras investigaciones publicadas en Pando.



¿Una tercera vía? Bioeconomía y economía circular.

Dentro de la discusión de cómo enfrentar el desastroso futuro en nuestra región trinacional MAP, encontramos – a medio camino entre el ecomodernismo y el ecologismo – posiciones que dan cuenta de los enormes progresos de las llamadas “bioeconomía” y “economía circular”. Para Brack (2012), la biotecnología nos ofrece hoy en día envases de bebidas hechos con almidón de maíz, bolsas para los mercados en base a papa, algas marinas para productos cosméticos y alimentos, procesos microbianos para purificar el agua, etc., etc.

Por otro lado, la economía circular tiene como objetivo el reciclaje y la reutilización de productos, reduciendo de manera efectiva el uso de materias primas vírgenes y las presiones ambientales asociadas. Ambas posiciones coinciden en las preocupaciones económicas y ambientales, la investigación y la innovación, y la transición social hacia la sostenibilidad ecomodernista o ecologista. Sin embargo, la bioeconomía no presta mayor atención al ecodiseño, a la gestión de residuos, el reciclaje y el papel de los modelos de negocio innovadores, mientras que la economía circular se ocupa principalmente de la gestión de la biomasa y los biomateriales como una prioridad.

Asumiendo que toda idea o propuesta del mejoramiento sustentable de la región MAP debe ser tomado en consideración, estamos conscientes de que sostener el debate, el diálogo de saberes y la investigación-acción en estos ámbitos del conocimiento y la tecnología, deben, a corto plazo, proveer ideas novedosas a las sociedades MAP como forma de mitigación del desastre que, a todas luces, se avecina.

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