A AMAZÔNIA FALA POR SI

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Em discurso na ONU, presidente Lula volta a colocar bioma como ponto-chave das relações com o mundo

Lula na ONU: redução de 48% do desmatamento desde sua posse no governo (Foto: Ricardo Stuckert/PR)




Fabio Pontes
Dos varadouros de Rio Branco


As ações de preservação da Floresta Amazônica e de enfrentamento aos efeitos das mudanças climáticas estiveram entre os principais pontos do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em seu retorno à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Por tradição, o Brasil é o país a abrir o encontro dos líderes globais, que se iniciou nesta terça-feira, 19, em Nova York. A participação de Lula representa a retomada da política internacional do Palácio do Planalto, após quatro anos de isolamento global liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

Como esperado, a Amazônia esteve presente no discurso do petista. Ao falar sobre a reconstrução da política de proteção do bioma adotada por sua gestão, o que levou a uma redução de 48% nas taxas de desmatamento nos últimos oito meses, o líder brasileiro recebeu o aplauso de seus colegas no plenário da ONU. “O mundo inteiro sempre falou da Amazônia. Agora, a Amazônia está falando por si”, disse ele.

Lula destacou o compromisso assumido entre os países da panamazônia de proteção conjunta da mais importante floresta tropical do globo, firmado em agosto, durante a Cúpula da Amazônia na capital paraense, como um importante passo dos líderes políticos da América do Sul ao enfrentamento às mudanças climáticas.

“Somos 50 milhões de sul-americanos amazônidas, cujo futuro depende da ação decisiva e coordenada dos países que detêm soberania sobre os territórios da região.” O presidente ainda falou que estreita as relações com países da África e da Ásia com importante cobertura de florestas tropicais para ações conjuntas à crise global do clima.

Lula criticou a falta de empenho dos líderes das nações mais ricas do mundo em lidar com a gravidade climática. Citou o possível fracasso do Acordo de Paris, ao afirmar que a promessa de destinar US$ 100 bilhões para ajuda aos países mais pobres “permanece apenas isso, uma longa promessa”.

“Agir contra a mudança do clima implica pensar no amanhã e enfrentar desigualdades históricas. Os países ricos cresceram baseados em um modelo com altas taxas de emissões de gases danosos ao clima. A emergência climática torna urgente uma correção de rumos e a implementação do que já foi acordado. Não é por outra razão que falamos em responsabilidades comuns, mas diferenciadas.”, discursou ele. “São as populações vulneráveis do Sul Global as mais afetadas pelas perdas e danos causados pela mudança do clima.”

Ao vender seu peixe sobre a contribuição brasileira no enfrentamento às mudanças climáticas, Lula fez elogios à matriz energética do país. “No Brasil, já provamos uma vez e vamos provar de novo que um modelo socialmente justo e ambientalmente sustentável é possível. Estamos na vanguarda da transição energética, e nossa matriz já é uma das mais limpas do mundo.”

De acordo com o presidente, “87% da nossa energia elétrica provém de fontes limpas e renováveis”. Porém, boa parte desta “energia limpa” vem de grandes usinas hidrelétricas construídas na Amazônia, como as do rio Madeira e a de Belo Monte, no Xingu. Os efeitos sociais e ambientais destes empreendimentos para a região são perceptíveis até os dias de hoje.



Amazônia global

Desde a campanha eleitoral de 2022, o presidente Lula tem colocado a questão ambiental, principalmente a Amazônia, como uma de suas principais prioridades tanto na política interna, quanto na externa. A Floresta Amazônica, aliás, é a mais importante carta na manga das relações bilaterais do governo. Mais de 60% do bioma amazônico está em território brasileiro.

A preocupação da comunidade internacional com a política de Bolsonaro para o meio ambiente, que levou a Amazônia a níveis recordes de desmatamento e queimadas, é o que gabarita o novo governo a liderar as negociações globais sobre o combate às mudanças climáticas.

Tão logo foi confirmada a vitória de Lula para a Presidência, os principais financiadores do Fundo Amazônia – como Noruega e Alemanha – retomaram o compromisso de financiar as ações de preservação do bioma. Durante o governo Bolsonaro, o fundo ficou paralisado.

Com Lula e a urgência de proteção às florestas tropicais num cenário de agravamento das alterações do clima, outros países acenaram com a possibilidade de fazer doações para o Fundo Amazônia, como Estados Unidos, Reino Unido e Dinamarca.

Em suas sucessivas agendas internacionais, o presidente Lula coloca a Amazônia como um dos focos dos diálogos com os líderes do mundo. Assim foi com o presidente norte-americano, Joe Biden, em encontro na Casa Branca no mês de fevereiro. O mesmo acontece com os líderes europeus. Por sinal, o debate ambiental é um dos pontos a travar o avanço das negociações para o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia.

Ao novamente colocar a região amazônica entre os destaques na abertura da Assembleia da ONU, o líder brasileiro sinaliza à continuidade internacional a importância de preservação das florestas tropicais para o enfrentamento e a mitigação das mudanças climáticas, cujos efeitos já são sensíveis ao redor do globo. Dessa forma, o Brasil não só se reposiciona nas discussões sobre o tema, como coloca a Amazônia no centro das atenções globais.



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