Eleições 2024: os acreanos e a chance de reconciliação com as urnas

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A pouco mais de um ano para a realização das eleições municipais de 2024, o debate sobre os rumos políticos e administrativos de Rio Branco encontra-se bastante intenso. Talvez a ansiedade de uma boa parcela da população rio-branquense de se ver livre da desastrosa gestão de Tião Bocalom (PP) seja um dos motivos para o clima acalorado – e ponha calor neste setembro do nosso verão amazônico. Os movimentos partidários realizados pelo líder das pesquisas de intenção de voto, o ex-prefeito Marcus Alexandre, ao deixar o PT para se filiar ao MDB, também antecipam o debate das eleições do próximo ano.

Não há a menor dúvida de que as eleições municipais de 2024 serão uma das mais importantes da história recente da política acreana, em especial da nossa capital. Isso não só pela urgente necessidade de haver uma mudança nos rumos administrativos da Prefeitura de Rio Branco, mas também será um teste para saber se o reacionarismo “conservador-religioso” de nosso eleitorado prevalecerá – permitindo mais quatro anos de sucateamento, retrocessos e incompetência que se refletem não só na prefeitura, mas também no governo estadual. Não por acaso, as duas esferas estão sob a égide do dito partido Progressistas, que é a cara da velhacaria na política acreana.

Desde 2018, o eleitor e a eleitora do Acre decidiu por uma guinada política à extrema-direita reacionária, representada por Jair Bolsonaro e seus asseclas por estas bandas da Amazônia. O antipetismo reinante, aliado à consolidação das igrejas evangélicas, fez com que a velha direita (responsável por tantos males ao estado no passado) retomasse o poder.

O problema aqui não é uma questão ideológica – de ser de direita ou esquerda. O problema é que além de representar o que há de mais arcaico no contexto político do século 21, o grupo hoje dominante (seja na prefeitura ou no governo) é constituído de uma gente muito incompetente, verdadeiros desastres na administração pública.

Pessoas que nunca estudaram ou se qualificaram sobre o que seja gestão na esfera estatal. O resultado é esse desastre que vivemos todos os dias. Uma cidade com a infraestrutura destruída, um estado em letargia, uma economia que não avança, o recrudescimento da pobreza e das desigualdades, e uma violência sem precedentes. Todos estes fatores, juntos, além de outros, provocam o que passou a se chamar de “diáspora acreana”, como definiu o cientista político Israel Souza, colunista do Varadouro.

Desanimada e desesperançosa com o futuro do estado, uma leva de pessoas estã indo embora do Acre, buscando melhor qualidade de vida e oportunidades noutros estados do país. Algo jamais visto na história recente. E não apenas pessoas de classe média ou alta estão a arrumar as malas. Até as pessoas mais simples, moradoras das periferias, juntam uma graninha e, na primeira chance, zarpam do Acre.

Para agravar a situação, o governo estadual está atolado em denúncias de corrupção. As poucas obras que existiam foram paralisadas por ordens do STJ no inquérito da operação Ptolomeu, da Polícia Federal, que aponta desvios de recursos públicos na ordem de quase R$ 1 bilhão.

Desde 2018, o eleitorado acreano tem feito escolhas equivocadas. Ao invés do cérebro, parece votar com as tripas ante a urna. Como já escrevi aqui, este antipetismo de nada tem servido. Não bastassem os quatro primeiros anos desastrosos de Gladson Cameli (PP), a sociedade decidiu conceder mais um mandato. Como brinde, de quebra, elegeu Bocalom prefeito da capital, em 2020. Tudo para não votar no PT. O eleitorado tem todo o direito de não querer os “comunistas” no poder por um tempo – é do jogo democrático.

Porém, no lugar, não pode colocar pessoas que já se provaram incompetentes para a condução dos rumos políticos, sociais e administrativos do Acre e de nossas cidades. Não podemos mais embarcar em aventuras. Somos um estado pobre, cheio de problemas sérios a enfrentar. Não podemos nos dar ao luxo de eleger pessoas só por causa dos passos de suas dancinhas – na verdade, nós é que estamos dançando.

As eleições de 2024 serão a grande oportunidade do eleitor e da eleitora dizer um basta a essa gente que tanto mal tem feito ao Acre e a Rio Branco. Não se trata apenas de escolher o novo prefeito ou prefeita. Mas será um pleito de reconciliação da sociedade acreana consigo.

De deixar esse ódio birrento de lado e escolher os nossos representantes de forma racional, cidadã. Também é preciso deixar de lado escolhas com base em valores religiosos. “Não voto no Fulano porque pastor disse que é comunista.” Tais discursos só nos aprofundam no abismo em que nos metemos desde 2018.

Foi por causa disso que o Brasil ficou os últimos quatro anos mergulhado no obscurantismo representado por Jair Bolsonaro, que apenas usou a fé cristã para beneficiar a ele e a família no poder.

O voto é algo muito sério, acarreta consequências para todo mundo – e seus efeitos podem ser duradouros. Nem Rio Branco, tampouco o Acre, suportam mais anos de tantos retrocessos. Precisamos andar para frente. O grupo que aí está só nos faz dar passos largos para trás. Em 2024 teremos a oportunidade de dizer, diante das urnas, se queremos continuar andando como caranguejos – ou se preferimos voltar a fazer as pazes com a sensatez, com um futuro melhor para o Acre.


Fabio Pontes – jornalista acreano, nascido e criado pelas curvas do Aquiry
Editor-executivo do Varadouro
fabiopontes@ovaradouro.com.br




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