dos varadouros de Rio Branco
Ocupando as primeiras posições entre as unidades de conservação da Amazônia Legal mais impactadas pelo desmatamento, a Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes ganhou um reforço nas ações de fiscalização. Desde o começo da semana, com o apoio de dois helicópteros, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) realiza a operação trinca-ferro, cujo objetivo é identificar e autuar os responsáveis pelas maiores áreas desmatadas. As regiões de Rio Branco, Capixaba e Xapuri estão no centro das atuações nestes primeiros dias.
Com quase um milhão de hectares, a Resex Chico Mendes ocupa a área de sete municípios entre o Alto e o Baixo Acre – região leste do estado que concentra 70% de toda a área desmatada ao longo das últimas cinco décadas. Próxima ao traçado da BR-317 e conectada a ela por ramais, a unidade de conservação é bastante pressionada pelo avanço da agropecuária. A derrubada da floresta para a abertura de pastos é a principal ameaça para sua preservação.
De acordo com Carla Lessa, chefe de gabinete da presidência do ICMBio em Brasília, e que está em Rio Branco como uma das coordenadoras da operação, a atuação com suporte aéreo e reforço das equipes é uma continuidade, em campo, das ações de fiscalização e controle feitas remotamente, a partir das imagens de satélite. De acordo com ela, essas análises resultaram na emissão de 100 autos de infração por desmatamento nos últimos meses.
“A gente veio aqui para dar ciência dessas infrações [aos autuados]. Então a gente vai a campo notificar o morador, que muitas vezes é o beneficiário, e extrapolou a área de uso dele, ou pode ser um morador não cadastrado, um invasor. Então há diversas situações que vamos identificar em campo”, afirma Carla Lessa.
“Um de nossos focos também é identificar as grandes áreas. Tanto o que aumentou a sua área de uso em um hectare quanto o que aumentou 100 hectares está errado, então a gente foca nos maiores ilícitos para justamente ajudar a reduzir o desmatamento na unidade”, completa ela.
O uso dos helicópteros, de acordo com Lessa, é para facilitar a mobilidade das equipes em campo. Neste período chuvoso, os ramais ficam intrafegáveis ou de difícil acesso. Outras áreas nem possuem conexão terrestre, sendo a via aérea a mais fácil de se mover.
A política da boiada
Com a pouca valorização da economia de base extrativista – com foco na produção de borracha e coleta de castanha – muitos moradores passam a recorrer à criação de gado como uma de suas principais fontes de renda. Nos últimos anos, a produção de café em áreas degradadas passou a ser uma fonte econômica debaixo impacto ambiental.
A entrada de novos moradores a partir da venda de lotes pelos próprios beneficiários da Resex Chico Mendes também influencia no aumento do desmatamento. Sem o perfil de extrativismo (muitos vêm do vizinho estado de Rondônia), estes novos moradores compram áreas para investir na agropecuária.
Com o desmonte da política ambiental promovido pelos governos de Jair Bolsonaro (PL) e Gladson Cameli (PP), a reserva registrou níveis recordes de desmatamento. Segundo o Prodes/Inpe, entre 2019 e 2022 a área derrubada superou os 300 km2. Mesmo com a retomada das fiscalizações nestes dois últimos anos do governo Lula (PT), a UC continua a apresentar altos índices de áreas derrubadas, mas bem menores na comparação com o período anterior.