Mashco Piro flecham membros de organização e funcionários do governo peruano
Ataque aconteceu na tarde de sábado, 26, durante monitoramento no Alto Rio das Pedras, no Departamento de Madre de Dios. Organizações pedem ajuda para que colaborador atingido por flecha seja resgatado. Ambiente na região é de confrontos com a invasão do território Mashco Piro por madeireiros. Entidades pedem fim de concessões madeireiras pelo governo peruano para se evitar genocídio.
Fabio Pontes
dos varadouros de Rio Branco
Como consequência das pressões das atividades madeireiras, integrantes de organizações não-governamentais e funcionários do governo peruano foram atacados a flechas por um grupo de ao menos 100 pessoas do povo indígena isolado Mashco Piro. O ataque, conforme relatos, aconteceu na tarde deste sábado, 26 de outubro. Um dos agentes da Federação Nativa Madre de Dios e Afluentes (Fenamad), Jorge Hernani Alvarado, ficou gravemente ferido ao ser atingido na altura do ombro direito. Ele foi socorrido pelos companheiros e levado para a comunidade Monte Salvado, no Departamento de Madre de Dios. Após pedidos, Jorge foi resgatado e atendido em hospital.
Desde ontem, as organizações indígenas do Peru pedem urgência no envio de um helicóptero para que Jorge Hernani possa receber tratamento adequado numa unidade hospitalar. Além dos agentes da Fenamad, a embarcação atacada tinha entre seus membros funcionários do Ministério da Cultura, que no país vizinho é o responsável por cuidar das questões indígenas.
A embarcação navegava na tarde de sábado, 26, pelo Alto Rio das Pedras, numa região conhecida como Pumayacu, distante quatro da comunidade Monte Salvado, quando houve o “contato” com os Mashco Piro. A equipe de vigilância fazia um trabalho de monitoramento após um grupo de ao menos s 36 Mashco Piro terem sido avistados, em 21 de outubro, numa praia de frente para a comunidade Puero Nuevo.
A equipe subiu o rio das Pedras para saber se os indígenas isolados sofriam algum tipo de perigo, quando foi surpreendida. O ataque foi visto como defesa diante do atual ambiente de confrontos dos Mashco Piro com os madeireiros invasores de suas terras. A equipe de vigilância contava com três funcionários do Ministério da Cultura, dois da Fenamad e um colaborador da organização internacional Jungle Keeper.
Para os especialistas, essa aproximação é resultado da intensificação da exploração madeireira na Amazônia peruana, incluindo territórios destinados para a proteção aos indígenas isolados. Parte desta atividade predatória acontece de forma legal, já que são concessões do governo peruano.
Atividade predatória certificada
No início de setembro, conforme relatos das lideranças locais, ao menos dois madeireiros foram mortos após um ataque dos Mashco Piro dentro de seus territórios. Desde então, o temor vem sendo o de uma possível retaliação e de aumento da violência nesta região da selva peruana, colocando em risco a sobrevivência dos povos isolados. Organizações internacionais pressionam o governo de Lima para que medidas urgentes sejam adotadas para se evitar um genocídio.
Uma das medidas pedidas é que o Peru cancele todas as concessões madeireiras em áreas onde há presença de povos em isolamento voluntário. A fronteira do Brasil com o Peru é uma das regiões do mundo com a maior presença de comunidades nesta situação. Muitas das madeireiras que operam na região contam, inclusive, com certificação de exploração sustentável concedido pela FSC.
Em e-mail enviado às autoridades de Lima, ao qual Varadouro teve acesso, pedindo ajuda médica ao agente da Fenamad atingido, a organização indígena Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana (Aidesep) reitera a necessidade do governo peruano de cancelar as concessões madeireiras que abrangem os territórios dos povos isolados.
“Ressalta-se que esses avistamentos e confrontos com o povo indígena isolado Mashco Piro vêm aumentando e piorando nos últimos anos e meses, devido à invasão massiva do território de sobrevivência do Mashco Piro na expansão aprovada da Reserva Territorial Madre de Dios por madeireiros “legais” e ilegais”, diz a entidade.
Para a Aidesep, a única forma de amenizar o ambiente de violência na região, garantindo a preservação das vidas dos povos em isolamento, madeireiros e lideranças comunitárias locais é com a revogação das concessões “outorgadas pelo Estado no coração do território de vida do Mashco Piro.”
“Enquanto continuarem a existir concessões florestais e atividades madeireiras no território de sobrevivência do Mashco Piro, eles continuarão a se defender e, infelizmente, haverá mais confrontos e mais mortes. Responsabilizamos o Estado peruano por esta grave situação de genocídio”, reitera a organização.
“Exigimos que todas as concessões florestais que se sobrepõem à expansão aprovada da Reserva Territorial Madre de Dios sejam revogadas de uma vez por todas, deixando o território do Mashco Piro livre de atividades extrativistas, a fim de deter o genocídio desta população altamente vulnerável e evitar mais violência, confrontos e mortes de pessoas inocentes.”
Por onde andam os Mashco Piro
Além do lado peruano da Amazônia, os Mashco Piro também ocupam áreas no Brasil, nas Terras Indígenas Mamoadate e Kampa e Isolados do Rio Envira, no Acre. Há também a referência de um grupo em uma área desprotegida, fora de terras indígenas.
Em julho, a Rádio Varadouro entrevistou o sertanista José Meirelles, especialista nos estudos sobre os povos isolados. Segundo ele, há relatos da presença e passagem dos Mashco Piro pelas cabeceiras dos rios Acre e iaco – uma região bastante pressionada pela atuação das madeireiras, do narcotráfico e de projetos de infraestrutura.