Abuso no uso da máquina e conservadorismo explicam resultado das eleições no Acre

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O resultado que saiu das urnas na votação para a escolha de prefeitos e vereadores nos 22 municípios acreanos revela o gravíssimo uso e abuso da estrutura da máquina pública em benefício dos candidatos oficiais do poder. Uso e abuso que promovem a corrupção eleitoral com a compra de votos e o assédio eleitoral a servidores públicos comissionados e terceirizados, obrigados a votar nos candidatos dos mandatários de plantão. Se assim não for, perdem seus empregos – vão para o olho da amargura, num estado onde o governo é a maior força econômica-empregadora. É o chamado voto de cabresto, agora em suas novas roupagens na política acreana do século 21.

Não que esta seja uma prática inédita, criada pelos Progressistas – o partido do governador Gladson Cameli, que saiu como a maior força político-eleitoral do estado. E este triunfo não se dá apenas pelo carisma/popularidade do governante, como seus bajuladores costumam falar. Ele se deu, sobretudo, pelo flagrante abuso imoral e ilegal da estrutura das máquinas municipais estaduais. Em um estado pobre como o Acre, tais táticas são vitais para consolidar no poder as nossas velhas oligarquias políticas.

Como dito, o voto de cabresto a partir da máquina não é uma invenção do PP. O Partido dos Trabalhadores também fez muito bem seu uso enquanto esteve no poder por 20 anos. O próprio Marcus Alexandre, em 2012, que ocupava as últimas posições na pesquisa para prefeito, foi eleito com o mesmo uso e abuso das máquinas da prefeitura e do governo, derrotando … Tião Bocalom O ex-petista, talvez, tenha provado do próprio veneno. Coisas da vida!

Aliás, o próprio Gladson Cameli se beneficiou deste sistema enquanto foi um fiel aliado dos petistas por 10 anos. Sua primeira eleição para deputado federal, em 2006, deu-se nos seios da Frente Popular do Acre – a extinta FPA.

É verdade que ele não precisava tanto assim desta estrutura. Afinal de contas, a família Cameli, no Vale do Juruá, usa de seus próprios sistemas (a grande influência econômica que exerce na região) para sustentar sua força política e econômica.. Agora na cadeira de governador, ele faz prevalecer ainda mais esta tática do voto de cabresto.

Repetindo: tal prática não é uma criação do PP nem do (des) governo Cameli. Eles apenas a aperfeiçoaram. Usar e abusar da máquina pública era essencial para a sobrevivência político-eleitoral do PP/PL e, consequentemente, de Gladson Cameli. O governador precisa se agarrar desesperadamente ao poder para garantir a sua imunidade judicial.

Ele responde a inúmeros processos no Superior Tribunal de Justiça (STJ) por graves crimes de corrupção. Foi denunciado pela Procuradoria da República como o chefe de uma organização criminosa responsável por desviar quase R$ 1 bilhão. Denúncia acolhida pela maioria da Corte.

Com toda essa força conquistada nas urnas domingo, Gladson assegura uma nova eleição para o Senado em 2026 – e a garantia de uma imunidade parlamentar, levando com ele seus processos por corrupção para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Usar e abusar da máquina pública, coagir servidores públicos, fornecedores do estado e outros era crucial para garantir a vitória de um candidato tão pesado quanto Tião Bocalom (PL), aquele que já entrou para a história como um dos piores prefeitos de Rio Branco. Isso por si só não explica a reeleição de Bocalom, mas é o fator principal. Até os 45 minutos do segundo tempo, as pesquisas sérias apontavam Marcus Alexandre (MDB) como o líder. O cenário era apertado, com chances de um segundo turno.

Mas o trator governista entrou com força na disputa e reverteu tudo. Nos bastidores, em grupos de Whatsapp, muitas denúncias e queixas de assédio eleitoral. Trabalhadores sendo coagidos a votar em Bocalom – ou nos candidatos apoiados por Gladson nos interiores do estado. No final de semana, mensagens de grupos do aplicativo davam conta da escancarada compra de voto e derrame de dinheiro pelas periferias da cidade. Não só por candidatos majoritários, como também por vereadores.

E foi assim que, com a força do poder político e do dinheiro, o Palácio Rio Branco conseguiu reverter o placar a seu favor. Um dos casos mais gritantes foi em Cruzeiro do Sul, onde a candidata Jéssica Sales (MDB) sempre apareceu na liderança das pesquisas, mas foi derrotada por uma margem apertadíssima de votos. Assim como em Brasileia, com a derrota de Leila Galvão (MDB).

A nossa democracia, a vontade popular, foi gravemente corrompida nesta eleição municipal – aquela eleição mais próxima da população. O voto foi intensamente negociado e comercializado. Que democracia é essa? A de sempre sustentar o coronelismo? Aquela que se aproveita da vulnerabilidade social e econômica de boa parte da sociedade para enriquecer ainda mais as oligarquias?

Gladson, Bocalom e Márcio Bittar: uso e abuso da máquina, mais forte apelo ao antipetismo, podem explicar reeleição de um dos piores prefeitos da capital (Foto: Assessoria)



Dizem que o uso da máquina pública é do jogo político. Acontece em todo o país. Até pode ser. Mas quando ultrapassa todos os limites do “aceitável” (se é que é aceitável), isso não pode ser considerado “normal”. E foi assim que aconteceu nas eleições municipais de 2024 do Acre. Em uma sociedade que hoje tanto flerta com o tal conservadorismo e moralismo da extrema-direita (bolsonarismo), a corrupção e malversação com a coisa pública nunca esteiveram tão legitimadas.

E é este bolsonarismo reinante na sociedade acreana que explica a vitória de Tião Bocalom. Sem nada a mostrar ao eleitorado em sua propaganda eleitoral, por ter tido uma gestão omissa ao longo de três anos, Bocalom se agarrou fortemente à retórica do antipetismo. Passou a campanha inteira vestindo uma blusa da Seleção brasileira (patrimônio da extrema-direita) e dizendo que ia derrotar o PT – mesmo seu adversário do MDB. O passado petista de Marcus Alexandre foi um prato cheio.

Finalizando: o resultado das Eleições 2024 no Acre mostram que, para você ser bem-sucedido nas urnas, não é preciso ter um currículo invejável, mostrar seus feitos enquanto gestor público, apresentar-se como um excelente administrador. Basta apenas se vestir de amarelo, fazer umas papagaiadas, dizer que vai combater o comunismo, fazer umas dancinhas patéticas e por aí vai.

É a máxima do faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço!

Que tempos são estes, meu Acre?

Já tivemos dias bem melhores. Vamos torcer para que eles regressem….




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