UMA CAPITAL SEM ÁGUA

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Porto Velho distribui até 1 milhão de litros em caminhões-pipa e segue perfurando poços

Trinta milhões de litros só em agosto, média que possivelmente se manteve durante setembro: o retrato da crise hídrica que colocou o caminhão-pipa de novo nas ruas (Foto Raiane Gomes)



Nível crítico do rio Madeira – que permanece abaixo do um metro – compromete o serviço de captação e distribuição de água potável para a Capital de Rondônia, com seus 514 mil moradores. Poços e distribuição de água em caminhões-pipa minimizam os impactos. Esta é uma das secas mais severas enfrentadas por Porto Velho ao longo das décadas.



Montezuma Cruz
Dos varadouros de Porto Velho

Quase um milhão de litros de água por dia totalizando 30 milhões de litros apenas em agosto. Este foi o volume de atendimento diurno e noturno dos caminhões-pipa na mais longa estiagem ao longo da década enfrentada por Porto Velho. A Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia (CAERD) fez esse anúncio nesta segunda-feira (30). Já o governo estadual informou ter contratado os serviços de dois aviões apaga-fogo, mas eles vêm praticamente quando os incêndios perdem a intensidade, com a chegada das primeiras chuvas.

Voltou a chover no estado na sexta-feira (28), no sábado e nesta segunda-feira, aliviando a situação que já causara calamidade pública. Incêndios criminosos destruíram diversas áreas de floresta, entre as quais, o Parque Estadual de Guajará-Mirim, que perdeu mais de 60% de sua vegetação.

A Coordenadoria Estratégica de Operações Norte da Caerd informou que acompanha “de perto” o nível do Rio Madeira, atualmente inferior a 40 cm, o mais baixo em 50 anos. “A situação tornou-se especialmente desafiadora devido aos fenômenos El Niño e La Niña, que anteciparam e intensificaram a estiagem; enfrentamos um desafio sem precedentes”, comentou o diretor técnico e operacional da CAERD, Lauro Fernandes. Ele apelou: “É muito importante que todos compreendam a seriedade do momento”

No final da semana passada o governo disse ter assinado contrato para locação de dois aviões Air Tractor, cada qual com capacidade de 2 mil litros de água e suporte de quatro lançamentos por hora em uma distância de até 80 quilômetros. No entanto, a transparência governamental não revela o custo dos serviços desses aviões.

Avião Al Tractor opera até quatro vezes ao dia (Foto CBMRO)

Agora?

Diz a informação oficial: “As novas aeronaves serão fundamentais no combate efetivo às chamas que têm assolado diversas regiões do estado.”

O Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Rondônia e a Secretaria de Desenvolvimento Ambiental (Sedam) se comprometeram a identificar as áreas mais afetadas pelos focos de incêndio e apresentar técnicas de evacuação e terreno operacional (teto).

“A partir dessa análise, os voos de combate aos incêndios florestais serão iniciados imediatamente”, informa o governo sem explicar a utilidade desses aviões caso volte a chover regularmente.

Em 2018, aviões modelo C-130 Hércules da Força Aérea Brasileira jogaram água sobre os incêndios em Rondônia, utilizando o volume de cinco tanques e dois tubos que se projetam pela porta traseira do avião. Cada avião desse pode carregar até 12 mil litros de água.

Naquele ano, os bombeiros concentraram sua ação principalmente nos municípios de Porto Velho, Buritis, Candeias do Jamari, Cujubim, Nova Mamoré, e Machadinho d’Oeste.

De acordo com dados do Programa BD Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Rondônia teve até o fim de setembro 9.344 focos de queimadas. Entre os nove estados da Amazônia Legal, ocupa a quinta posição. Entre os municípios, a Capital Porto Velho está em primeiro lugar, com 2.940 focos. Depois vêm Candeias do Jamari (1.175), Nova Mamoré (1003), Cujubim (656) e Vilhena (540).

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Vazão reduzida em 50%

Na Capital, a CAERD constatou redução significativa na quantidade de água extraída dos poços. A estiagem atingiu poços oficiais e particulares. Desta maneira, conforme o diretor técnico Lauro Fernandes, escolas, postos e centros de saúde, hospitais e órgãos públicos foram prioridade.

Na zona Sul de Porto Velho, o Sistema Cohab – que abastece os bairros Cohab I, II e III, Floresta, Loteamento Cohab e parte do Eldorado – opera com oito poços cuja vazão foi reduzida em até 50%. A CAERD teve que distribuir água alternadamente, entre áreas altas e baixas da região. Nos Residenciais Ipê, Araguaia e Moradas do Sul, o abastecimento em dois poços teve que ser ajustado com suporte adicional de caminhões-pipa para completar as cisternas.

Enquanto isso, moradores dos bairros Chagas Neto I e II, Colina Park e parte do Nova Floresta dependem de um poço com vazão reduzida, o que permite pressurização da rede apenas durante a noite. As primeiras chuvas foram insuficientes para normalizar a situação.

Nos bairros Odacir Soares I, II e III e parte do Nova Floresta, cinco poços estão em operação, porém, com vazão reduzida à metade, o que prolonga o tempo de recuperação das cisternas. O abastecimento no Bairro Cidade do Lobo é feito por dois poços, que também apresentam vazão reduzida e garantem pressurização apenas à noite.

No Conjunto Mamoré, o sistema opera com dois poços com baixa vazão. No Residencial Morar Melhor, dos 16 poços existentes, oito estão inoperantes e os demais operam com baixa vazão. A Companhia oferece suporte contínuo com caminhões-pipa para assegurar o abastecimento.

Com seca extrema, rio Madeira continua em nível crítico de vazante, abaixo dos 40 cm (Foto: Ascom Prefeitura Porto Velho)


Na zona Leste, o sistema de abastecimento opera 24 horas por dia, embora também enfrente desafios: os bairros Ulisses Guimarães, Marcos Freire, Conjunto Jamary e Três Marias são atendidos por três poços tubulares profundos.

O Sistema Pantanal, com 11 poços em operação, abastece os bairros Teixeirão, Esperança da Comunidade, Conjunto Buritis, Escola de Polícia, Pantanal, Conjunto Aquarius, Nova Esperança, Aponiã, Igarapé e parte do Cuniã. O fornecimento de água ocorre duas vezes ao dia em horários alternados, com um intervalo de cinco horas. Nos próximos dias, mais três poços deverão ser ativados. Com a interligação desses poços, o intervalo de abastecimento diminui para três horas.

No Bairro Ronaldo Aragão, Residencial Cidade de Todos, conjuntos Habitar Brasil e Ouro Preto, cada localidade conta com um poço para o abastecimento de água. Recentemente, um novo poço foi ativado no Bairro Três Marias, e a interligação ao sistema de distribuição está programada para ocorrer ainda esta semana. Já os moradores dos bairros Cuniã, Residenciais Porto Belo e Sevilha são atendidos por dois poços e estão operando normalmente.

Mais poços perfurados

O Conjunto Guajará conta com um poço, enquanto o Residencial Cristal da Calama tem cinco poços. No entanto, no Cristal da Calama, os poços secaram devido à crise hídrica. Ali houve limpeza e perfuração de três novos poços.

As famílias do Residencial Orgulho do Madeira (mais de 12 mil habitantes) são abastecidas por sete poços tubulares profundos operando na totalidade. Vazamentos internos e desperdício tem ocasionado o desabastecimento.

No Bairro Novo, o sistema de distribuição conta com quatro poços para atender a comunidade. No Residencial Margarida, a situação foi normalizada após a interligação com o sistema do Sevilha. A água voltou.

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