Em julho de 2002, ao publicar uma extensa reportagem no jornal A Gazeta, de Rio Branco, alertei sobre um futuro aterrador para o rio Acre. Minha voz, ecoando os estudos de especialistas, soava um aviso que poucos estavam dispostos a ouvir: o rio que dá nome ao nosso estado poderia desaparecer em 15 anos. A projeção era baseada em pesquisas criteriosas, em dados concretos que apontavam para um destino que, infelizmente, parece cada vez mais próximo de se concretizar.
Os estudos da Universidade Federal do Acre (Ufac) nas décadas de 1980 e 1990 já revelavam previsões sombrias para a única vertente de água que abastece a capital, Rio Branco, e tantos outros municípios acreanos. Eram previsões que, por algum motivo, não receberam a atenção devida.
As análises indicavam que a degradação do rio Acre não era uma possibilidade distante, mas uma realidade iminente, acelerada pela inação dos governos locais e pela falta de um programa sério de despoluição e conservação das bacias hidrográficas.
Entre os especialistas que mais soaram o alarme, o professor e ambientalista Claudemir Mesquita foi uma das vozes mais claras e incisivas. Ele nunca escondeu a gravidade da situação: a desertificação da Amazônia, uma realidade que muitos preferem ignorar, estava, e ainda está, à nossa porta. No Acre, o quadro é cada vez mais desolador. O rio Acre, a veia pulsante que nutre nossa terra e nossa gente, está se transformando em um fio d’água que, a cada ano, vai se afunilando ainda mais.
É desolador constatar que, apesar dos alertas, a situação só piora. Políticos que deveriam proteger nosso patrimônio natural se mostram desinteressados, sem a menor preocupação com o meio ambiente ou com a vida que dele depende. É como se o destino do rio Acre fosse uma questão secundária, um problema que pode ser deixado para depois, enquanto o desmatamento avança e a poluição toma conta das águas. A falta de políticas públicas eficazes de conservação das bacias hidrográficas é uma prova cabal da negligência que permeia as decisões governamentais.
Nesta semana, ao medir menos de um metro em suas partes mais altas, o rio Acre dá mais um sinal claro de que estamos à beira do precipício. O que antes era uma projeção assustadora está se tornando uma realidade palpável. Se essa fonte de vida secar, os acreanos enfrentarão problemas incalculáveis. Sem água, não há agricultura, não há vida nas cidades, não há futuro para nossas crianças.
Ainda há tempo para reverter essa situação, mas a janela de oportunidade está se fechando rapidamente. Precisamos de ações imediatas, de um comprometimento real com a preservação do meio ambiente. Não é mais possível fechar os olhos para o que está acontecendo. As projeções que fizemos há mais de 20 anos estão se confirmando diante de nós, e a inércia só acelera o caminho para o desastre.
O rio Acre pode ser salvo, mas para isso é necessário que todos, desde os governantes até os cidadãos comuns, assumam suas responsabilidades. A água é um recurso vital, e perdê-la significará o colapso de toda uma sociedade. Se continuarmos no caminho em que estamos, daqui a alguns anos não haverá rio, não haverá florestas, e o Acre que conhecemos hoje será apenas uma lembrança desolada de um passado que não soubemos proteger. O tempo está passando, e a decisão de agir ou não está em nossas mãos.
Pitter Lucena é jornalista e escritor acreano nascido nos varadouros de Xapuri
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