Cadê o rio que estava aqui?

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Rio Acre: um manancial que agoniza (Foto: Joely Coelho Santiago)




Por Joely Coelho Santiago*
dos varadouros de Rio Branco

Turvas. Águas. Cadê o Rio que estava aqui?
Tracajás. Biguás. Peixes. Pescador com anzol. Do farol. Do sol. Bichos. Lama. Das águas beijando Astro Rei. Mulheres quarando lençóis. Crianças nadando nas águas. Cadê o Rio que estava aqui?

(Des)encontro com botos. Barcos e barqueiros. Seringueiras e Seringueiros. Pélas de borracha. Cenário novo?! Modernidade?! Reviram o fundo das águas. Esquartejam peixes. Bichos na água. Contaminação. Poluição das águas. Pescador sem pesca. Cadê o Rio que estava aqui?

Homens e Mulheres. Crianças e Adultos. Soldados da Borracha. Vistas-baixas. Crianças no barranco. Jacaré. Sucuri. Cobra Branca. Rastros de gente. Rastros de animais. Antes, deles. Passado-Presente, amontado. Amontoados em vielas, becos, periferias. Progresso?! Regresso?! Cadê o Rio que estava aqui?

Rastros. Rachaduras. Secura de um lado. Alagação de outro. Falta água. Sobra esgoto. Sobra calor. Sobra fumaça. Falta empatia. Sobra ganância. Vazio do anzol. Sem comida. Tempo fechado. Tempo abafado. Cadê o Rio que estava aqui?

Nenhum banho de Rio. Nenhuma lavadeira. Gotas secas. Terra esfarelada. Ressecada. Craquelada. Sol acinzentado espia no alto. Rasga o céu. Amolece o asfalto. Cadê o Rio que estava aqui? Tão logo, o Rio buscará saída. Inverno amazônico não tarda chegar.

Desviará pedras. Lama. Lixo. Gentes e Bichos. É fumaça. É Sol fadigado. Fumaça. Fuligem. Queimadas. Hospitais sem leito. Gentes com dores no peito. Tosse seca. Garganta inflamada. Natureza não esquece. Rio não tarda. Rio-Vivo chora resistente! Cadê… o Rio que… estava aqui?”


ALBUQUERQUE, Gerson Rodrigues. Amazonialismo. In.: Uwakürü: dicionário analítico / Organizado por: Gerson Rodrigues de Albuquerque, Agenor Sarraf Pacheco. – Rio Branco: Nepan Editora, 2016.

BENCHIMOL, Samuel. Amazônia: formação social e cultural. Manaus: Editora Valer / Editora da Universidade do Amazonas, 1999.

TOCANTINS, Leandro. O rio comanda a vida: uma interpretação da Amazônia. Manaus: Valler; Governo do Estado do Amazonas, 2000.


*Joely Coelho Santiago

Quilombola de Pedras Negras, no Vale do Guaporé-RO. Doutoranda em Letras: Linguagem e Identidade (PPGLI/Ufac). Mestrado em História e Estudos Culturais (Unir, 2019). Licenciatura em Letras e suas respectivas Literaturas (Unir, 2016). Licenciatura em História (Centro Universitário Faveni, 2022). Pesquisadora no Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Universidade Federal do Acre (Neabi/Ufac) e no Grupo de Estudos e Pesquisas Culturalidades e Historicidades Africanas e da Diáspora Negra (Chade). Integrante no Projeto de Extensão “Samaúma Vivificante: o bem o bem viver e a educação feminina de(s)colonial”.

E-mail: joely.santiago@sou.ufac.br

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