Madeireiras do Acre são alvo de investigações ambientais e policiais
Na campanha de 2022, o agora governador reeleito, Gladson Cameli, prometeu vida mole aos madeireiros ao prometer desburocratizar regras; com a política do “Ibama voltou”, o rigor da lei e das fiscalizações é retomado
Fabio Pontes
Dos Varadouro de |Rio Branco
ERA FINAL de agosto do ano passado. Naqueles dias tórridos de nosso verão amazônico, a capital Rio Branco era tomada pela fumaça das queimadas, e a poluição do ar invadia nossos pulmões. Estava insuportável respirar. Reunido com os madeireiros num restaurante da cidade, o então governador candidato à reeleição, Gladson Cameli (PP), fazia uma promessa a eles: se reeleito fosse, iria desburocratizar (ainda mais) as regras ambientais para a atividade madeireira do Acre. Mesmo com uma penca de denúncias de corrupção apontadas pela Polícia Federal, no inquérito da operação Ptolomeu, além de um rastro de destruição ambiental, Cameli ganhou – com folga – mais quatro anos de mandato.
Não sabemos se deu tempo de ele colocar em prática a promessa aos madeireiros. Em março, a PF voltou às ruas de Rio Branco para a terceira fase da Ptolomeu. Bloqueou bens do governador, e confiscou seu passaporte para não ter risco de fugas. Ficou politicamente fragilizado. Em abril, foi a vez de o Ibama entrar em ação, dando as caras pelos pátios das madeireiras de Rio Branco e do interior. Era a operação Metaverso, deflagrada em toda a Amazônia Legal, e que no Acre selecionou 17 madeireiras para passar por um pente-fino.
O objetivo do Ibama era saber se madeireiras da região estavam fazendo mutretas com o sistema DOF (o SiS-DOF). O Documento de Origem Florestal é o que assegura a procedência legal da madeira comercializada. Se um caminhão torero for abordado e estiver sem DOF, a carga é apreendida. A primeira medida adotada pelo Ibama foi bloquear o acesso das madeireiras investigadas ao SIS-DOF. Assim, elas estavam impedidas de fazer qualquer movimentação; seja de entrada ou de saída de madeira dos pátios.
O acesso só voltaria a ser liberado após toda a papelada que deveriam entregar fosse analisada e aprovada, além de passarem por vistorias nos pátios. No Acre, todas as 17 empresas alvo da Metaverso foram “aprovadas” pela fiscalização do Ibama, e tiveram suas senhas ao SIS-DOF desbloqueadas. E, dessa forma, voltaram a enviar toda a madeirada extraída de nossa floresta para o mercado internacional – faturando em dólar.
A medida, lógico, foi um susto para o setor. Nos bastidores, falava-se que a operação era uma retaliação do governo Lula ao setor madeireiro – mais tradicionalmente ligado a Jair Bolsonaro e sua política de vista-grossa à fiscalização ambiental. O Ibama negou razões políticas para a operação. Disse que ela era planejada desde 2022.
Após quatro anos de inépcia dos órgãos fiscalizadores, a política do governo Lula de o “Ibama voltou” desagradou a muita gente pela Amazônia. O fato é que, além do Ibama, a Polícia Federal também passou a atuar mais firmemente nas suspeitas de crimes ambientais, colocando o setor madeireiro entre seus principais alvos.
Na sexta-feira, 14, a PF no Acre deflagrou a Operação Timber Trading, que investiga madeireiras de Feijó e Tarauacá. Segundo a polícia, a investigação gira em torno de crimes ambientais e lavagem de dinheiro cometidos pelas empresas e seus sócios. Essas madeireiras, diz a Polícia Federal, atuam na clandestinidade, operando sem as devidas licenças ambientais e demais documentos necessários à exploração e manejo da flora.
A PF ainda cumpriu mandados de busca e apreensão na residência dos sócios proprietários em Mato Grosso, Rio de Janeiro e Rondônia. Ao todo foram cumpridos sete mandados (dois em Tarauacá, dois em Feijó, um em Cuiabá, um em Angra dos Reis e um em Ji-Paraná). Os investigados poderão responder pelos crimes de venda, depósito e transporte de madeira sem autorização da autoridade competente.
Ao que tudo indica, a promessa do governador Gladson Cameli de desburocratizar para os madeireiros esbarra na reestruturação da política ambiental brasileira promovida a partir de Brasília. A atividade madeireira causa grandes impactos ambientais – mesmo com o chamado manejo madeireiro sustentável. Não se questiona a importância do segmento para a economia acreana. Hoje a madeira é o principal produto exportado pelo Acre. Em 2022, faturou 17,5 milhões de dólares em vendas para o exterior.
Todavia, quanto maior a fiscalização, mais garantias de que a madeira exportada pelo Acre tem procedência legal, não é fruto de desmatamento ilegal, de áreas griladas ou roubadas de terras indígenas ou unidades de conservação. Isso agrega valor ao produto final. Ao contrário de desburocratizar, como defendeu Gladson Cameli, é preciso fiscalizar.
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