O Grito de Chico Mendes em relançamento

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Nilo Diniz*

Os desafios socioambientais atuais na Amazônia e no Brasil podem e estão sendo enfrentados buscando ainda referência e inspiração na luta dos extrativistas e dos povos indígenas, bem como no legado de Chico Mendes, líder dos seringueiros e da Aliança dos Povos da Floresta. É com base nessa premissa que alguns amigos recomendaram o relançamento do meu livro “Chico Mendes, um grito no ouvido do mundo”, em Brasília, no próximo dia 18 de abril, logo antes do Dia (19) dos Povos indígenas e às vésperas do Acampamento Terra Livre, contra o Marco Temporal e pela demarcação de terras indígenas.

Foi preciso o sacrifício deste sindicalista e militante da florestania, em 1988, para que, anos mais tarde, as políticas públicas no país passassem a agregar à noção de desenvolvimento valores como democracia, sustentabilidade ambiental, distribuição de renda e justiça social. Mesmo assim persiste e, no período do governo anterior prevaleceu, a ideia do crescimento econômico a qualquer custo, ou seja, às custas de violência social, degradação ambiental, restrição de direitos, ameaça à democracia e aumento das desigualdades.

Este período deixou de herança política uma maioria parlamentar no Congresso reacionária, que aprovou o instituto do Marco Temporal, contra decisão do Supremo Tribunal Federal. Isso quer dizer uma afronta aos direitos originários dos povos indígenas às suas terras, ao mesmo tempo em que ataca uma das principais estratégias de enfrentamento das mudanças climáticas, que é a conservação das florestas, “passando a boiada” em favor da conversão destas em pastos para criação de gado em larga escala.

Esta mesma lógica política – a longo prazo, autodestrutiva! – alimenta e se fortalece com o garimpo ilegal causador do desastre social e ambiental na área dos Yanomâmi, bem como na contaminação por mercúrio de grandes rios da Bacia Amazônica, comprometendo ainda mais a qualidade de vida e de produção das comunidades ribeirinhas.

Apesar disso, o atual governo federal, com maior trânsito e articulação internacional, tendo à frente companheiros de Chico, como o presidente Lula e, especialmente, a seringueira e ex-senadora Marina Silva, como ministra do Meio Ambiente, tem conseguido baixar os altos índices de desmatamento na Amazônia, num contexto de afirmação democrática e de enfretamento do que se convencionou chamar de “capitalismo selvagem”.

O que assistimos, portanto, no âmbito das instituições políticas em Brasília e, na verdade, em todo o país, é a conflagração de uma batalha entre, pelo menos, dois projetos de país, que já estavam presentes nos anos de 1980, durante a resistência da Aliança dos Povos da Floresta.

Naquela ocasião, um novo projeto para a Amazônia emergia da luta das populações locais contra aquela forma de ocupação injusta e desordenada, plantando algumas das sementes dessa nova concepção de sustentabilidade econômica, ambiental e social, principalmente com a figura das Reservas Extrativistas.

Este livro que resulta de pesquisa sobre a cobertura da imprensa, e também junto a companheiros de Chico Mendes, descreve a estratégia dos empates contra a invasão de seringais no Acre e na região, nos anos de 1970 e 1980, e revela a repercussão mundial do assassinato do líder sindical acreano.

Durante os empates homens, mulheres e crianças ocupavam e defendiam, com suas próprias vidas, áreas a serem derrubadas, sob a organização de sindicatos de trabalhadores rurais, a exemplo daquele presidido por Chico, em Xapuri, e o de Brasileia, por Wilson Pinheiro, assassinado em 21 de julho de 1980.

A cobertura oferecida pela imprensa local, nacional e internacional é tratada neste livro, com destaque para a invisibilidade da luta de Chico e dos seringueiros no país, algo que favoreceu o trágico desfecho.

Em sentido contrário, Varadouro também é personagem em um dos capítulos, porque além de informar fez parte daquela construção histórica, revelando e denunciando o que acontecia nas florestas, com as derrubadas nos seringais, a ameaça à sobrevivência das populações locais, as correrias contra os grupos indígenas e outras investidas promovidas pela ditadura no Acre e na Amazônia.

Durante o relançamento desta obra, neste mês, na Livraria Sebinho, queremos aproveitar para refletir, em roda de conversa, sobre os desafios da atual conjuntura socioambiental e a função dos movimentos sociais.

*Nilo Sérgio M. Diniz é sociólogo com mestrado em jornalismo

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