AGRICULTURA AMEAÇADA

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No Vale do Juruá, seca severa e praga do mandarová comprometem a produção de farinha

Em sua casa de farinha, agricultor de Cruzeiro do Sul faz o preparo da iguaria típica da Amazônia. Além do valor gastronômico, a farinha da macaxeira é fonte essencial de renda na região (Fotografia: Gleilson Miranda/Secom/AC)


Taís Nascimento
Colaboração para Varadouro


O mandarová, uma lagarta que come as folhas da árvore da macaxeira, é uma praga sazonal de ocorrência natural. Mas em 2023, profissionais da agricultura testemunham um fenômeno atípico, que coloca em risco a produção da farinha – produto responsável por grande parte da renda dos produtores rurais de Cruzeiro do Sul, no Acre, e conhecida mundialmente por seu sabor único. A agrônoma Charniele Freitas acompanha de perto e diariamente a cultura dos produtores, e relata as consequências da seca e seus efeitos para a proliferação do Mandarová na região.

“Provavelmente essas condições [alta temperatura e falta de chuvas] vêm favorecendo a multiplicação dos ovos da lagarta. Comumente a praga se apresenta na transição do verão para o inverno, mas com as mudanças climáticas isso não é mais constatado, de modo que ela pode ocorrer em qualquer época do ano”, explica ela.

A alta das temperaturas afeta a normalidade dos produtores, ocasionando perda de plantas pela insolação e de animais. Ainda, as janelas de plantio, que normalmente se dão no início das águas – chuvas e cheias -, vai acontecer mais tarde, visto a quentura e a pouca disponibilidade de água.

A agrônoma Charniele Freitas (Foto: Cedida)

Tais condições são propícias para que os produtores enfrentem dificuldades quanto a produção da farinha e outros produtos artesanais derivados da macaxeira. “A lagarta consome a folha, em alguns casos a desfolha é severa. Dependendo da idade da planta, até os cinco meses, a maioria dos ataques são severos, e a planta não rebrota e, principalmente, se a lagarta comer a ‘folha do olho’ causa a mortalidade da planta”, destaca a agrônoma.

Ainda segundo Charniele, “em plantas mais velhas reduz a produção de seiva, retardando o crescimento que compromete a raiz, que é a parte da planta rica em amido para o principal subproduto, que é a farinha de mandioca”.

Dessa maneira, o produtor fica sem a principal fonte de renda da família, que é a farinha, pois o Mandarová está se espalhando rápido demais, sendo seu feroz para as áreas cultivadas de macaxeira em toda a região do Vale do Juruá. .

“Para os produtores que têm uma segunda cultura como fonte de renda, ainda consegue-se tirar algum retorno financeiro dela, mas para aqueles que cultivam somente a macaxeira, a situação econômica deles fica bem comprometida porque é algo muito rápido, o ataque é rápido e severo”, pontua Charniele.

A agrônoma fala ainda sobre a importância de monitorar com frequência os roçados onde se planta a macaxeira. “Observar se tem ovos das lagartas nas folhas, que é um dos primeiros sinais de que terá um ataque em breve, e com isso se planejar para combater o mais rápido possível, antes que comprometa todo o roçado”, sugere a especialista.

Em 18 de outubro, a Prefeitura de Cruzeiro do Sul decretou situação de emergência na agricultura do município por conta da praga do Mandarová. A estimativa é a de que neste ano haja redução de 50% na produtividade, trazendo prejuízos à agricultura familiar, queda na arrecadação do município, e aumento no valor da cesta básica, já que a farinha é um elemento indispensável na alimentação popular. A produção de farinha e derivados da macaxeira é responsável por 42% de toda a riqueza produzida (PIB) por Cruzeiro do Sul.

Made in CZS: a farinha é o principal produto de exportação do Juruá; cadeia produtiva da macaxeira responde por 42% do PIB de Cruzeiro do Sul (Foto: Gleilson Miranda/Secom/AC)


Reações do Estado

No último dia 17, especialistas estiveram reunidos na Prefeitura de Cruzeiro do Sul,´[ para discutir estratégias de enfrentamento e controle da praga do mandarová. Estiveram presentes representantes da Universidade Federal do Acre (Ufac), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), do Instituto Federal do Acre (Ifac), do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) e da Secretaria de Agricultura (Seagri).

“Essa é uma praga que é de conhecimento técnico. Sindicatos e cooperativas dentro das comunidades devem dispor de equipamentos e produtos químicos para conter a praga nas comunidades”, destacou Marcos Pereira, gestor da Seagri em Cruzeiro do Sul.

O Idaf determinou uma medida emergencial para ajudar os produtores a comprar produtos para o combate da praga. Além disso, será realizado um trabalho de educação sanitária, cujo objetivo é capacitar técnicos e produtores para o correto manejo e combate da praga.








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