A ESCALA DA CONTAMINAÇÃO

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Mercúrio acima do recomendado é encontrado em peixes do Acre e de Rondônia

Balsas para exploração ilegal de ouro no rio Madeira, em Porto Velho (Bruno Kelly/Amazônia Real)



Dos varadouros de Porto Velho


A contaminação por metais tóxicos é grave em peixes consumidos pela população de Rondônia, e acima do limite recomendado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de acordo com estudo conduzido pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz), da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Greenpeace, Iepé, Instituto Socioambiental e WWF-Brasil.

Cerca de 26% das espécies de peixes que foram submetidos ao estudo, apresentaram índices de contaminação superiores aos recomendados pelas regras de saúde e sanitárias. A análise de risco apontou que a ingestão diária de mercúrio relacionada ao consumo de pescado, ultrapassa a dose aconselhada que vai de 6 até 27 vezes.

As amostras de peixes foram coletadas em mercados públicos, feiras livres e com pescadores entre março de 2021 e setembro de 2022. O estudo aconteceu em seis estados e 17 municípios da região Norte do Brasil. Os índices mais elevados de contaminação por mercúrio foram localizados em Roraima (40%), Acre (35,90%), Rondônia (26,10%), Amazonas (22,50%), Pará (15,80%), Amapá (11.40%) 

A atividade de mineração ilegal em garimpos da Amazônia é o principal dissipador do mercúrio e outros metais pesados que são tóxicos para o homem e a natureza no meio ambiente. O mercúrio é usado para separar o metal de sedimentos, que logo em seguida chega do mercado negro de joías internacionais. A construção de empreendimentos hidrelétricos, barragens para geração e energia, o agronegócio, as queimadas também são apontados como outros fatores que emitem na atmosfera mercúrio e outros contaminantes.

De 80 espécies de amostras de peixes (carnívoros e onívoros) submetidos à pesquisa em Rondônia, o Dourado (média: 1,81 μg/g) apresentou maior média, seguido do Filhote (média: 1,84 μg/g) e Babão (média: 2,87 μg/g). Nas amostras coletadas de Acará, Bacu e Pirapitinga os níveis de mercúrio foram próximos de zero, o que indica bom para consumo da população. O teor de 0,5 micrograma por grama é a quantidade de mercúrio indicado para ingestão, segundo a Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO/WHO) e a Agência de Vigilância Sanitária.

Os pesquisadores também estudaram como o mercúrio é consumido pela população. E revelaram que as mulheres em idade fértil ingeriram cerca de oito vezes mais mercúrio do que os homens. Já as crianças de dois até quatro anos consumiram 27 vezes mais que os adultos. Segundo dados de segurança estabelecidos pela agência de proteção ambiental norte-americana (U.S.EPA), em quase todos os estados da Amazônia há um risco elevado da população adoecer devido à intoxicação por consumo de peixes contaminados com o metal. 

O mercúrio é o terceiro metal mais perigoso e tóxico para a saúde humana. Afeta o sistema nervoso, e no caso de mulheres grávidas, pode causar má formação do feto. O “pau-de-balsa” (Ochroma pyramidale), considerado o mercúrio biológico é estudado nas universidades do Amazonas e de Rondônia, como alternativa para substituir produtos tóxicos na separação do ouro de sedimentos. A planta é cultivada no jardim da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e os estudos ganharam apoio da Fundação de Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa do Estado de Rondônia (Amparo). A pesquisa é o caminho para legalizar o garimpo, apesar de todos os danos causados ao meio ambiente e ao homem.

Hidrelétricas estão entre os propagadores do mercúrio na natureza (Foto: Santo Antônio Energia)
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